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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval: é a hora e a vez do Zé do Caroço...

Confira, logo abaixo, o vídeo com Mariana Aydar e Leci Brandão. Elas cantam a música Zé do Caroço, símbolo e exemplo a ser seguido pelos/as excluídos/as de todas as partes do Brasil.

Viva Leci Brandão, autora desse verdadeiro hino da resistência popular, amplificado pela comunicação independente; única comunicação capaz de transformar os agentes da informação em potenciais difusores da realidade em que vivem. Não da virtual-realidade, midiatizada cotidianamente pelos "grandes meios de comunicação".

Não existe fato jornalístico. Existem fatos. Cada um enxerga a realidade a partir dos pés onde pisa e, é, por isso, que se torna irremediável a reflexão sobre a resistência popular e a construção subjetiva da organização social. São ferramentas que podem ser utilizadas contra o mito, criado e recriado, do prazer a qualquer custo. Não existe verdade absoluta. Existem, isso sim, verdades mercantilizadas.

Ao escrever essa música, Leci Brandão mostrou a importância do "Zé do Caroço", ou melhor, da comunicação alternativa, das rádios comunitárias, do ato de dividirmos opiniões e construirmos a informação, sem a presença de mediadores.

O "morro do pau da bandeira" é aqui. É em qualquer lugar. O Zé do caroço é qualquer um. É quem estiver disposto a "pôr a boca no mundo e fazer um discurso profundo" para ver o bem da sua cidade, do seu bairro; do lugar onde vive. Só desta forma iremos compartilhar histórias de vida e construir um mundo melhor, mais justo e digno de se viver.

Bom Carnaval!

Letra:

O serviço de auto falante,

no morro do pau da bandeira,

Quem avisa é o zé do caroço,

amanhã vai fazer alvoroço,

alertando a favela inteira

há como eu queria que fosse em mangueira

que existe outro zé do caroco,

pra d'uma veiz pra esse moço,

carnalval não é esse colosso,

minha escola é raiz é madeira,

Mas é o morro do pau da bandeira

de uma vila isabel verdadeira

que o zé do caroço trabalha

que o zé do caroço batalha

e que malha o preço na feira

e na hora que a televisão brasileira

destrai toda gente com sua novela

é que zé põe a boca no mundo,

e que faiz um dicurso profundo

ele quer ver o bem da favela

esta nascendo um novo lider

no morro do pau da bandeira...

esta nascendo um novo lider

no morro do pau da bandeira...

esta nascendo um novo lider

no morro do pau da bandeira...

no morro do pau da bandeira...

Vídeo:

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

E rolam as páginas da vida...

Caminha-se só, em grupo, amparado e, até, paralisado. Sim. O caminho também é feito e efeito da imaginação. Mas não se trata de algo meramente ilusório. Ele é real. Talvez até mais verossímil do que as palavras - ou a falta delas - possam expressar. Se a vida fosse um texto com início, meio e fim, cada um escrevesse a sua história e a junção desses escritos formasse um livro, não haveria preocupação com o conto melhor grafado, possuidor das orações mais complexas, das conjunções mais perfeitas, da ortografia impecável, da lógica contundente. Não se daria tanto valor à coerência e não haveria espaço para a conclusão.

Um texto sem erros - sejam eles ortográficos ou gramaticais -, onde não existam equívocos de qualquer ordem, assemelha-se a uma existência sem a possibilidade de mudança (correção). É um texto chato, nulo, sem vida! É uma existência sem cor, um passar dos dias amargo, uma redação obrigatória e preestabelecida por normas, chamadas de "cultas".

A maioria das pessoas teme mais a solidão do que a morte. Mesmo que esta última seja o ponto final. Parece que a existência só torna-se possível quando, de alguma forma,  estamos completos. Contudo, preencher a si mesmo não se resume a ficar rodeado de pessoas por todos os lados. São palavras em excesso. É um texto prolixo.

A igreja garante que não estamos aqui por acaso. Há explicações, orações, suplícios e mártires, mas não há, - muitas vezes - harmonia nessas idéias. É a explicação da fé. Do invisível. Daquilo que não traz o retorno imediato, não é palpável e não corresponde à lógica deste mundo, o qual, por sua vez, não permite pausas  durante as "orações". É desta forma que estão balizados os sentimentos nos dias de hoje. O retorno possível apenas no aqui e agora. Se não for assim, não é satisfatório, não serve, é descartável.

