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segunda-feira, 28 de julho de 2008

MLST: a luta pela terra e contra a criminalização dos movimentos sociais

No dia 12 de Abril, de 2008, entrevistei, via email, Alfredo dos Santos, responsável pela secretaria de comunicação do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST).

Abaixo a entrevista na íntegra:

Eduardo Menezes (E.M): Como surgiu o MLST? Fale sobre a trajetória do movimento e suas bandeiras de luta.

Alfredo dos Santos (A.S): A história do Movimento, se inicia em meados de 1987 quando, 400 famílias do então chamado Movimento dos Sem-Terra de Pernambuco (que nada tinha a ver com o MST), foram se instalando progressivamente nas terras ociosas do Complexo Portuário de SUAPE (Recife-Pernambuco). Era a Ocupação Branca, nome encontrado para designar o processo lento e paciente onde os trabalhadores iam ocupando pequenas glebas de apenas 1 hectare de terra, mesmo impedidos de construir seus barracos e de plantar lavoura de raiz e submetidos a coação permanente dos vigilantes de SUAPE.

Chamou-se Ocupação Branca porque ela não desafiava abertamente o poder do Estado e os seus limites eram ditados pela secretaria do governo responsável por SUAPE. Na madrugada do dia 18 de setembro de 1989, mais 400 famílias chegaram ao local para se somar aos que lá já se encontravam, no que passou a ser chamado de Ocupação Vermelha. A partir desse momento estava constituída uma aliança entre os novos e os velhos ocupantes, baseada na contituição de suas próprias leis através de assembléias conjuntas realizadas na nova área de ocupação. Tudo isso foi exaustivamente discutido durante a praparação e no decorrer das 3 últimas semanas que antecederam essa ação, os posseiros da Ocupação Branca desenvolveram uma prática de desobediência civil, fustigando e desgastando a administração e o esquema de segurança de SUAPE, através de pequenos confrontos que buscavam levantar o moral da companheirada, preparando-a para assumir o enfrentamento em nível mais elevado que aconteceria nos próximos dias.

No dia 8 de março, mais de 2 mil pessoas e, com a presença do então candidato à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, foi inaugurada no Complexo de SUAPE, a Fazenda dos Trabalhadores.

Em julho de 1994 o Movimento passou a se chamar "Movimento por Terra, Trabalho e Liberdade", que era o lema que o PT adotou ao nascer em 1980 e foi sendo abandonado progressivamente à medida em que o Partido optava pelo caminho institucional.

E, finalmente, nos dias 21, 22 e 23 de agosto de 1997, em Brasília (DF), rompendo cercas, construindo uma nova sociedade aconteceu o Encontro Nacional de Fundação do Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), com 720 delegados eleitos em todo Brasil.

E.M: Uma parte da imprensa trabalha com a idéia de que o MLST é uma dissidência do MST. Isso é verdade?

A S: Como relatei anteriormente e, a própria trajetória de lutas demonstra, o MLST não é uma dissidência do MST.

E.M: Em quais estados o movimento atua? Existe algum tipo de organização social ligada ao MLST fora do país?

A.S:O MLST está organizado em Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Norte, Maranhão, Tocantins, Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Não temos nenhum vínculo internacional.

E.M: Quantas famílias fazem parte do movimento?

A.S: Atualmente, o MLST conta com mais de 50 mil famílias distribuidas pelos 10 Estados.

E.M: Como se trabalha a produção agrícola dos camponeses?

A.S: Desde o ano 2000, o MLST desenvolve em suas áreas de atuação o que denominamos Empresa Agrícola Comunitária. Explicando um pouco mais. A empresa agrícola comunitária é uma nova forma de organização da produção que enfoca os aspectos econômicos, sociais, políticos, científicos, artisticos-culturais, esportivos e de lazer.

A Empresa Agrícola Comunitária é um instrumento que articula politicamente a “guerra de posição” e a “guerra de movimento”. Chamamos Guerra de Posição a função de trincheira política ou instância de diálogo com a sociedade, de debate político-ideológico e de mobilização social. Por Guerra de Movimento, se entende a ação política, como uma ocupação de terra e outras ações mais poderosas que se tornam instrumentos alternativos de poder, disputando palmo a palmo com os aparelhos burgueses e muitas vezes ocupando o seu lugar.

