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terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Homenagem à batucada

No dia 2 de dezembro comemora-se o Dia Nacional do Samba. Na verdade, todo dia é dia de batucada. Mas, segundo informações da Academia do Samba, "a data ficou registrada por iniciativa do vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, o qual resolveu homenagear Ary Barroso. Ary já tinha composto seu sucesso "Na Baixa do Sapateiro", mas nunca havia posto os pés na Bahia. Esta foi a data que ele visitou Salvador pela primeira vez. Engraçado, não? A festa foi se espalhando pelo Brasil e virou uma comemoração nacional."

Em artigo assinado por Paulo Eduardo Neves, no site da Academia do Samba, pode-se obter mais informações . É só acessar, clicando no link acima.

A origem do samba

A palavra "semba" significa: dança popular da área de Luanda, na África. Dando origem a uma forma de pronuncia "abrasileirada" da palavra "samba". Ficando, desta forma, popularmente conhecido o gênero no Brasil.

Por ser de origem africana e ter forte influência da província de Luanda, há uma explicação lingüística para a escrita da palavra samba. Uma das línguas faladas em Angola é o quimbundo, e é justamente deste dialeto que sugere-se a formação de "sam" que significa "dar", e "ba" " que compreende-se por "receber" ou ainda, "coisa que cai".

Em 1916, a composição "Pelo Telefone" de Donga e Mauro de Almeida foi considerada o marco fundador do gênero. Porém, há comprovação de historiadores que outras gravações foram realizadas antes e também precisam ser reconhecidas.

Trecho da música "Pelo Telefone"

"O chefe da folia, pelo telefone manda avisar que com alegria não se questione para se brincar. Ai, ai, ai, deixa as mágoas para trás. ó rapaz! Ai, ai, ai, fica triste se és capaz, e verás, tomara que tu apanhes prá nunca mais fazer isso. Tirar amores dos outros e depois fazer feitiço..."

ALGUMAS JUSTAS HOMENAGENS

A estes que abaixo destaco e, a outros, que não estão aí, mas, nem por isso são menos importantes, o nosso muito obrigado.



"Bate outra vez
Com esperanças o meu coração. Ao amanhecer , ao anoitecer
Cantam em bando aves fazendo verão
Ouve-se os acordes de um violão
E são eles , verdes periquitos..." (Cartola)






"Não, não basta ter inspiração,
Não basta fazer uma linda canção
Pra cantar samba se precisa muito mais,
Samba é lamento, é sofrimento, é fuga dos meus..." (Candeia)



"Peguemos todas nossas coisas
E fomos pro meio da rua apreciá...
...Deus dá o frio, conforme o cobertô,
...E pra esquece, Nós cantemos assim!

Saudosa malóca
Malóca querida
Dindindonde nóis passemos
Os dias feliz, de nossa vida..." (Adoniram Barbosa)




"Tá legal,
Sem preconceito ou mania de passado
Sem querer ficar do lado de quem não quer navegar
Faça como o velho marinheiro
Que durante o nevoeiro, leva o barco devagar!" (Paulinho da Viola)





"..E curtir a madrugada
Toco viola, cavaquinho e violão
E sempre fui enamorada do sambão
É sambão, sambão
Graças a Deus eu sei cantar
Pro meu povão" (Beth Carvalho)



"Numa solução para a depressão, fui ao violão
Fiz alguns acordes
Mas pela desordem
Do meu coração, não foi mole não
Quase que sofri desilusão..." (Jovelina Pérola Negra)





"Eh, vida boa
Quanto tempo faz
Que felicidade!
E que vontade de tocar viola de verdade
E de fazer canções como as que fez meu pai..." (João Nogueira)



"Um dia, tu fostes à Lapa ver a malandragem
Perdeste o tempo e a viagem
Como teu samba diz
Eu fui à Portela ver os meus sambistas
Mas consultando a minha lista
Também não fui feliz" (Monarco)






"Eu já vivi muito tempo
E vou viver muito mais
Já vi coisa nessa vida
De fazer cair pra trás..." (Roberto Ribeiro)





"...O samba que desde a origem é arte
Das coisas boas da vida é parte" (Luis Carlos da Vila)

domingo, 30 de novembro de 2008

Santa Catarina no meio da tormenta

A cada dia os meios de comunicação atualizam o número de mortos na tragédia que abalou o estado de Santa Catarina. A informação é de que já passam de 100 pessoas mortas e o governo decretou estado de emergência em 51 cidades. Segundo o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), a média de chuva, na última semana, equivale a estimativa para o ano inteiro.

Há mais de 90 dias chove continuamente no estado. As autoridades procuram fazer a sua parte. Semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma Medida Provisória destinando recursos na ordem de R$ 1,6 bilhão. O Tesouro Nacional fez um aporte de R$ 370 milhões ao governo catarinense, por meio de títulos, e a sociedade civil também está empenhada em ajudar as vítimas de todas as formas que julga possível.

A mídia e a enchente

Os meios de comunicação brasileiros estão se especializando no que o jornalista José Arbex Jr costuma chamar de showrnalismo. Lamentavelmente não se contentam em fazer apenas a cobertura dos fatos. Por certo campanhas de solidariedade e ajuda às vítimas não caracteriza, em si, um apelo ao sentimentalismo, mas o problema aparece quando, ansiosos em conquistar pontos no ibope, entra em cena o "vale tudo" pela audiência. Não é raro, principalmente em programas de TV, a exploração do sofrimento das pessoas e o oportunismo de algumas emissoras, diga-se de passagem, em especial da Rede Record, aproveitando-se da situação na tentativa de ligar a sua imagem à uma ação socialmente responsável.

Surge, portanto, um discurso que beira o oportunismo. Semana passada a Rede Record lançou uma campanha para arrecadar dinheiro e destiná-lo à reconstrução das casas destruídas.

"Além das doações, que estão sendo recebidas por meio de uma conta do Instituto Ressoar (Bradesco), a Record irá destinar a maior parte de seu faturamento de dezembro e 15% dos salários de seus executivos para a causa", revelou o vice-presidente comercial da emissora, Walter Zagari, ao site propmark (Propaganda & Marketing).