Nesse contexto, mesmo sem nos darmos por conta, vamos grafando os livros de nossas vidas. Mal percebemos que os verdadeiros poetas não estão com a testa franzida, apontando para essa ou aquela história, julgando qual a melhor escrita. Estão apenas sentados no banco de uma praça qualquer e dialogam sobre escritos complexos à razão, mas fiéis ao espírito e, cada vez mais, honestos à alma.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

A manipulação midiática

É motivado por legados como o de Perseu Abramo, que o blog, Exílio Midiático, está procurando desenvolver um espaço capaz de dialogar com a realidade e aprofundar o pensamento crítico e reflexivo dos diversos elementos que compõem a sociedade e a mídia. Para tanto, não se pode ignorar o papel perverso das grandes corporações, transformadas, de forma cruel, em instâncias partidárias, defensoras dos poderes institucionalizados e do capital financeiro.

É somente dialogando com a realidade que torna-se possível encontrar as palavras que constroem o universo humano e democratizam as relações sociais para, assim, combater a mercantilização da informação e possibilitar uma participação efetiva na contrução do saber.

Como dizia o jornalista Perseu Abramo:
"Recriando a realidade à sua maneira e de acordo com seus interesses político-partidário, os órgãos de comunicação aprisionam os seus leitores neste círculo de ferro da realidade irreal, e sobre ele exercem o seu poder"

Portanto, cabe a cada um de nós, construtores e protagonistas de nossa própria história, e, principalmente, responsáveis pela transformação desse modelo atual, exercido nas grandes corporações midiáticas, questionarmos o que está sendo vendido como a única e objetiva revelação do fato noticiado.

É relevante prestar atenção se a voz que fala, as lentes que filmam e as palavras que ocupam as folhas dos jornais estão reproduzindo a única verdade que interessa a sociedade: aquela que se constrói a partir da vivência e da prática política e social.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A águia e a galinha habitam em cada um de nós

A história que reproduzo, logo abaixo, diz respeito a James Aggery, político e educador ganense que, certa feita, contribuiu para mudar a realidade social dos oprimidos de seu país. Em meio à acalorados discursos entre lideranças populares de Gana, Aggery discorreu contra a opressão de seu povo, à época sob domínio colonial da Inglaterra.



No livro, "A águia e a galinha", o teólogo Leonardo Boff vai além da explicação deste fato histórico. Busca confrontar os fundamentos da existência humana e as condições que determiam o que somos, além de evidenciar a potencialidade do que podemos ser, caso estejamos dispostos a desvincilharmo-nos de imposições psicolócgicas, sociais, políticas e econômicas.

Porém, aqui, neste curto espaço, será apenas apresentada a história que James Aggery contou aos seus compatriotas. Sua intenção era levá-los a lutar pela liberdade, que veio em 1949, após intensas lutas do Partido da Convenção do Povo, liderado por Kwame N'Krumah. Gana foi a primeira colônia inglesa a conquistar a independência. Esta história se fez pela liberdade de consciência do povo e pelo trabalho árduo de Aggery em mostrar que isso era possível.

Assim disse o educador aos seus companheiros:

“Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.

Depois de cinco anos, esse homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista: - Esse pássaro aí não é uma galinha. É uma águia.

- De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.

- Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.

- Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia. Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:

– Já que de fato você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe! A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O camponês comentou:

– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha! – Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã. No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurou-lhe:

– Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe! Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga:

– Eu lhe havia dito, ela virou galinha! – Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe: – Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra as suas asas e voe!

A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou… voou… até confundir-se com o azul do firmamento…”

E Aggrey terminou conclamando:

- Irmãos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nós ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nós somos águias. Jamais nos contentemos com os grãos que nos jogarem aos pés para ciscar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Última parte da resenha

DO REFORMISMO À LUTA ARMADA

Em artigo publicado em Novos Rumos no final de 1962 e intitulado “Golpe, imperialismo e democracia”, Mário Alves dá mais uma mostra da sua extraordinária lucidez analítica. Considera que “a partir da renúncia de Jânio foi rompida a relativa estabilidade política do País, que mergulhou a partir de então num período de sucessivas crises de governo, de agudos choques entre as forças detentoras do poder e de manifestações enérgicas de descontentamento das massas”.