Dessa forma, a luta pela terra se apresenta num primeiro momento, como uma resistência a tudo isso, e, num segundo momento, pode e deve se transformar numa contra-ofensiva das classes trabalhadoras, por dentro e/ou por fora da institucionalidade burguesa. Basta analisar que faz parte do projeto da classe dominante, a redução da população economicamente ativa. Isto é demonstrado pela falência de milhares de pequenas propriedades, por falta de uma política agrícola condizente com a realidade, pelo fato de que 1% da população concentra 44% das terras no país.

O Movimento de Libertação dos Sem Terra (MLST) considera que as ocupações visam democratizar a terra e construir o poder popular, porque elas são o primeiro passo dos sem terra para garantir sua sustentação econômica, sua libertação social e o seu desenvolvimento político, ideológico e cultural, como construtores de uma nova sociedade.

Assim, cada acampamento e assentamento que se transforme em uma Empresa Agrícola Comunitária (EAC), está democratizando a terra e instalando um modo de produção pró-socialista dentro do sistema capitalista.

Essa concepção estratégica faz com que o MLST venha afirmando desde o seu início que o socialismo e a reforma agrária no Brasil são inseparáveis. E da mesma forma que não se pode chegar ao socialismo sem uma profunda reforma na estrutura agrária brasileira, é impossível realizar uma verdadeira reforma agrária num país continental como o nosso, sem alcançar uma correlação de forças capaz de romper com o sistema capitalista e iniciar a construção do socialismo. Ou seja, se é verdade que a luta pela reforma agrária teve início e ainda vai se desenvolver e ganhar forças durante um bom tempo nos marcos do regime capitalista, ela só poderá ser concluída depois da ruptura popular com esse regime e de ser dado início à construção de uma nova sociedade, em que as classes trabalhadoras sejam hegemônicas no plano político, econômico, social, ideológico e cultural.

De maneira simples podemos dizer que a luta por uma verdadeira reforma agrária é inseparável da luta pela construção da sociedade socialista. Da mesma forma que a luta pelo socialismo é uma arma poderosa para a realização da verdadeira reforma agrária.

E.M: Quais as ações desenvolvidas pelo movimento na luta pela terra?

A S:Creio já ter respondido.

E.M: Quando os movimentos organizados contestam o status quo aparecem diversas versões midiáticas a respeito de tais ações. Qual a sua opinião sobre a imagem que a grande mídia cria em relação aos movimentos sociais?

A.S: A chamada grande mídia, por defender interesses que não são os dos trabalhadores, são os impulsionadores do que chamamos de "criminalização dos movimento sociais".

E.M: Com relação à ocupação da Câmara dos Deputados, em 6 de Junho de 2006, onde lideranças do movimento foram presas, qual a avaliação do MLST sobre a repercussão do fato?

A.S: No dia 6 de junho de 2006, o MLST foi ao Congresso Nacional para entregar aos Senhores Parlamentares uma pauta de reivindicações, anteriormente já agendada com o Presidente da Câmara e que se comprometeu em nos receber. No mesmo dia e na mesma hora, ocorria uma manifestação de estudantes e grevistas na entrada do Anexo II da Câmara dos Deputados, existindo já um tensionamento com a segurança do Congresso. Com a chegada dos militantes do MLST, acirrou os ânimos que redundou em conflito. Este conflito, que não serve ao MLST, nem aos movimentos sociais e a luta pela terra. Condenamos qualquer ação que danifique o patrimônio público e cause ferimento em qualquer pessoa, daí o Movimento orientar firmemente todos os seus militantes para que não incorram neste tipo de pratica, mesmo em situações de confronto.

Foi feito um acordo com o Presidente Sr. Aldo Rebelo de desocupação do Salão Verde com o recebimento da pauta de reivindicações e a saída dos militantes do interior do Congresso para o gramado, onde existiam 300 manifestantes que não entraram no local e acionar os ônibus para partir para os Estados de origem e que a responsabilização daqueles que cometeram excessos deveria ser estritamente dentro da lei, com a utilização do circuito interno da Câmara para identificar os envolvidos.

Uma vez cumprido o acordo por parte do MLST, o Sr. Aldo Rebelo recuou da sua palavra e ordenou que a Polícia de Choque, a Cavalaria e um sem número de Policiais Militares prendessem todos os manifestantes (homens, mulheres, jovens e crianças). Aqueles que haviam estado no interior do Congresso e mesmo aqueles que jamais tocaram os pés na Casa.