É importante que as empresas de comunicação brasileiras, donas de receitas milionárias, estejam engajadas em práticas como essa. É de igual relevância o envolvimento em campanhas de marketing com intuito de colaborar, de alguma forma, com os problemas sociais do povo brasileiro, mas a questão é: - o que os meios de comunicação querem de retorno da sociedade? Obter o reconhecimento de uma imagem empresarial competitiva e socialmente responsável?

É preciso questionar os interesses que levam uma emissora de abrangência nacional a formatar reportagens onde os diretores da empresa são os protagonistas da matéria e repórteres entrevistam seus superiores. Comovidos eles circulam em meio ao palco da tragédia. Famílias perderam tudo, pessoas humildes mostram as conseqüências do desastre. As lentes das câmeras encontram as lágrimas das pessoas e, lá estão eles, todos reunidos, vítimas e seus "heróis midiáticos". Ninguém é contra que se ajude as vítimas da enchente, muito pelo contrário, mas isso não dá o direito de se explorar o sofrimento das pessoas para transformar tragédias pessoais em picos de audiência.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Mito da Caverna

Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa.

Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que estão no escuro e imobilizados.

Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches.

Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.

Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.

Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.

Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo a realidade?

* Esse texto, também chamado de "Alegoria da Caverna", faz parte da obra "A República" (livro VII), de Platão.

Provocações

Por Luis Fernando Veríssimo

A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.

Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.

Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

- Violência, não!

*Essa postagem é dedicada aos movimentos sociais que tanto têm sofrido discriminação por parte do governo do estado do Rio Grande do Sul!

Diga não a criminalização dos movimentos sociais!

A terra é um direito de todos! Reforma Agrária já!

Literatura nua e crua: a poesia do velho safado

Intrepretar a realidade é uma questão de ponto de vista. Pois bem, tem um cara que, através da literatura, consiguiu transformar em arte e poesia marginal tudo o que estava ao seu redor.

Falo de um grande escritor norte-americano que marcou e, ainda marca, gerações de jovens do mundo todo com a sua habilidade especial em buscar no profano a mais pura tradução de uma realidade suja, mas, que, ao mesmo tempo, é pura, crua e, portanto, poética.

Charles Bukowski nasceu em 16 de agosto, de 1920, em Andernach - Alemanha. Durante a sua infância foi morar nos EUA, lá criou-se em meio a pobreza de Los Angeles e construiu diversas obras literárias. Por meio da autobiografia e, repleto de criações bem elaboradas, seus personagens nos conectam a uma vida sem maquiagens.

O mais impressionante neste escritor é como foi competente em traduzir, de forma simples e direta, temas como: sexo, alcoolismo, prostituição, violência, miséria, vadiagem, pobreza, falta de perspectiva profissional e diversas questões políticas.

Não tem como se esconder do "velho safado", ele está dentro de cada leitor. Há quem prefira esconder-se de si mesmo, mas, este, certamente não é o caso de Bukowski e não pode ser a premissa do leitor de sua obra.

O autor publicou em vida oito livros de contos e histórias. Morreu de pneumonia, no dia 9 de março de 1994, aos 73 anos de idade.

Quem não leu Misto-quente não leu Bukowiski!!!

Para começar a se aventurar no submundo desta literatua marginal e poética, é interessante conhecer o personagem Henri Chinaski. No livro Misto-Quente, romance de formação, que contém toques autobiográficos, Bukowski desnuda a realidade de quem cresceu nos EUA, durante a recessão, pós-1929.

O livro foi publiado originalmente em 1982 e "cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX". (Trecho de apresentação do livro publicado pelaL&PM POCKET)


Acesse também o link do livro: CHARLES BUKOWSKI - Vida e Loucuras de um Velho Safado

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Diálogos

Existem coisas que falamos, outras não. É como se houvessem dois mundos habitando dentro de cada um de nós. Esses mundos às vezes se encontram, mas, na maioria dos casos, estão isolados. De cada mil coisas possíveis de se fazer no lapso de um instante podemos escolher apenas uma. Assim, deixamos para trás infinitas possibilidades. A opção escolhida é única, mas não "a única".

Quanto aos mundos, queria falar sobre cada um separadamente. Habitam, em nós, sentimentos e atmosferas de vida. Cada território explorado dedica-se a uma experiência diferente. As mais difíceis escolhas e situações passam, necessariamente, pelo "mundo de baixo", aquele que sabemos onde fica, mas preferimos não desbravá-lo por medo. Quiçá lá estejam as pessoas, as coisas, os lugares e as vidas que nos levaram a entrar em contato com o "mundo de cima".

O "mundo de cima" não é, no entanto, um mundo superior. O fato de estar em cima é só para dar a distância exata entre os dois. Sua posição não o qualifica como superior ao “mundo de baixo". Na verdade, ambos são importantes, mas as memórias, as vidas e os prazeres de cada mundo não costumam mudar definitivamente de lugar. Existem em cada mundo separadamente e parecem acomodadas lá, seja qual for a coordenada interior.

Portanto, antes de julgarmos a nós mesmos, ao mundo e a vida, é preciso saber de onde vem essa moral interior. É verdade que ela possa ter percorrido os dois mundos e, por isso, sente-se pronta para voar de dentro de nossas almas atingindo o terceiro mundo, "o mundo exterior", mas, este, não é como os outros dois. Os dois primeiros são internos e, por isso, podem constantemente mudar suas perspectivas.

O "mundo exterior” é onde moram os sentimentos, lugares, vidas e situações capazes de dialogar com outros mundos interiores de outras pessoas, outros universos e diferentes atmosferas de vida. Se levarmos em consideração que, cada um de nós, possui, ao menos, dois mundos interiores, o "mundo exterior" torna-se o campo de convergência entre as expressões pessoais de diversos mundos interiores, mas, de fato, somos todos humanos e o mundo em que vivemos é um só. O que faremos com este mundo é problema de cada um e seremos eternamente responsáveis por nossos atos ou omissões.

Nesse sentido, como dizem os poetas e filósofos, "não importa aquilo que fizeram com você, mas sim aquilo que você faz com o aquilo que fizeram com você". Se não olharmos para o mundo exterior e sintonizarmos este mundo com as nossas atmosferas pessoais estaremos sempre fadados a perder o rumo. Não perde o rumo, contudo, quem sabe que, para além das escolhas pessoais está o interesse coletivo. É aí que nos encontraremo,s marchando juntos em direção a escolha por um mundo melhor.

