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domingo, 30 de novembro de 2008

Santa Catarina no meio da tormenta

A cada dia os meios de comunicação atualizam o número de mortos na tragédia que abalou o estado de Santa Catarina. A informação é de que já passam de 100 pessoas mortas e o governo decretou estado de emergência em 51 cidades. Segundo o prefeito de Florianópolis, Dário Berger (PMDB), a média de chuva, na última semana, equivale a estimativa para o ano inteiro.

Há mais de 90 dias chove continuamente no estado. As autoridades procuram fazer a sua parte. Semana passada o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou uma Medida Provisória destinando recursos na ordem de R$ 1,6 bilhão. O Tesouro Nacional fez um aporte de R$ 370 milhões ao governo catarinense, por meio de títulos, e a sociedade civil também está empenhada em ajudar as vítimas de todas as formas que julga possível.

A mídia e a enchente

Os meios de comunicação brasileiros estão se especializando no que o jornalista José Arbex Jr costuma chamar de showrnalismo. Lamentavelmente não se contentam em fazer apenas a cobertura dos fatos. Por certo campanhas de solidariedade e ajuda às vítimas não caracteriza, em si, um apelo ao sentimentalismo, mas o problema aparece quando, ansiosos em conquistar pontos no ibope, entra em cena o "vale tudo" pela audiência. Não é raro, principalmente em programas de TV, a exploração do sofrimento das pessoas e o oportunismo de algumas emissoras, diga-se de passagem, em especial da Rede Record, aproveitando-se da situação na tentativa de ligar a sua imagem à uma ação socialmente responsável.

Surge, portanto, um discurso que beira o oportunismo. Semana passada a Rede Record lançou uma campanha para arrecadar dinheiro e destiná-lo à reconstrução das casas destruídas.

"Além das doações, que estão sendo recebidas por meio de uma conta do Instituto Ressoar (Bradesco), a Record irá destinar a maior parte de seu faturamento de dezembro e 15% dos salários de seus executivos para a causa", revelou o vice-presidente comercial da emissora, Walter Zagari, ao site propmark (Propaganda & Marketing).

É importante que as empresas de comunicação brasileiras, donas de receitas milionárias, estejam engajadas em práticas como essa. É de igual relevância o envolvimento em campanhas de marketing com intuito de colaborar, de alguma forma, com os problemas sociais do povo brasileiro, mas a questão é: - o que os meios de comunicação querem de retorno da sociedade? Obter o reconhecimento de uma imagem empresarial competitiva e socialmente responsável?

É preciso questionar os interesses que levam uma emissora de abrangência nacional a formatar reportagens onde os diretores da empresa são os protagonistas da matéria e repórteres entrevistam seus superiores. Comovidos eles circulam em meio ao palco da tragédia. Famílias perderam tudo, pessoas humildes mostram as conseqüências do desastre. As lentes das câmeras encontram as lágrimas das pessoas e, lá estão eles, todos reunidos, vítimas e seus "heróis midiáticos". Ninguém é contra que se ajude as vítimas da enchente, muito pelo contrário, mas isso não dá o direito de se explorar o sofrimento das pessoas para transformar tragédias pessoais em picos de audiência.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O Mito da Caverna

Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um muro alto. Entre o muro e o chão da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa.

Desde o nascimento, geração após geração, seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas as sombras dos outros e de si mesmos por que estão no escuro e imobilizados.

Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna. Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como num teatro de fantoches.

Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, e que os artefatos projetados são seres vivos que se movem e falam.

Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De inicio, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.

Ao permanecer no exterior o prisioneiro, aos poucos se habitua a luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as forças para jamais regressar a ela. No entanto não pode deixar de lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.

Só que os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. Mas quem sabe alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo a realidade?

* Esse texto, também chamado de "Alegoria da Caverna", faz parte da obra "A República" (livro VII), de Platão.