O triste espetáculo patrocinado pelo corporativismo da Câmara e pelas forças reacionárias da política brasileira, acusou, julgou e condenou o MLST, como em regra tem acontecido com os movimentos sociais em geral e os movimentos de luta pela terra em particular, sem sequer ouvir a nossa versão dos fatos. Queremos louvar o espírito de justiça de diversos parlamentares e de pouquíssimos jornalistas que pelo menos ouviram a nossa versão dos fatos.

O envio de mais de 612 trabalhadores rurais para a Penitenciária da Papuda com o claro viés de dar exemplo, independentemente da culpa ou inocência dos mesmos, revela o retrato cruel do Brasil: prisão indiscriminada, arbitrária e política para os trabalhadores que lutam, seja por terra, trabalho, renda ou teto. E do outro, o acobertamento, leniência e benesses para os que roubam o Estado, exploram os trabalhadores, violentam a nação e destroem a esperança e os sonhos do povo.

E.M: Havia uma forte expectativa, com o início do atual governo (Lula), quanto à efetiva realização da reforma agrária no Brasil. Qual a situação atual?

A.S: Um levantamento recente feito pelo governo federal revela que mais de 1 milhão de sem terra está espalhado pelo país morando debaixo de barracos de lona à espera de um lote de terra da reforma agrária.

Ao lado das ocupações de terra, a criação e o inchaço dos acampamentos são os principais instrumentos de pressão dos movimentos que representam trabalhadores sem terra contra o Palácio do Planalto.

Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito, em outubro de 2002, a contabilidade oficial apontava 60 mil famílias acampadas. Hoje passa de mais de 1 milhão de homens, mulheres e crianças.

Ao chegar ao Planalto, a primeira promessa de Lula aos sem-terra foi justamente priorizar o assentamento dos acampados. Neste ano, ao concluir sua gestão, terá mais sem-terra nessas condições do que quando assumiu a Presidência da República. Passado todo esse tempo, não mudou muita coisa.

E.M: O que dificulta a desconcentração de terra no Brasil?

A.S: Em minha opinião, o que está faltando é vontade política, porque dinheiro para os "heróis", como Lula chamou os empresários do agronegócio, nunca faltou. Já para os sem terra, é muito difícil conseguir esse mesmo dinheiro.

E.M: Existe algum veículo (site , jornal, correio eletrônico) de divulgação do movimento? Qual?

A.S: Infelizmente não. O MLST, nessa área, é muito debilitado. Nossas comunicações, mesmo internas, são muito precárias.

Midia e sociedade: a patologia da comunicação

É preciso defenestrar a televisão!

(Este texto foi escrito na época do "caso Isabella", mas ainda traz uma reflexão atual)

São vários os "casos" que, ao virarem notícia, tornam-se "novelas reais" com inicio, meio e fim. São visualizados e dirigidos por uma sociedade doente, em busca de satisfazer seus próprios fantasmas psicossociais, utilizando-se, para tanto, da vida e do sofrimento de outras pessoas. O caso mais recente é o da menina Isabella.

O palco onde se desenvolveu o enredo foi a zona norte de São Paulo. Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá viraram os atores principias e, também, vilãos desta trama. A sociedade os julgou e a justiça os condenou. Um acontecimento brutal e desumano que, ao virar notícia, segue como principal manchete de todos os meios de comunicação por várias semanas. Afinal, trata-se de um acontecimento que a sociedade quer ver.

Segundo Jorge Pedro Souza, "a noticia que é fruto de seu meio é chamada de Força Social (FSO)", criada e divulgada com a intensidade e cobertura que os receptores passivos necessitam. O fato é chocante, mas, ao passar dos dias, nem tanto. Cada vez mais o público quer saber o desenrolar desta "trama" da vida real, naturalizando a violência.

O mais triste disso tudo é o fato de os espectadores alimentarem os meios de comunicação e, estes últimos, sem o mínimo de compromisso social e responsabilidade com o que publicam, retroalimentarem a sociedade, em um círculo vicioso de más intenções. Evidentemente deve-se punir os culpados por crimes ediondos como esse e divulgar o acontecimento, mas e nas periferias do Brasil? Embora não hajam prédios enormes e as moradias não estejam situadas nos grandes centros urbanos do país, será que lá, onde a miséria e a fome disputam lugar com sanidade, não existe violência? Essa mesma sociedade, que julga o pai e a madrasta por jogarem uma criança do 6° andar de um prédio, não se compadece com as milhões de crianças vítimas de atrocidades tão terríveis quanto esta ou, até mesmo, piores?