Um lugar onde crianças não disputam restos de comida com cachorros. Homens e mulheres não sucumbem a fadiga e a miséria pela longa e desumana jornada de trabalho. Pessoas são tratadas como tal, pelo simples fato de serem humanas e não pelas suas convicções políticas, escolhas sexuais, etnias ou poder aquisitivo. É neste "mundo convergente" que os jovens sentirão prazer em ouvir os mais velhos. E, estes últimos, também saberão da importância de ouvirem os mais novos.

Um lugar onde crianças têm o direito de brincar de mãe, antes de serem usadas para se transformarem em tais. Onde meninos não precisam mostrar para seus pais que são homens, agindo de forma machista e preconceituosa. Onde homens e mulheres têm os mesmos direitos, deveres e responsabilidades, mas respeitam as diferenças e valorizam a diversidade. Um lugar onde não haverá sentimento de posse, nem de pertença, pois saberemos respeitar o espaço dos outros. Um mundo sem escalas de valor e, muito menos, hierarquia. Neste mundo, ainda possível, a burocracia será aniquilada, os seres humanos serão capazes de viver e terão tempo de olhar para dentro de si e refletir sobre cada um dos mundos que os habitam. Não morrerão sem nunca antes terem tido a oportunidade de desbravá-los e saberão o omento certo de dizer adeus.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Salve Mestre Pastinha


Maior é Deus
Maior é Deus, pequeno sou eu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
Na roda da capoeira
(Hahá!) Grande e pequeno sou eu
CamaráÂ…

No dia 13 de novembro, de 1981, morreu, em Salvador-BA, aos 92 anos de idade, o mestre Pastinha. Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de Abril de 1889. Ele dedicou toda sua vida à arte da capoeira. Filho da capoeira mãe, a capoeira angola, Pastinha segue abençoando os capoeiristas nas rodas da vida.


A história da capoeira e a vida de Pastinha se confundem

(Com informações do Centro de Midia Independente e do site Sua Pesquisa.com)

Foi Benedito, um ex-escravo de origem angolana, que ensinou os primeiros passos de capoeira à Pastinha. Um depoimento do mestre, amplamente divulgado em livros e na mídia, descreve um pouco da infância de Pastinha:

"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza."

"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse (o velho era Benedito) e eu fui".

Referindo-se aos ensinamentos de Benedito, Pastinha ressaltava: "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (...). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito..."

*O que é a Capoeira Angola? "Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa, não é perversa. É um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda." (Mestre Pastinha).

A capoeira no Brasil

No século XVI, época em que o Brasil era colônia de Portugal e a mão-de-obra escrava africana era utilizada no país, os escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Ao chegarem por aqui, os africanos desenvolveram formas de proteção contra a violência cometida pelos colonizadores europeus.

Mesmo que os escravos fossem proibidos de praticar todo tipo de luta, incorporaram os ritmos e os movimentos das danças africanas a um estilo de arte marcial. Surge, assim, a capoeira. Há quem pergunte, até hoje, o que é capoeira? Uma dança? Uma luta? Na verdade, este instrumento de resistência cultural e física dos escravos brasileiros manteve viva a cultura e as tradições africanas, incorporando, ainda, elementos da própria natureza e do contexto em que os escravos viviam. Se parece mais com um jogo, onde dança e luta se misturam, num diálogo de corpos.

"Capoeira é tudo que a boca come"

A prática da capoeira ficou proibida durante muitos anos, pois era vista como uma atividade violenta e subversiva. Nessa época, a polícia recebia orientações para prender os capoeiristas. Somente em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, criador da capoeira Regional, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O mandatário brasileiro gostou do que viu e logo a transformou em esporte nacional brasileiro.

Em 1941, mestre Pastinha registrou o Centro Esportivo de Capoeira de Angola no Pelourinho. Lá foram formados grandes mestres da capoeira como: Mestre João Pequeno, Mestre João Grande, Mestre Curió, Mestre Morais, entre outros. Em 1978, com 88 anos, mestre Pastinha perdeu a visão. Ele só continuou praticando capoeira porque era guiado pelos olhos de seus discípulos. Mesmo cego Pastinha seguiu conduzindo as rodas por alguns anos.

Despejado de sua academia, ele morreu em 13 de Abril de 1981, momento no qual a capoeira passou a ser reconhecida como fenômeno cultural.

Homenagem ao mestre, homenagem à capoeira, homenagem à vida...

Jogar capoeira é viver a história. É dialogar com seus pares numa roda de iguais. Não há pai, não há mãe, nem irmãos, ou, companheira. São dois corpos, duas almas. Há uma roda, um grito, um lamento. Ouve-se a ladainha. Ainda não existe o contato físico, mas se inicia a conexão espiritual. Entram em jogo concepções de mundo, de vida, de arte, de história.

São homens e mulheres, hoje livres. Capazes de atacar e esquivar; de fazer que vai, mas não vai, fazer que vem, mas não vem. "É jogo de dentro, jogo de fora. Jogo bonito, esse jogo é de Angola". Capoeira é a arte de nossos ancestrais. É a prova de que nossas raízes resistem as mudanças do tempo e permanecem fincadas na terra. Delas brotam e renascem, em nós, espíritos da resistência à escravidão.

É o mais perto do chão e do céu que se pode chegar. É a arte de cair e levantar. É a arte de aprender a viver. De aprender a respeitar os mais velhos e ensinar os mais novos. Como pressupõe todo o convívio entre iguais.

Iê! A volta que mundo deu. Iê! A volta que o mundo dá...

Viva mestre Pastinha!

Viva a capoeira angola!

Viva a cultura brasileira!




"Quando eu aqui cheguei a todos vim louvar, vim louvar a Deus primeiro morador desse lugar, agora eu tô cantando, cantando dando louvor, tô louvando a jesus cristo por que nos abençoou, tô louvando e tô rogando ao pai que nos criou, abençoe essa cidade com todos seus morador e na roda de capoeira abeçoe os jogador, camaradinha, que vai fazer? Iê, que vai fazer camará..." (Ladainha cantada por Mestre Pastinha).


“A sabedoria nunca foi demais, é inconcebível ao mais sábio dos mestres”

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Sobre viver" ou "sobreviver" a leitura...

Há várias formas de leitura. Há leitura que é de vida e precisa ser vivida, e há, também, as leituras de fé, leitura daquilo que é, mas não é.