Provocações

Por Luis Fernando Veríssimo

A primeira provocação ele agüentou calado. Na verdade, gritou e esperneou. Mas todos os bebês fazem assim, mesmo os que nascem em maternidade, ajudados por especialistas. E não como ele, numa toca, aparado só pelo chão.

A segunda provocação foi a alimentação que lhe deram, depois do leite da mãe. Uma porcaria. Não reclamou porque não era disso.

Outra provocação foi perder a metade dos seus dez irmãos, por doença e falta de atendimento. Não gostou nada daquilo. Mas ficou firme. Era de boa paz.

Foram lhe provocando por toda a vida.

Não pode ir a escola porque tinha que ajudar na roça. Tudo bem, gostava da roça. Mas aí lhe tiraram a roça.

Na cidade, para aonde teve que ir com a família, era provocação de tudo que era lado. Resistiu a todas. Morar em barraco. Depois perder o barraco, que estava onde não podia estar. Ir para um barraco pior. Ficou firme.

Queria um emprego, só conseguiu um subemprego. Queria casar, conseguiu uma submulher. Tiveram subfilhos. Subnutridos. Para conseguir ajuda, só entrando em fila. E a ajuda não ajudava.

Estavam lhe provocando.

Gostava da roça. O negócio dele era a roça. Queria voltar pra roça.

Ouvira falar de uma tal reforma agrária. Não sabia bem o que era. Parece que a idéia era lhe dar uma terrinha. Se não era outra provocação, era uma boa.

Terra era o que não faltava.

Passou anos ouvindo falar em reforma agrária. Em voltar à terra. Em ter a terra que nunca tivera. Amanhã. No próximo ano. No próximo governo. Concluiu que era provocação. Mais uma.

Finalmente ouviu dizer que desta vez a reforma agrária vinha mesmo. Para valer. Garantida. Se animou. Se mobilizou. Pegou a enxada e foi brigar pelo que pudesse conseguir. Estava disposto a aceitar qualquer coisa. Só não estava mais disposto a aceitar provocação.

Aí ouviu que a reforma agrária não era bem assim. Talvez amanhã. Talvez no próximo ano... Então protestou.

Na décima milésima provocação, reagiu. E ouviu espantado, as pessoas dizerem, horrorizadas com ele:

- Violência, não!

*Essa postagem é dedicada aos movimentos sociais que tanto têm sofrido discriminação por parte do governo do estado do Rio Grande do Sul!

Diga não a criminalização dos movimentos sociais!

A terra é um direito de todos! Reforma Agrária já!

Literatura nua e crua: a poesia do velho safado

Intrepretar a realidade é uma questão de ponto de vista. Pois bem, tem um cara que, através da literatura, consiguiu transformar em arte e poesia marginal tudo o que estava ao seu redor.

Falo de um grande escritor norte-americano que marcou e, ainda marca, gerações de jovens do mundo todo com a sua habilidade especial em buscar no profano a mais pura tradução de uma realidade suja, mas, que, ao mesmo tempo, é pura, crua e, portanto, poética.

Charles Bukowski nasceu em 16 de agosto, de 1920, em Andernach - Alemanha. Durante a sua infância foi morar nos EUA, lá criou-se em meio a pobreza de Los Angeles e construiu diversas obras literárias. Por meio da autobiografia e, repleto de criações bem elaboradas, seus personagens nos conectam a uma vida sem maquiagens.

O mais impressionante neste escritor é como foi competente em traduzir, de forma simples e direta, temas como: sexo, alcoolismo, prostituição, violência, miséria, vadiagem, pobreza, falta de perspectiva profissional e diversas questões políticas.

Não tem como se esconder do "velho safado", ele está dentro de cada leitor. Há quem prefira esconder-se de si mesmo, mas, este, certamente não é o caso de Bukowski e não pode ser a premissa do leitor de sua obra.

O autor publicou em vida oito livros de contos e histórias. Morreu de pneumonia, no dia 9 de março de 1994, aos 73 anos de idade.

Quem não leu Misto-quente não leu Bukowiski!!!

