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quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Salve Mestre Pastinha


Maior é Deus
Maior é Deus, pequeno sou eu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
(Tudo) O que eu tenho foi Deus que me deu
Na roda da capoeira
(Hahá!) Grande e pequeno sou eu
CamaráÂ…

No dia 13 de novembro, de 1981, morreu, em Salvador-BA, aos 92 anos de idade, o mestre Pastinha. Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 5 de Abril de 1889. Ele dedicou toda sua vida à arte da capoeira. Filho da capoeira mãe, a capoeira angola, Pastinha segue abençoando os capoeiristas nas rodas da vida.


A história da capoeira e a vida de Pastinha se confundem

(Com informações do Centro de Midia Independente e do site Sua Pesquisa.com)

Foi Benedito, um ex-escravo de origem angolana, que ensinou os primeiros passos de capoeira à Pastinha. Um depoimento do mestre, amplamente divulgado em livros e na mídia, descreve um pouco da infância de Pastinha:

"Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza."

"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse (o velho era Benedito) e eu fui".

Referindo-se aos ensinamentos de Benedito, Pastinha ressaltava: "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (...). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito..."

*O que é a Capoeira Angola? "Capoeira angola, mandinga de escravo em ânsia da liberdade. Seu princípio não tem método e o seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista. Capoeira é amorosa, não é perversa. É um hábito cortês que criamos dentro de nós, uma coisa vagabunda." (Mestre Pastinha).

A capoeira no Brasil

No século XVI, época em que o Brasil era colônia de Portugal e a mão-de-obra escrava africana era utilizada no país, os escravos vinham da região de Angola, também colônia portuguesa. Ao chegarem por aqui, os africanos desenvolveram formas de proteção contra a violência cometida pelos colonizadores europeus.

Mesmo que os escravos fossem proibidos de praticar todo tipo de luta, incorporaram os ritmos e os movimentos das danças africanas a um estilo de arte marcial. Surge, assim, a capoeira. Há quem pergunte, até hoje, o que é capoeira? Uma dança? Uma luta? Na verdade, este instrumento de resistência cultural e física dos escravos brasileiros manteve viva a cultura e as tradições africanas, incorporando, ainda, elementos da própria natureza e do contexto em que os escravos viviam. Se parece mais com um jogo, onde dança e luta se misturam, num diálogo de corpos.

"Capoeira é tudo que a boca come"

A prática da capoeira ficou proibida durante muitos anos, pois era vista como uma atividade violenta e subversiva. Nessa época, a polícia recebia orientações para prender os capoeiristas. Somente em 1930, um importante capoeirista brasileiro, mestre Bimba, criador da capoeira Regional, apresentou a luta para o então presidente Getúlio Vargas. O mandatário brasileiro gostou do que viu e logo a transformou em esporte nacional brasileiro.

Em 1941, mestre Pastinha registrou o Centro Esportivo de Capoeira de Angola no Pelourinho. Lá foram formados grandes mestres da capoeira como: Mestre João Pequeno, Mestre João Grande, Mestre Curió, Mestre Morais, entre outros. Em 1978, com 88 anos, mestre Pastinha perdeu a visão. Ele só continuou praticando capoeira porque era guiado pelos olhos de seus discípulos. Mesmo cego Pastinha seguiu conduzindo as rodas por alguns anos.

Despejado de sua academia, ele morreu em 13 de Abril de 1981, momento no qual a capoeira passou a ser reconhecida como fenômeno cultural.

Homenagem ao mestre, homenagem à capoeira, homenagem à vida...

Jogar capoeira é viver a história. É dialogar com seus pares numa roda de iguais. Não há pai, não há mãe, nem irmãos, ou, companheira. São dois corpos, duas almas. Há uma roda, um grito, um lamento. Ouve-se a ladainha. Ainda não existe o contato físico, mas se inicia a conexão espiritual. Entram em jogo concepções de mundo, de vida, de arte, de história.

São homens e mulheres, hoje livres. Capazes de atacar e esquivar; de fazer que vai, mas não vai, fazer que vem, mas não vem. "É jogo de dentro, jogo de fora. Jogo bonito, esse jogo é de Angola". Capoeira é a arte de nossos ancestrais. É a prova de que nossas raízes resistem as mudanças do tempo e permanecem fincadas na terra. Delas brotam e renascem, em nós, espíritos da resistência à escravidão.

É o mais perto do chão e do céu que se pode chegar. É a arte de cair e levantar. É a arte de aprender a viver. De aprender a respeitar os mais velhos e ensinar os mais novos. Como pressupõe todo o convívio entre iguais.

Iê! A volta que mundo deu. Iê! A volta que o mundo dá...

Viva mestre Pastinha!

Viva a capoeira angola!

Viva a cultura brasileira!




"Quando eu aqui cheguei a todos vim louvar, vim louvar a Deus primeiro morador desse lugar, agora eu tô cantando, cantando dando louvor, tô louvando a jesus cristo por que nos abençoou, tô louvando e tô rogando ao pai que nos criou, abençoe essa cidade com todos seus morador e na roda de capoeira abeçoe os jogador, camaradinha, que vai fazer? Iê, que vai fazer camará..." (Ladainha cantada por Mestre Pastinha).


“A sabedoria nunca foi demais, é inconcebível ao mais sábio dos mestres”

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