Interpretar um texto é decodificar a alma do autor. É tentar compreender o mundo que ele vê. Ampliar horizontes, desbravar locais nunca antes habitados, ou, pelo menos, nunca antes vistos com tais olhos. Ao dedicar alguns minutos à leitura, entramos em contato com uma nova forma de ver a realidade. A cada nova leitura, mesmo se tratando do mesmo texto, dialogamos com novas perspectivas.

Não se trata de trazer à tona o velho e desgastado discurso do poder ou da importância da leitura. Desde pequenos temos, menos, ou mais, contato com ela. Esse contato pode ser mágico, mas, também, pode ser catastrófico. É como o próprio contato com a realidade. Aliás, é um contato com a realidade, apresentada em verso e prosa.

Cabe a cada leitor achar o seu "eu" nas linhas grafadas. Buscar a sua própria maneira de ler, sua identidade. A leitura chama a atenção porque permite formar consciência, seja crítica ou bitolada. É motivadora e pode, até mesmo, ser revolucionária. Por vezes te deixa indignado. Em outros momentos, dá um tremendo sono.

Ela é como o próprio nome diz: apresenta-se como “LEI”, mas, TU, é que, iRÁs, ou não, fazê-la ser agradável em tua vida. Cada leitor determina a forma dessa “LEI” interferir em sua atividade política e social. Por essas e por outras é que a velha máxima: "ler é importante" deveria ser mudada para "saber ler é importante". De nada adianta obrigar alguém a ler o que não está afim. Em algumas escolas ocorrem erros crassos, em função da disciplina. Se o aluno não vai a aula porque ficou em casa lendo um bom livro é punido. O importante não é aprender coisas que lhe interessem e sim obedecer.

Precisamos exercitar, todos os dias, a nossa capacidade de SABER LER A VIDA. Rabiscá-la em folhas de papel. Despretenciosamente...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

O DIREITO DE SONHAR

Por: Eduardo Galeano

Tente adivinhar como será o mundo depois do ano 2000. Temos apenas uma única certeza: se estivermos vivos, teremos virado gente do século passado. Pior ainda, gente do milênio passado.

Sonhar não faz parte dos trinta direitos humanos que as Nações Unidas proclamaram no final de 1948. Mas, se não fosse por causa do direito de sonhar e pela água que dele jorra, a maior parte dos direitos morreria de sede.

Deliremos, pois, por um instante. O mundo, que hoje está de pernas para o ar, vai ter de novo os pés no chão.

Nas ruas e avenidas, carros vão ser atropelados por cachorros.

O ar será puro, sem o veneno dos canos de descarga, e vai existir apenas a contaminação que emana dos medos humanos e das humanas paixões.

O povo não será guiado pelos carros, nem programado pelo computador, nem comprado pelo supermercado, nem visto pela TV.

A TV vai deixar de ser o mais importante membro da família, para ser tratada como um ferro de passar ou uma máquina de lavar roupas.

Vamos trabalhar para viver, em vez de viver para trabalhar.

Em nenhum país do mundo os jovens vão ser presos por contestar o serviço militar. Serão encarcerados apenas os quiserem se alistar.

Os economistas não chamarão de nível de vida o nível de consumo, nem de qualidade de vida a quantidade de coisas.

Os cozinheiros não vão mais acreditar que as lagostas gostam de ser servidas vivas.

Os historiadores não vão mais acreditar que os países gostem de ser invadidos.

Os políticos não vão mais acreditar que os pobres gostem de encher a barriga de promessas.

O mundo não vai estar mais em guerra contra os pobres, mas contra a pobreza. E a indústria militar não vai ter outra saída senão declarar falência, para sempre.

Ninguém vai morrer de fome, porque não haverá ninguém morrendo de indigestão.

Os meninos de rua não vão ser tratados como se fossem lixo, porque não vão existir meninos de rua.

Os meninos ricos não vão ser tratados como se fossem dinheiro, porque não vão existir meninos ricos.

A educação não vai ser um privilégio de quem pode pagar por ela.

A polícia não vai ser a maldição de quem não pode comprá-la.

Justiça e liberdade, gêmeas siamesas condenadas a viver separadas, vão estar de novo unidas, bem juntinhas, ombro a ombro.

Uma mulher - negra - vai ser presidente do Brasil, e outra - negra - vai ser presidente dos Estados Unidos. Uma mulher indígena vai governar a Guatemala e outra, o Peru.

Na Argentina, as loucas da Praça de Maio vão virar exemplo de sanidade mental, porque se negaram a esquecer, em tempos de amnésia obrigatória.

A Santa Madre Igreja vai corrigir alguns erros das Tábuas de Moisés. O sexto mandamento vai ordenar: "Festejarás o corpo". E o nono, que desconfia do desejo, vai declará-lo sacro.

A Igreja vai ditar ainda um décimo-primeiro mandamento, do qual o Senhor se esqueceu: "Amarás a natureza, da qual fazes parte".

Todos os penitentes vão virar celebrantes, e não vai haver noite que não seja vivida como se fosse a última, nem dia que não seja vivido como se fosse o primeiro.

sábado, 18 de outubro de 2008

A relação da mídia com as siglas partidárias

Falta esclarecimento, mas sobra adulação ao político na hora do voto. Posicionar-se frente aos jogos de poder das siglas partidárias tornou-se um desafio. A sociedade, perdida e desinformada, é uma presa fácil para bajulações, trocas de favores e diversas outras estratégias desprezíveis utilizadas pelos candidatos, na busca afoita em chegar ao poder.

Desde a promulgação da constituinte de 1988, o Brasil passou a contar com uma infinidade de siglas partidárias, as quais representam, ou, pelo menos, "deveriam representar", a diversidade política e ideológica dos projetos existentes para o país.

É histórico esse processo, hoje, naturalizado no cenário nacional. Durante a ditadura militar, por meio da Lei Falcão, surgiu, no Brasil, duas siglas partidárias: a Arena - Aliança Renovadora Nacional - (criada com o objetivo de apoiar o regime) e o MDB - Movimento Democrático Brasileiro - (que fazia oposição ao regime, mas era, até certo ponto, controlada por ele)

Na década de 1980, vários partidos surgiram e outros saíram da clandestinidade, formando, assim, a atual conjuntura político-partidária brasileira. Para o professor de comunicação da PUC - RS, Osvaldo Biz, "ao longo da história do Brasil os partidos nunca tiveram um reconhecimento do público". Fator, esse, determinante para o não reconhecimento e a falta de identificação ideológica entre o candidato e a legenda que ele representa.