A força social pode, e deve, ser usada com a intenção de pautar os meios de comunicação. No entanto, isso deve surtir algum efeito para a construção de uma sociedade mais justa, não o contrário. Saber utilizar as forças externas e ideológicas à favor da cidadania é a única saída possível para romper com o silêncio da insanidade, amplificado pelos milhões de televisores ligados quase 24 horas por dia.

Jornalismo independente e participativo: o inicio da subversão?

O que pode ser mais conservador do que sentar no sofá da sala e pegar o matutino para ler, enquanto se saboreia uma deliciosa xícara de café? Respondo: nada! No entanto, a participação está em pé de guerra com o conservadorismo. O leitor, que antes assistia passivo a tudo que lhe era noticiado, está acordando. Não pode mais ficar calado. Roubaram-lhe o que tinha de mais precioso no jornalismo: a criatividade.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto DataFolha, em 30 de julho de 2007, revelou que o número de internautas responsáveis por gerar conteúdos na internet, a época, passava de 40%. As manhãs calmas e passivas estão dando lugar ao mais subversivo dos atos contemporâneos: a participação crítica na construção da informação. Os blogs já estão sendo usados pelos grandes veículos de comunicação na tentativa desesperada de interagir com essa nova possibilidade do "fazer jornalístico".

E como se dá a participação?

Ainda segundo a pesquisa do DataFolha, observa-se que, 5% das pessoas integradas à internet para gerar conteúdo, o faziam, tão somente, para noticiar e relatar os fatos. É o avanço da comunicação participativa. São poucos os espaços, sobretudo nos meios impressos, para o protagonismo do leitor. A opinião de quem está de fora resume-se a espaços demarcados pela editoria de cada periódico, o que, na maioria dos casos, resumem-se a irrisórias colunas de opinião ou cartas de leitores. O resto fica a cargo de especialistas e pessoas letradas.

E o jornal do povão onde está?

De uns tempos para cá a noticia virou uma mercadoria desprezível. O valor de uma assinatura de jornal ou revista é caro, mas o conteúdo é barato. Muitas vezes beirando a insignificância. É fato que a internet ainda não faz parte da rotina de todo brasileiro, no entanto, vem crescendo o número de pessoas com acesso a rede mundial de computadores em seus lares. No inicio de 2007, o Brasil tinha 14 milhões de usuários residenciais, este ano são mais de 22 milhões de pessoas. Escolas, bibliotecas e lan houses colaboram para que o uso da internet esteja se democratizando. As megacorporações ainda se mantém intocáveis, mas já sentem a pedra no sapato. A ferida poderá crescer com o tempo. Basta, para isso, que sejam implementadas polítcas nesse sentido. E você, já escreveu hoje?

sábado, 26 de julho de 2008

Quando Nietzsche Chorou

Romance e ficção dialogam do inicio ao fim, neste livro do psicoterapeuta, Irvin Yalom. "Quando Nietzsche Chorou" é a maior prova de que a paixão é capaz de superar qualquer explicação filosófica.

Na ficção, o filósofo Friedrich Nietzsche e o médico Josef Breuer, um dos pais da psicanálise, procuram, através da terapia, superar as dores de uma paixão mal resolvida. A jovem, Lou Salomé, arrebatou o coração do poderoso filósofo e, depois, o destroçou como quem apaga uma bagana de cigarro.

Lou Salomé sente-se culpada pela decadência de Nietzsche, o qual julga ser uma "mente brilhante". Durante algum tempo a irmã do filósofo, Elizabeth, tenta, de todas as formas, separar os dois, mas isso só ocorre quando Salomé propõe uma pirâmide amorosa ao filósofo, incorporando ao romance o seu melhor amigo: Paul Rée.

Atormentado pelo fantasma de Salomé, e por uma doença desconhecida, o filósofo passa a fazer sessões de terapia com o médico Josef Breuer. No entanto, ele não sabe que foi a própria Salomé que intermediou o contato entre os dois e só aceita começar um suposto tratamento por que deseja acabar com as fortes dores de cabeça que o perseguem há muito tempo.

Breuer, ao aceitar Nietzsche como paciente, abre as portas para a descoberta de uma nova forma de tratamento médico: a cura através da conversa. Esse tema ocupa boa parte de seu tempo nos debates travados com o jovem Sigmund Freud. Breuer também sofria de um amor platônico por uma antiga paciente, Ana O, ela protagonizou o primeiro contato do psicoterapeuta com a terapia através da conversa. O tratamento de Ana foi interrompido quando, em surto, ela disse estar grávida de Breuer.