Para começar a se aventurar no submundo desta literatua marginal e poética, é interessante conhecer o personagem Henri Chinaski. No livro Misto-Quente, romance de formação, que contém toques autobiográficos, Bukowski desnuda a realidade de quem cresceu nos EUA, durante a recessão, pós-1929.

O livro foi publiado originalmente em 1982 e "cativa o leitor pela sinceridade e aparente simplicidade com que a história é contada. Estão presentes a ânsia pela dignidade, a busca vã pela verdade e pela liberdade, trabalhadas de tal forma que fazem deste livro um dos melhores romances norte-americanos da segunda metade do século XX". (Trecho de apresentação do livro publicado pelaL&PM POCKET)


Acesse também o link do livro: CHARLES BUKOWSKI - Vida e Loucuras de um Velho Safado

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Diálogos

Existem coisas que falamos, outras não. É como se houvessem dois mundos habitando dentro de cada um de nós. Esses mundos às vezes se encontram, mas, na maioria dos casos, estão isolados. De cada mil coisas possíveis de se fazer no lapso de um instante podemos escolher apenas uma. Assim, deixamos para trás infinitas possibilidades. A opção escolhida é única, mas não "a única".

Quanto aos mundos, queria falar sobre cada um separadamente. Habitam, em nós, sentimentos e atmosferas de vida. Cada território explorado dedica-se a uma experiência diferente. As mais difíceis escolhas e situações passam, necessariamente, pelo "mundo de baixo", aquele que sabemos onde fica, mas preferimos não desbravá-lo por medo. Quiçá lá estejam as pessoas, as coisas, os lugares e as vidas que nos levaram a entrar em contato com o "mundo de cima".

O "mundo de cima" não é, no entanto, um mundo superior. O fato de estar em cima é só para dar a distância exata entre os dois. Sua posição não o qualifica como superior ao “mundo de baixo". Na verdade, ambos são importantes, mas as memórias, as vidas e os prazeres de cada mundo não costumam mudar definitivamente de lugar. Existem em cada mundo separadamente e parecem acomodadas lá, seja qual for a coordenada interior.

Portanto, antes de julgarmos a nós mesmos, ao mundo e a vida, é preciso saber de onde vem essa moral interior. É verdade que ela possa ter percorrido os dois mundos e, por isso, sente-se pronta para voar de dentro de nossas almas atingindo o terceiro mundo, "o mundo exterior", mas, este, não é como os outros dois. Os dois primeiros são internos e, por isso, podem constantemente mudar suas perspectivas.

O "mundo exterior” é onde moram os sentimentos, lugares, vidas e situações capazes de dialogar com outros mundos interiores de outras pessoas, outros universos e diferentes atmosferas de vida. Se levarmos em consideração que, cada um de nós, possui, ao menos, dois mundos interiores, o "mundo exterior" torna-se o campo de convergência entre as expressões pessoais de diversos mundos interiores, mas, de fato, somos todos humanos e o mundo em que vivemos é um só. O que faremos com este mundo é problema de cada um e seremos eternamente responsáveis por nossos atos ou omissões.

Nesse sentido, como dizem os poetas e filósofos, "não importa aquilo que fizeram com você, mas sim aquilo que você faz com o aquilo que fizeram com você". Se não olharmos para o mundo exterior e sintonizarmos este mundo com as nossas atmosferas pessoais estaremos sempre fadados a perder o rumo. Não perde o rumo, contudo, quem sabe que, para além das escolhas pessoais está o interesse coletivo. É aí que nos encontraremo,s marchando juntos em direção a escolha por um mundo melhor.

Um lugar onde crianças não disputam restos de comida com cachorros. Homens e mulheres não sucumbem a fadiga e a miséria pela longa e desumana jornada de trabalho. Pessoas são tratadas como tal, pelo simples fato de serem humanas e não pelas suas convicções políticas, escolhas sexuais, etnias ou poder aquisitivo. É neste "mundo convergente" que os jovens sentirão prazer em ouvir os mais velhos. E, estes últimos, também saberão da importância de ouvirem os mais novos.