Um dos pontos centrais da discussão em torno da Reforma Política diz respeito, justamente, a fidelidade partidária. Os defensores da liberdade de consciência, na qual o político deve agir de acordo com as suas próprias convicções, e pode, dessa forma, entrar e sair de um partido sem necessariamente ser fiel ao programa, demonstra o quão grave se torna o voto destinado ao candidato, ao invés de se privilegiar o partido.

Não são raros os casos de políticos que mudam de uma sigla para outra, com a única intenção de atingir o poder. Essa troca desenfreada de legenda, corrobora com a falácia de que os "políticos são todos iguais". Biz, ressalta a existência de uma pequena legislação a caminho, a qual determina: "se o político mudar de partido, perde o mandato". Para o professor da PUC, grande parte das pessoas não têm consciência da importância do voto ideológico. Segundo ele, há uma relação de pouco apreço aos partidos, "ou, porque eles nascem de cima para baixo e a população não participa de suas formações, ou porque, as idéias giram em torno de um líder, o qual consegue ter ascendência sobre os outros, ou seja, os militantes seguem sem conhecimento do que o partido deseja, o que ele defende e qual é a sua proposta de fato"

"No Brasil ainda não temos partidos que possuam uma proposta clara e lutem para chegar ao poder com a intenção de colocar em prática seus programas. Hoje, são mais de 22 partidos registrados no TRE e as pessoas se perguntam: - o que diferencia um partido de direita para um de esquerda? Ou mesmo dois partidos de esquerda. Tudo isso leva a confusão na mente do eleitor, o que gera essa triste realidade eleitoral", ressalta Biz.

As constatações feitas pelo professor da PUC deixam claro que a mídia não faz uma análise sobre o papel do partido, do que ele representa. "A sociedade é privada das principais informações. É só prestar atenção no enfoque dos veículos de comunicação durante as campanhas eleitorais. O principal, para os "grandes meios de comunicação", é divulgar pesquisas de intenção de voto e mostrar aos espectadores quem está na frente", destaca Biz. Isso é mais uma forma de induzir o eleitor a votar em determinado candidato, excluindo novas possibilidades. A idéia proposta pela imprensa é de que a disputa já está definida. O eleitor poderá "jogar seu voto fora", caso não escolha os que estão a frente do processo.

Para o pesquisador, a mídia poderia fazer um trabalho maravilhoso de esclarecimento. Bastava chamar o eleitor, publicar qual a constituição dos partidos, o que cada um deles defende, a sua legislação, o seu programa. Atualmente, são 527 jornais no Brasil, com tiragem total de 7 milhões de exemplares. Segundo uma regra utilizada nas faculdades de comunicação, são cerca de 4 leitores para cada um dos jornais publicados. Portanto, são 28 milhões de pessoas que lêem jornais. "Mas, e os outros 150 milhões?", indaga.

Sem conhecer nada do partido, os votos acabam sendo concedidos pela amizade estabelecida com o candidato, ou, então, porque o aspirante ao cargo negocia votos em troca de benécies. Isso, além de ser ilegal, é uma lástima para a democracia. Ganha quem chegar mais rápido no potencial eleitor, for capaz de conseguir mais aliados e se tratar de um exímio negociante. Infelizmente, estas estratégias nada têm a ver com a capacidade de governar para todos, por todos e com todos.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

E não é que a chama teima em não se apagar?

Revolucionar a si mesmo, dia-a-dia, sem tombar diante das adversidades, visando construir uma sociedade livre e igualitária. Eis o desafio que se apresenta aos militantes das causas sociais.

Em tempo, cabe lembrar de um cara que andou pela América Latina há mais de quatro décadas. Ele jamais se deixou abater diante das dificuldades e não se submeteu a um cargo burocrático, após, junto de seu companheiro de luta, Fidel Castro, ter derrubado o governo ditatorial de Fugêncio Batista, em Cuba. Trata-se de Ernesto Che Guevara.



"Muitos dirão que sou aventureiro, eu sou de fato, só que de um tipo diferente, daqueles que entregam a pele para demonstrar suas verdades", disse Che Guevara antes de partir para sua última trincheira de luta.

Que legado terá deixado Che, após 41 anos de seu assassinato nas selvas da Bolívia?

Estava movido por uma ânsia de liberdade. Sentimento que deveria acompanhar todo aquele que se diz revolucionário. Muitos ainda acreditam que Che vive, outros, dão-lhe como um morto capaz de ressurgir apenas através da indústria da cultura, estampado em camisetas e pôsters.

Certamente ele ainda vive. Está presente em sentimentos altruístas, na busca de justiça e igualdade social. Vive muito mais em olhares que sobrevoam as místicas instâncias de poder, do que nos conchavos espúrios, responsáveis por desestimular a militância, consagrando os adversários como aliados. No Brasil, a chamada esquerda, expressa em partidos por hora governistas, parece ter tomado uma ducha de água fria. Não obstante, a chama capaz de inflamar os corações e as mentes dos inconformados segue acesa. Altiva e firme, como o guerrilheiro, que, diante de seu algóz, não hesitou. Viva ela está, e, viva ela estará, por meio das organizações sociais, dos movimentos libertários e das lutas diárias de camponeses, índios, negros, mulheres e trabalhadores.

Feridos? Talvez. Mortos? Jamais!

Como desistir da utopia diante de tamanha injustiça social? De tamanha exploração dos povos latino-americanos. Movimentos polítcos que estão surgindo em toda a América Latina, finalmente, parecem contrapor-se, mesmo que pela via institucional, ao modelo de subserviência historicamente imposto pelos EUA. Países como Brasil, Argenteina, Uruguai, Equador, Chile, Venezuela e Bolívia não são os mesmos de 40 anos atrás. No entanto, ainda clamam por uma organização popular que privilegie a base.

O socialismo nunca esteve tão presente, ou, pelo menos, suas interpretações e conseqüentes políticas sociais nunca foram tão urgentes, como nos dias de hoje. Embora sejam poucos os que, realmente, desejam construir alternativas ao modelo neoliberal, por intermédio dos governos legalmente constituídos.