Os diálogos que são travados no livro colocam em xeque muitas teorias a respeito da capacidade humana de auto-destruição e amor próprio. A máxima "Torna-te quem tu és", do filósofo Friedrich Nietzsche, passa a aplicar-se a ele próprio, quando defronta-se consigo mesmo refletido nas palavras do psicoterapeuta. A partir do auto questionamento e da indagação acerca de si, filósofo e médico descobrem a importância da segunda sentença de Nietzsche: "O que não me mata me fortalece".

terça-feira, 22 de julho de 2008

Provocação

Olá menina! Que bom te encontrar. Sei, no intimo da minha alma, que andastes sempre por perto a me rodear. Mas, hoje, olhando para ti mais de perto, é que começo a enxergar. Não sei se os meus olhos encontraram tua beleza ou se a tua beleza está no meu olhar. É tanta dúvida, tanta incerteza, mas cada vez quero me envolver mais, não posso parar.

És mesmo insistente, nunca deixastes de me paquerar e, eu, tímido, ainda estou aprendendo qual a melhor formar de me chegar. Com o passar do tempo comecei a sentir a força do vento, enxergo agora o som da brisa ao respirar. É pura magia, é beleza, é a dádiva da vida a me ofertar. É o sol que queima, o fogo que incendeia, a brisa que acalma. É como uma mão a me acariciar: o rosto, o corpo, em qualquer lugar.

São lindas as formas que tens para te apresentar: és musica, és magia, és pura essência. É só abrir os olhos e procurar. Em volta, ou, para dentro de si, irás encontrar. Apareces na paisagem, no cheiro do som, no gosto do ar. Me beliscas a noite e me fazes pensar: - serias tu tão bonita? Ou seria o jeito que enxergo as tuas formas de andar, falar e sossegar? Seria isso que te torna assim tão exemplar?

Obrigo-me a parar e ouvir. A sentir e olhar. Quando percebo, não estou mais em mim e me ponho a chorar, a rir, a cantar, a lutar, a sorrir e a brincar. É tanta beleza. És tu natureza. És água, és vinho, és todo o carinho, és muito mais que eu possa contar.

Acordes ecoam. Lá no fundo percebo uma cabana, uma bela paisagem. Há verde, há azul, há branco e vermelho. É linda, no espelho, a imagem que cisma em brilhar. É o sol que reflete, entra pela janela e quer se mostrar.

Que linda manhã. Que noite tranqüila. És tu, ó menina! Nascesses no gueto, não ostentas riqueza, és vendida nos preços que querem te dar. Mas és forte, resististes ao tempo e transformas o modo de cada um te enxergar.

És tu minha ARTE, mais cedo ou mais tarde este encontro haveria de se concretizar!

sábado, 19 de julho de 2008

O comunicador: instrumento ou instrumentista?

Às vezes ouvimos falar por aí que o comunicador deve ser neutro, imparcial; deve apenas ser o “instrumento” da comunicação. Mas será que funciona assim mesmo? Se fizermos uma analogia entre o comunicador e o músico, por exemplo, podemos relativizar estas afirmações.

O comunicador, assim como o músico, é um artista. Precisa lapidar a palavra, a escrita, a imagem, ou seja, a mensagem que pretende passar. Essa mensagem, por sua vez, está relacionada a algumas decisões preestabelecidas. Vamos supor que o músico, ao participar de uma apresentação artística em que há um maior envolvimento com o público, escuta alguém lhe dizendo:

- Toca "tal" música aí! (a que ele sempre toca)

Trata-se de um pedido feito pelos espectadores, mas a canção já estava prevista no roteiro. Afinal, o músico segue sempre o mesmo repertório proposto pelos organizadores do espetáculo e, estes, procuram agradar o público da forma mais rentável possível. O repertório já está inculcado na memória de todos e, por isso, as escolhas são previsíveis.

Agora, façamos o seguinte: imaginemos que a platéia, quase absoluta, - não toda porque isto é impossível - proteste:
-Não. Toca “outra” musica aí!

Dessa vez, o pedido é elaborado pela maioria do público e não era esperado. Neste momento, temos duas situações diferentes. O músico terá de escolher qual das canções irá tocar, ou, pelo menos, qual irá privilegiar como sendo a primeira. Não se pode tocar as duas ao mesmo tempo. A interpretação do artista é pessoal, mas a mensagem está carregada de escolhas, preferências e conteúdo ideológico. Será que isso não ocorre também na prática dos meios de comunicação?