Um lugar onde crianças têm o direito de brincar de mãe, antes de serem usadas para se transformarem em tais. Onde meninos não precisam mostrar para seus pais que são homens, agindo de forma machista e preconceituosa. Onde homens e mulheres têm os mesmos direitos, deveres e responsabilidades, mas respeitam as diferenças e valorizam a diversidade. Um lugar onde não haverá sentimento de posse, nem de pertença, pois saberemos respeitar o espaço dos outros. Um mundo sem escalas de valor e, muito menos, hierarquia. Neste mundo, ainda possível, a burocracia será aniquilada, os seres humanos serão capazes de viver e terão tempo de olhar para dentro de si e refletir sobre cada um dos mundos que os habitam. Não morrerão sem nunca antes terem tido a oportunidade de desbravá-los e saberão o omento certo de dizer adeus.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Salve Mestre Pastinha


Maior é Deus
Maior é Deus, pequeno sou eu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
Na roda da capoeira
(Hahá!) Grande e pequeno sou eu
CamaráÂ…

No dia 13 de novembro, de 1981, morreu, em Salvador-BA, aos 92 anos de idade, o mestre Pastinha. Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de Abril de 1889. Ele dedicou toda sua vida à arte da capoeira. Filho da capoeira mãe, a capoeira angola, Pastinha segue abençoando os capoeiristas nas rodas da vida.


A história da capoeira e a vida de Pastinha se confundem

(Com informações do Centro de Midia Independente e do site Sua Pesquisa.com)

Foi Benedito, um ex-escravo de origem angolana, que ensinou os primeiros passos de capoeira à Pastinha. Um depoimento do mestre, amplamente divulgado em livros e na mídia, descreve um pouco da infância de Pastinha:

"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza."

"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse (o velho era Benedito) e eu fui".

Referindo-se aos ensinamentos de Benedito, Pastinha ressaltava: "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (...). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito..."

*O que é a Capoeira Angola? "Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa, não é perversa. É um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda." (Mestre Pastinha).

A capoeira no Brasil

No século XVI, época em que o Brasil era colônia de Portugal e a mão-de-obra escrava africana era utilizada no país, os escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Ao chegarem por aqui, os africanos desenvolveram formas de proteção contra a violência cometida pelos colonizadores europeus.

Mesmo que os escravos fossem proibidos de praticar todo tipo de luta, incorporaram os ritmos e os movimentos das danças africanas a um estilo de arte marcial. Surge, assim, a capoeira. Há quem pergunte, até hoje, o que é capoeira? Uma dança? Uma luta? Na verdade, este instrumento de resistência cultural e física dos escravos brasileiros manteve viva a cultura e as tradições africanas, incorporando, ainda, elementos da própria natureza e do contexto em que os escravos viviam. Se parece mais com um jogo, onde dança e luta se misturam, num diálogo de corpos.

"Capoeira é tudo que a boca come"

A prática da capoeira ficou proibida durante muitos anos, pois era vista como uma atividade violenta e subversiva. Nessa época, a polícia recebia orientações para prender os capoeiristas. Somente em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, criador da capoeira Regional, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O mandatário brasileiro gostou do que viu e logo a transformou em esporte nacional brasileiro.

Em 1941, mestre Pastinha registrou o Centro Esportivo de Capoeira de Angola no Pelourinho. Lá foram formados grandes mestres da capoeira como: Mestre João Pequeno, Mestre João Grande, Mestre Curió, Mestre Morais, entre outros. Em 1978, com 88 anos, mestre Pastinha perdeu a visão. Ele só continuou praticando capoeira porque era guiado pelos olhos de seus discípulos. Mesmo cego Pastinha seguiu conduzindo as rodas por alguns anos.

Despejado de sua academia, ele morreu em 13 de Abril de 1981, momento no qual a capoeira passou a ser reconhecida como fenômeno cultural.