Nem todos conseguem deixar as vaidades e a disputa por espaços políticos de lado. Deixar de assumir a posição confortável de burocrata, em meio à governabilidade, para lançar-se à "selva" capitalista, procurando minar as estruturas de poder. Como outrora o fez Che Guevara.

Mesmo assim, após 41 anos, a chama teima em acender. Embora a maioria acredite que ela não possui mais forças para queimar. Talvez, estes mesmos, sejam os que dela se aqueceram em outras épocas, mas, hoje, preferem apenas referendá-la através do discurso fácil, quando objetivam promover seus projetos pessoais. Há tempos deixaram de ser agentes da transformação social, viraram meros burocratas subservientes ao poder do capital financeiro. Os revolucionários de bol$o, ou, de oca$ião, também podem ser caracterizados como "revolucionários de garganta". Afinal, nem todos estão dispostos a entregar a sua vida pela liberdade de qualquer um dos países da América Latina, sem pedir nada a ninguém.


Ainda há os que tremem de indignação sempre que se comete uma injustiça no mundo, companheiro.

Hasta la vitória, siempre!

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Devemos abandonar a voz dos outros

Existem diversas formas de dominação humana. Algumas mais sutis, outras nem tanto. O fato é que, uma linguagem escravizada, é traduzida em preceitos absurdos, onde classes inteiras são dominadas e julgadas inferiores pelos lingüistas de plantão.

Há uma infinidade de preconceitos lingüísticos. Eles estão impregnados no falar ou no escrever de cada brasileiro. O princípio da dominação está em não permitir a expressão popular. Inculcar, desde pequeno, em todas as crianças, como devem falar. Precisam seguir o exemplo dos mais velhos, dos letrados ou daqueles que aparecem na televisão.

A explicação para isso é histórica. Língua tem a ver com relação de poder. Exemplos clássicos, citados no livro Linguagem Escravizada, de Mário Maestri e Florence Carboni, destacam a importância da reflexão sobre esse tema. A palavra "moleque," que no português passou a ter sentido de "menino levado, travesso, menino de rua", é de origem quibunda e surgiu em Angola, onde a maioria étnica é negra e o signifcado é, tão somente, menino.

Há outros exemplos, como a palavra "maloca", aldeia da tribo tupi-guarani, que, hoje em dia, é entendida como o local onde residem as populações pobres. A palavra "china", de origem nativa, remete, erroneamente, a figura da mulher prostituída. Expressão que é muito empregada no Sul do país, com a intenção de denegrir a imagem de uma mulher.

Essa dominação lingüística e esse preconceito enraizado e cruel, reforçado pelas classes que estão no poder, colaboram para a reafirmação de esteriótipos. No espaço de dominação cultural, política e econômica, o uso da língua deixa de ser público e assume contornos de opressão social.

O tal "padrão culto" está a serviço de alguém. Isso é fato. Meios de comunicação, escolas, famílias, todas essas instituições aceitam o padrão dominante. Esquecem a origem das palavras, as variações lingüísticas e, principalmente, a diversidade cultural dos povos latino-americanos.

Somos todos escravos. Trabalhadores, estudantes, negros, brancos, mestiços, pobres e, até mesmo, ricos. Libertar-se das imposições culturais não resume-se a travar disputas em âmbito econômico, pois, na esfera da vida privada, constantemente é reproduzido o ódio de classe e o preconceito lingüístico. Superar esta etapa de dominação, expressa pelo modo de se comunicar, implica em reconhecer quando deixamos de falar por meio de nossas próprias construções mentais e, nessa direção, assumimos a postura de reprodutores da linguagem dominante.

"A sufocação dos timbres, das vozes e das línguas dos oprimidos é a condição essencial para a manutenção da hegemonia dos opressores" (Citação de Mário Maestri em Linguagem escravizada).

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Allende e Chávez: a luta contra o Império

No dia 11 de setembro, de 1973, o então presidente do Chile, Salvador Allende, eleito democraticamente em 1970, foi assassinado no Palácio de La Moneda. A partir daí o país passou a viver sobre o regime militar, chefiado pelo general Augusto Pinochet. Faz 35 anos que esse golpe ocorreu e, com ele, milhares foram mortos, presos ou torturados. Seus crimes? Trabalhar para a construção de uma sociedade mais justa, baseada em um sistema econômico capaz de realizar reformas importantes para diminuir as desigualdades sociais. Em outras palavras: promover uma melhora significativa na vida da classe trabalhadora, tanto do campo quanto da cidade.


E as revoluções atuais?

Um governo popular, socialista, é visto como um perigo para o desenvolvimento da economia mundial. Um exemplo recente na América Latina é o de Hugo Chavez. Com uma política de nacionalização dos recursos naturais na Venezuela, leia-se, principalmente, do petróleo. Chavez age a despeito do ciclo colonizador do EUA, posto em prática há décadas. Sua postura contrária aos desmandes do sistema capitalista, está fazendo ressurgir discursos fascistas.

Allende e Chavez

Guardado o contexto histórico de cada personagem, Chavez, assim como Allende, está nadando contra a correnteza. Embora as forças conservadoras procurem taxar o Chefe de Estado venezuelano de terrorista - como o fizeram, ao longo de toda sua história com aqueles que se contrapuseram a sua lógica colonialista - percebe-se um avanço significativo para a democracia. Fica evidente que, com a recente reestatização da Sidor, a Venezuela dá um passo importante em defesa das riquezas naturais de seu país.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Reduzindo danos e prolongando vidas

Trabalho desenvolvido pelo SUS busca a reinserção de usuários de drogas no convívio social.

Diminuir o agravo físico, psíquico e social, provocados pelo uso abusivo de drogas, e resgatar socialmente os dependentes químicos. Esse é o principal objetivo do PRD (Programa de Redução de Danos), estratégia traçada pelo Ministério da Saúde com a intenção de prevenir a disseminação da Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis entre usuários de drogas. O serviço não exige do usuário abstinência para ajudá-lo a enfrentar a situação e faz encaminhamentos ao SUS (Sistema Único de Saúde), quando o usuário escolher parar com o consumo da substância.

O Assistente de Coordenação do PRD em Pelotas, Gilberto Goulart, explica que é feito um mapeamento dos bairros para saber de que local está vindo a maior parte das solicitações de tratamento. “Não esperamos que os usuários venham nos procurar, vamos até eles”. De segunda à sexta, das 18h30 às 21h, os redutores de danos atuam dentro das comunidades. “A gente chega nas rodas de conversa, falamos com as pessoas que estão transitando nas ruas e procuramos usar a linguagem corrente do bairro, evitando termos técnicos para a comunicação fluir melhor”, diz Goulart.