Como solução pregava a unidade e a mobilização mais intensa das forças básicas da revolução brasileira, das grandes massas trabalhadoras e populares para garantir a vitória da luta pela libertação e pelo progresso. Apagava incêndio com querosene, assumindo, então, uma linha cada vez mais à esquerda das posições do secretário-geral do PCB.

E o racha do PCB chegou junto com o Golpe Militar. Ainda em abril de 1964, Mário escreveu “Esquema para discussão”, primeiro documento do PCB sob o novo regime responsabilizando o pacifismo de Prestes pela rendição sem resistência.

A resposta de Prestes veio no mesmo momento da primeira prisão de Mário Alves, coincidentemente após a apreensão de documentos feita na casa do secretário-geral, e que resultou na prisão de inúmeros quadros comunistas.

Durante a “ausência” de Mário, o Comitê Central aprovou documento que o responsabilizava, junto com Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e Manoel Jover Telles, dentre outras lideranças, pelos “desvios de esquerda”, pela superestimação precipitada das próprias forças, avaliação exagerada das possibilidades objetivas, ações precipitadas, isolamento das massas, sectarismo e por aí vai ladeira abaixo.

Nascia assim o bloco de oposição a Prestes conhecido como Corrente Revolucionária, que mobilizava a maior parte dos núcleos ativos do PCB e que tinha como lideranças, além dos nomes já citados, Marighella e Câmara Ferreira.

Na realidade, sob o pretexto de procurar culpados pelo golpe militar, os comunistas disputavam a direção do PCB, principal organização da fracionada esquerda brasileira.

Foi justamente Marighella quem implodiu a luta interna ao comparecer a uma reunião da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) em Cuba sem autorização do PCB. Na oportunidade, fez ainda um pronunciamento pelo rádio criticando o pacifismo do partido e anunciando sua disposição para iniciar a guerrilha no Brasil.

Em resposta, o Comitê Central emitiu resolução expulsando o dirigente e, no mês de dezembro do mesmo ano, completou a limpeza ideológica expulsando os demais líderes da corrente.

Desmantelado o grupo, abria-se o caminho da resistência armada à ditadura militar. Assim, em 1968, Marighella organiza a Ação Libertadora Nacional (ALN). Mário Alves, Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e outros companheiros, criam, no mesmo ano, o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Já os comunistas da Dissidência da Guanabara fundam o Movimento Revolucionário 08 de Outubro (MR-8).

O historiador defende que, independente do ponto de vista que se parta, não se pode dissociar os avanços democráticos posteriores das incursões da esquerda pela luta armada, seja para justificar um possível atraso na abertura do regime ou entender o tortuoso processo de revisão política em que todos os setores se viram mergulhados pela imposição dos fatos.

Se a opção da luta armada mostrou-se adiante como um trágico erro tático, por outro, era o caminho mais digno para aqueles que guardavam a chama da revolução socialista acesa na mente e no coração.

Para a repressão, passou a ser uma questão prioritária a eliminação física de lideranças como Mário Alves e Marighella tanto pelo passado de lutas como pela grandeza moral e, sobretudo, pelo exemplo pessoal que representavam para os comunistas. Principalmente Mário Alves, considerado pelo autor o quadro mais consistente, combativo e capaz que a esquerda do PCB conseguiu gerar ao longo de sua história.

Passados 39 anos de sua morte, muitos dos desafios enfrentados pelo PCB – política de alianças com setores da burguesia nacional e internacional, neocaudilhismo, reformas de base, perda do horizonte e da praxis socialistas, etc - continuam postos para a esquerda brasileira. A boa notícia trazida por Gustavo Falcón é que Mário Alves continua vivo.

# José Falcón Lopes é jornalista.

Confira todas as postagens sobre o Livro:

Livro de Gustavo Fálcon mantém viva a luta e a trajetória política de Mário Alves

Leia a "orelha" do livro de Gustavo Falcón

Resenha do livro: Parte 1

Resenha do livro: Parte 2

Resenha do livro Parte 3

Crise para quem precisa

Constantemente presenciamos situações em que as pessoas são taxadas de "despreparadas" ou "incapazes", frente a demanda do mercado de trabalho. As demissões em massa atingem não só os grandes centros de produção do capital, mas, também, agridem a já devastada e empobrecida América Latina.