Homenagem ao mestre, homenagem à capoeira, homenagem à vida...

Jogar capoeira é viver a história. É dialogar com seus pares numa roda de iguais. Não há pai, não há mãe, nem irmãos, ou, companheira. São dois corpos, duas almas. Há uma roda, um grito, um lamento. Ouve-se a ladainha. Ainda não existe o contato físico, mas se inicia a conexão espiritual. Entram em jogo concepções de mundo, de vida, de arte, de história.

São homens e mulheres, hoje livres. Capazes de atacar e esquivar; de fazer que vai, mas não vai, fazer que vem, mas não vem. "É jogo de dentro, jogo de fora. Jogo bonito, esse jogo é de Angola". Capoeira é a arte de nossos ancestrais. É a prova de que nossas raízes resistem as mudanças do tempo e permanecem fincadas na terra. Delas brotam e renascem, em nós, espíritos da resistência à escravidão.

É o mais perto do chão e do céu que se pode chegar. É a arte de cair e levantar. É a arte de aprender a viver. De aprender a respeitar os mais velhos e ensinar os mais novos. Como pressupõe todo o convívio entre iguais.

Iê! A volta que mundo deu. Iê! A volta que o mundo dá...

Viva mestre Pastinha!

Viva a capoeira angola!

Viva a cultura brasileira!




"Quando eu aqui cheguei a todos vim louvar, vim louvar a Deus primeiro morador desse lugar, agora eu tô cantando, cantando dando louvor, tô louvando a jesus cristo por que nos abençoou, tô louvando e tô rogando ao pai que nos criou, abençoe essa cidade com todos seus morador e na roda de capoeira abeçoe os jogador, camaradinha, que vai fazer? Iê, que vai fazer camará..." (Ladainha cantada por Mestre Pastinha).


“A sabedoria nunca foi demais, é inconcebível ao mais sábio dos mestres”

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

"Sobre viver" ou "sobreviver" a leitura...

Há várias formas de leitura. Há leitura que é de vida e precisa ser vivida, e há, também, as leituras de fé, leitura daquilo que é, mas não é.

Interpretar um texto é decodificar a alma do autor. É tentar compreender o mundo que ele vê. Ampliar horizontes, desbravar locais nunca antes habitados, ou, pelo menos, nunca antes vistos com tais olhos. Ao dedicar alguns minutos à leitura, entramos em contato com uma nova forma de ver a realidade. A cada nova leitura, mesmo se tratando do mesmo texto, dialogamos com novas perspectivas.

Não se trata de trazer à tona o velho e desgastado discurso do poder ou da importância da leitura. Desde pequenos temos, menos, ou mais, contato com ela. Esse contato pode ser mágico, mas, também, pode ser catastrófico. É como o próprio contato com a realidade. Aliás, é um contato com a realidade, apresentada em verso e prosa.

Cabe a cada leitor achar o seu "eu" nas linhas grafadas. Buscar a sua própria maneira de ler, sua identidade. A leitura chama a atenção porque permite formar consciência, seja crítica ou bitolada. É motivadora e pode, até mesmo, ser revolucionária. Por vezes te deixa indignado. Em outros momentos, dá um tremendo sono.

Ela é como o próprio nome diz: apresenta-se como “LEI”, mas, TU, é que, iRÁs, ou não, fazê-la ser agradável em tua vida. Cada leitor determina a forma dessa “LEI” interferir em sua atividade política e social. Por essas e por outras é que a velha máxima: "ler é importante" deveria ser mudada para "saber ler é importante". De nada adianta obrigar alguém a ler o que não está afim. Em algumas escolas ocorrem erros crassos, em função da disciplina. Se o aluno não vai a aula porque ficou em casa lendo um bom livro é punido. O importante não é aprender coisas que lhe interessem e sim obedecer.

Precisamos exercitar, todos os dias, a nossa capacidade de SABER LER A VIDA. Rabiscá-la em folhas de papel. Despretenciosamente...

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