A Supervisora de Campo do PRD, Silvia Martins, explica que o programa respeita o livre arbítrio. “Vamos até o usuário para conversar, dar atenção, sempre respeitando as liberdades individuais e orientando sobre os riscos que eles estão correndo. A informação tem que chegar até a comunidade, mas o nosso trabalho não prega abstinência dentro do bairro, é uma opção da pessoa, se ela quer uma ajuda ou não”, ressalta. “Como o nosso trabalho baseia-se na livre opção de escolhas, pode-se enxergar o PRD como se fosse uma ponte, os alicerces para isso são formados pelos serviços de saúde pública que estão sendo prestados, mas, atravessá-la, é uma opção de cada um”, destaca Goulart.

Segundo João (nome fictício), 26 anos, o PRD contribuiu para uma melhora considerável na sua qualidade de vida. Ele conta que, quando fazia uso de drogas injetáveis, não tinha informações sobre o risco de contaminação pelo compartilhamento do equipamento e, tampouco, conhecia o tratamento através da redução do consumo, com o objetivo de diminuir os agravos à saúde. “Tomei vacinas e fiz os testes de Hepatite e HIV. Isso fez com que eu tomasse mais cuidados com a minha vida”, diz.

O redutor de danos, Daniel Martins, diz que é preciso saber diferenciar e identificar alguns fatores que contribuem para risco no uso de drogas. “Transtornos psíquicos, crise de identidade cultural, social e familiar, preconceitos e problemas sociais são determinantes para agravar o quadro. Existem muitos mitos, medos e crenças, é preciso saber diferenciar e enfrentar o problema relacionado ao uso de drogas dentro das suas especificidades”, destaca o redutor. Para ele, o usuário tem que ser o protagonista do tratamento. “O plano é individual, não pode ser imposto, o usuário tem que participar desse planejamento”.

O PRD fica localizado na rua Lobo da Costa n° 1764, no pátio interno da Secretária Municipal de Saúde. O horário de atendimento é das 12h30 às 18h30. Telefone: (53) 3284-7711.

domingo, 31 de agosto de 2008

Raduan Nassar e o choque da realidade

É preciso preparar o terreno antes de entrar em contato com as histórias de Raduan Nassar. Esse grande escritor da literatura brasileira produziu apenas três obras, mas foi o suficiente para torná-lo inesquecível. Talvez sejam mais conhecidas as versões cinematográficas de seus livros, contudo Nassar pode ser considerado, sem dúvida alguma, um grande autor.

Em Lavoura arcaica os conflitos familiares são tratados de forma lírica. Mas não se pode julgar apenas como poética a forma com que o jovem André narra sua fuga e seu retorno ao seio da família. "O tempo brincava comigo, o tempo se espreguiçava provocadoramente, era um tempo só de esperas, me guardando na casa velha por dias inteiros... ", conta o jovem que foge da fazenda onde morava com seus pais e irmãos para lançar-se numa fuga de si mesmo.



Por meio de relações incestuosas e, consequentemente, conflituosas, os valores morais são desafiados, um a um, neste belo romance. A tragédia se anuncia quando a instituição familiar é destruída por um ato vil provocado pelos membros da mesma estirpe. Não cabe aqui contar toda a história. Lendo você poderá tirar suas próprias conclusões sobre a obra.

No entanto, preste bem atenção caso queira mergulhar nesta incrível história "... deve sentar-se num banco, plantar um dos pés no chão, curvar a espinha, fincar o cotovelo do braço no joelho, e, depois, na altura do queixo, apoiar a cabeça no dorso da mão, e com os olhos amenos assistir os movimentos do sol e das chuvas e dos ventos, e com os mesmos olhos amenos assistir a manipulação misteriosa de outras ferramentas que o tempo habilmente emprega em suas transformações..."

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Para pensar...

Abaixo um poema de Jorge de Lima, poeta brasileiro falecido em 15 de novembro de 1953

O mundo do menino impossível

Por Jorge de Lima


Fim da tarde, boquinha da noite
com as primeiras estrelas
e os derradeiros sinos.

Entre as estrelas e lá detrás da igreja
surge a lua cheia
para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas desse mundo:
o sol e os meninos.

Mas ainda vela
o menino impossível
aí do lado
enquanto todas as crianças mansas
dormem
acalentadas
por Mãe-negra Noite.
O menino impossível
que destruiu
os brinquedos perfeitos
que os vovós lhe deram:
o urso de Nürnberg,
o velho barbado jagoeslavo,
as poupées de Paris aux
cheveux crêpes,
o carrinho português
feito de folha-de-flandres,
a caixa de música checoeslovaca,
o polichinelo italiano
made in England,
o trem de ferro de U. S. A.
e o macaco brasileiro
de Buenos Aires
moviendo da cola y la cabeza.

O menino impossível
que destruiu até
os soldados de chumbo de Moscou
e furou os olhos de um Papai Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos
são bois...”
“Faz de conta...”
“Faz de conta...”
E os sabugos de milho
mugem como bois de verdade...

e os tacos que deveriam ser
soldadinhos de chumbo são
cangaceiros de chapéus de couro...

E as pedrinhas balem!
Coitadinhas das ovelhas mansas
longe das mães
presas nos currais de papelão!

É boquinha da noite
no mundo que o menino impossível
povoou sozinho!

A mamãe cochila.
O papai cabeceia.
O relógio badala.

E vem descendo
uma noite encantada
da lâmpada que expira
lentamente
na parede da sala...

O menino pousa a testa
e sonha dentro da noite quieta
da lâmpada apagada
com o mundo maravilhoso
que ele tirou do nada...

Chô! Chô! Pavão!
Sai de cima do telhado
Deixa o menino dormir
Seu soninho sossegado!

Eufemizando o créu na campanha eleitoral

Talvez ele soubesse o que significa eufemismo, mas, de certa forma, não estava entendendo bulhufas do que diziam os governantes. Era época de campanha eleitoral, nestes dias em que a TV, o jornal e o rádio parecem não enxergar mais nada além da discussão partidária. Como bons seletores de informação as empresas da mídia corporativa decidem o que devem, ou não, passar à sociedade. Nada é mais importante do que as últimas noticias sobre a agenda dos candidatos. Suas falas, provocações, carreatas e tudo mais. A eleição é o evento de maior significado para o Estado Democrático de Direito e sua mídia sensacionalista.