O comunicador

Vamos supor que o comunicador se depare com uma situação semelhante, evidentemente dentro de um contexto diferente. Ele possui o “instrumento”, não é o “instrumento”. Assim como o músico utiliza a voz, o violão, o piano - entre outros - o comunicador faz uso de câmeras, microfones, computadores. Ambos podem escolher o instrumento que vão usar e qual parcela do público irão ouvir ao transmitir a mensagem, seja através da música ou da mídia.

O músico pode optar por ouvir um grupo da platéia que está cansado do habitual, ou seguir as ordens de quem está patrocinando o “show”; já o comunicador pode decidir entre escutar a diversidade de vozes responsáveis por formatar um acontecimento, ou resignar-se a seguir as instruções de quem exerce alguma forma de autoridade sobre ele. Neste bojo, podemos considerar os editores e proprietários de um determinado meio de comunicação, mas é preciso destacar, principalmente, os anunciantes.

Escolha

A escolha é o ponto fundamental desta análise. Ao decidir escutar a voz que dissente, seja ela qual for, o comunicador se porta como um “instrumentista”, ou seja, como alguém que dá forma ao instrumento. Ele pode usá-lo para atender diversos interesses. Precisa tomar decisões das quais irá sentir-se parte do processo de transformação da sociedade. Jamais será imparcial.

Sejamos como o músico que, por viver em uma sociedade produtora de sucessos, não tem a fama dos considerados "grandes músicos". Mesmo assim está com sua consciência tranqüila, porque houve a maioria da platéia, tornando-a parte do espetáculo. Não somos neutros. Não somos instrumentos, somos instrumentistas. Devemos utilizar a técnica no sentido de incluir, na formatação das matérias, aqueles que estão afastados de todo o processo corporativo pelo qual são orientadas as produções jornalisticas.

Espectadores

Os espectadores "pagam caro" pelo “show” e, muitas vezes, nem mesmo estão lá para assisti-lo. Eles precisam ser ouvidos e respeitados. O Comunicador não pode se submeter a todas as regras impostas; precisa resistir, interferir, mudar e instrumentalizar a comunicação à favor das classes subalternas, dando vez e voz para os não midiatizados. O caráter comercial das produções midiáticas tonifica a parcialidade indiscutível da chamada "grande mídia". Grande apenas em sua riqueza econômica.

A única preocupação dos "donos da mídia", criadores de espetáculos duvidosos, é com a mercadoria audiência. Seguindo esta lógica, infelizmente, os profissionais das megacorporações se deixam instrumentalizar para ouvir apenas seus patrocinadores, ou melhor, os seus patrões.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Auto-exílio

"Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la".

Inspirado na frase do poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht, procuro sintetizar o que estou fazendo por aqui. Sinto-me exilado, muitas vezes solitário, expatriado do que se convencionou chamar de "a grande mídia". Quem nunca sentiu-se assim?

E não precisa ser jornalista ou estudante de comunicação. Assistindo à televisão, ouvindo o rádio, folheando o jornal de maior circulação na cidade, no estado, ou no país, certamente você já sentiu que nada ali tinha a ver com a sua realidade. Não tinha e não tem mesmo. Mas por quê? Porque o interesse das megacorporações midiáticas é apenas o lucro; usam-se propagandas, notícias, novelas, todo e qualquer conteúdo, consciente ou não, para vender produtos e criar necessidades, sem a menor preocupação com a diversidade cultural e a formação crítica dos receptores.

Por isso, eu digo: - estou me auto-exilando! Não significa, contudo, que estou saindo fora, de repente desisti e vou me alienar. Muito pelo contrário. Quero olhar de fora para o que existe por dentro dos meios de comunicação e esmiuçar suas artimanhas. Não tenho a pretensão de fazer análises eloquentes sobre política, cultura e sociedade. Longe disso. Tampouco tenho a pretensão de julgar-me o dono da verdade, discorrendo sobre a solução para as mazelas que assolam o Brasil e o mundo. Pretendo apenas retratar a forma como enxergo a realidade, sem depender da aprovação de alguma estrutura de poder, seja ela, política ou econômica. Aqui é o espaço para o contraditório e assim será até a última postagem.

As mais lidas durante a passagem pelo Exílio

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