Cada cidadão, assim como eu e você, acorda todo dia bem cedo e ruma para o trabalho. No café da manhã saboreia demagogias, já, ao meio-dia, sua sobremesa é um bolo denso e carregado de palavreados e reflexões "eloqüentes". Mas tem um momento, em especial, que o camarada quase perde a cabeça: na hora em que chega em casa. Depois de uma jornada de trabalho duríssima ele ainda é obrigado a jantar com os próceres da democracia representativa.

É de dar pesadelo. Quando está tentando pegar no sono começa a pensar nos momentos vividos durante o dia. É impossível não recordar de alguma demagogia midiatizada. O eleitor em questão já tem certa capacidade de julgar a sociedade de forma crítica. Não é daqueles que acha que tanto faz quem sairá vitorioso do pleito. Aliás, ele “quase” se filiou a um partido político, o qual julgava ter mais "afinidade". Eu digo “quase”, porque o coitado levou um baita susto quando soube das alianças que o partido estava fazendo para chegar ao poder.

Na verdade, a essas alturas, ele já pegou no sono. Não será uma noite tranqüila. Amanhã se repetirá toda a rotina da semana. Domingo é o grande dia e ele já está cansado da falação do horário eleitoral. Sabe que o político mais astuto, com mais coligações partidárias, representante das principais siglas do poder político nacional, tem mais tempo para expor as suas idéias e, apesar de ser o que mais se afunda em prolixidade, é, também, o que mais possui recursos para exercer influência sobre o eleitorado.

O cara está de saco cheio de políticos que “falam de mais por não ter nada a dizer”, como cantarolava o grande poeta Renato Russo. Mas, tudo bem. Ele já está decidido em quem vai votar mesmo. Além do poder executivo, cabe ao sabido eleitor selecionar aqueles que irão compor o poder legislativo. Quanta responsabilidade. Ele começa a ficar nervoso. Todo dia houve o noticiário falar mal de políticos de outros países da América Latina. Deve ser por que é subdesenvolvida - conclui o pobre cidadão. É o tal do Hugo Chávez e sua turma de latino-americanos convictos. O cara não sabe nem bem o porquê, mas não concorda com tudo aquilo que se fala sobre eles nos jornais do maior partido do Brasil, a Rede Globo.

Certo dia ele ouviu alguém dizer que a TV é o meio de comunicação mais assistido no país e a Rede Globo é a campeã de audiência. Falaram que a Venezuela e a Bolívia são maus exemplos para os "americanos do sul” e que os EUA estão "libertando o Iraque", já com planos de libertar também os latinos. Mas libertar de quê mesmo? Ah! Isso ele não sabe...

Ouviu dizer que as principais cidades brasileiras estavam "re-urbanizando" os centros e o MST era um grupo "terrorista" e "perigoso". Quanta sacanagem estão tentando fazer com o coitado. Neste dia, ele ficou muito preocupado. Afinal, ele já tem uma idéia de como seu voto é "importante". Está convencido de que pode mudar o mundo através do voto. Será a porta de entrada para acabar com tudo o que está de errado na política, basta escolher bem o candidato - sentencia em sua última reflexão antes de ir às urnas.

Ao sair de casa lembra das músicas que gosta de ouvir. Odeia cultura popular. Acredita que um candidato afinado com a alta cultura irá pôr fim àquelas músicas de baixo calão, muitas das quais se misturam aos "hits" da campanha eleitoral. O voto transforma - pensa ele! Neste momento vem a mente uma música de sucesso, sabe que representa bem o que os donos do poder estão fazendo com a gente, há mais de 500 anos - a velocidade é lenta. Não consegue lembrar o nome. É a dança do que mesmo? Deixa pra lá... ele não gosta de ouvir essas coisas.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sua obra é imortal

No dia 14 de agosto de 1956 morreu, em Berlim, o poeta e dramaturgo alemão, Bertolt Brecht (foto). Sua obra tem forte influência entre os movimentos sociais brasileiros e suas idéias estão cada vez mais atuais. Foram diversas produções de destaque durante a trajetória poética e política desse grande pensador do século XX. Entre elas, pode-se destacar: "A Vida de Galileu", escrita na época em que Brecht estava no Exílio - uma prova da importância de exilar-se para refletir melhor sobre as coisas. Tal peça remonta a relação entre ciência e sociedade, dentro do modelo em que Galileu trabalhava, sendo considerada uma das principais obras do dramaturgo.

A proposta de Brecht sempre esteve baseada em ser, pensar, transmitir e fazer saber. Não apenas comunicar, mas passar para os outros, através da arte, tudo aquilo que somos e o que podemos ser. Bastando, para isso, pensar a sociedade de forma crítica e buscar, no dialogo, as condições necessárias para superarmos as relações de opressão e desigualdade.

Ele conseguiu abordar os conflitos sociais como ninguém. A relação de reciprocidade entre público e artistas marcou a sua trajetória. Para Brecht, o ator não deveria apenas representar, era sua obrigação avaliar o papel que estava interpretando. A música, a narrativa, a reflexão, a troca de papéis entre os atores durante o espetáculo e tantas outras técnicas, deram o tom revolucionário ao Teatro Épico, revitalizado pelo dramaturgo.

As obras falam por si

Brecht falou à sociedade para não cair na asneira de ser um "analfabeto político". Mostrou que "nada é impossível mudar". Alertou para o perigo "das margens" que oprimem o rio. Provocou cada um de nós para respondermos: "de que serve a bondade?". Ele sabia que, "na guerra muitas coisas crescerão", e fez questão de ressaltar: "quem se defende" o faz, porque não quer se permitir viver. Deste modo, motivados pelas "perguntas de um trabalhador que lê", arrancamo-lhes a "máscara do mal" e "refletindo sobre o inferno", chegamos a conclusão de que, assim como Brecht, não "nescessitamos de pedra tumular". Mas, "nós as aceitamos, por tal inscrição e estaríamos todos honrados se fôssemos infinitos"; como, certamente o é, este grande pensador.


*Em vermelho e itálico foram destacados alguns dos títulos marcantes da obra de Brecht.

As mais lidas durante a passagem pelo Exílio

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