Quando se produz é importante questionar: - se produz o quê? Para quem? Quando se consome é um pouco mais complexo: - se consome o quê? Com que necessidade? E, principalmente: - por quê?

Não somos instruídos a refletir sobre situações vivenciadas em nosso cotidiano. Isso acaba fazendo com que nos alienemos dos processos pelos quais iremos sofrer as conseqüências logo ali adiante. É aquela velha história, após ser explorada pelos colonizadores europeus, a "massa humana" da latino América, tornou-se descartável. Como descartável foram, e são, todos aqueles que deram a vida nas minas de ouro e de prata para enriquecer as nações do velho continente.

O tempo passou e o solo reclamou as consequências. Como, por exemplo, o nordeste, que, chorando, mostrou-se ao mundo como "a região das savanas". Quem diria que lá era o local mais abençoado pelas chuvas no Brasil? Mas os colonizadores conseguiram esterelizar estas terras com as plantações de açúcar.

A importância de libertar a consciência

Julgar e atribuir opinião a determinadas situações exige conhecê-las. Infelizmente nem todos pensam assim. Como desconsiderar nossas origens e as características que formam a nossa maneira de pensar e de agir perante as adversidades?

Em suma, o processo de libertação dos oprimidos, tão distante dos cliques das máquinas, do foco das câmeras e dos olhos da nação - quando o assunto não diz respeito à violência ou tragédia - passa, necessariamente, por uma mudança na forma como cada um se enxerga no mundo e potencializa a sua existência. Não adianta fechar os olhos. A disputa entre a opulência e a miséria está escancarada há séculos. Agora só está, também, batendo às nossas portas. Em breve ela vai sentar-se à sala. Será difícil rejeitá-la.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Blog do Arte Daqui está no ar

Está no ar e, em constante atualização, o blog do projeto Arte Daqui III. Este é mais um espaço para que se conheça a cena musical da cidade de Pelotas. A diversidade cultural, presente na princesa do sul, está a flor da pele, e, agora, conta com a possibilidade de ser divulgada, via internet, para todo o mundo.

Acessando: www.artedaqui.blogspot.com, é possível ter contato com a arte e a história dos músicos que compõem a terceira edição do projeto desenvolvido pela RádioCom. Ainda em fase de conclusão, o blog já conta com a divulgação do trabalho daqueles músicos que enviaram seus dados para serem atualizados na rede mundial de computadores.

Além de ser uma forma de conhecer melhor cada um dos 19 participantes do projeto, o blog é um espaço para aquelas pessoas que procuram discutir a arte local e tem sede de beber dessa cultura.

Programa Arte Daqui

Desde o dia 23 de janeiro de 2009, é possível acompanhar ao vivo na RádioCom 104.5 fm, inclusive via internet, ( BASTA CLICAR AQUI ), o programa Arte Daqui. Ele vai ao ar todas as sextas, das 21h às 21h30 e conta com a produção e apresentação de Valder Valeirão e Sulimar Rass.

Saiba mais:

Entre no blog do projeto Arte Daqui III

Acesse o site da RádioCom

Confira o post no Exílio Midiático falando sobre o ARTE DAQUI III - Pelotas-RS


Músicos que fazem parte do Arte Daqui, volume III

JULINHO PINHEIRO - MAIAWI
VIRGINIA MACHADO - CANTAR
GILBERTO ISQUIERDO - VIDA
GILBERTO OLIVEIRA - NAVIO NEGREIRO
REGGAE DA LUTA - PAZ AMOR E JUSTIÇA
GIAMARE - UM CANTO PA OCE
MARCELINHO RAPPER - CONVERSA COM GUEVARA
PIMENTA BUENA - CANEAVALE
SOVACO DE COBRA - BREJEIRO
FREDERICO VIANA - QUANDO O VERSO NÃO VEM
RO BJERCK - TEMPO DE ESPERA
SUPREMA ORDEM - FORÇAS E FORMAS
ALOISIO ROCHAMBACK - LUGAR INCOMUM
O ZE E TATU - IASSAIR
JOAO MANTOVANI - OLHO DO DRAGAO
UNIVERSO PARALELO - FORTALEZA
VAN ZULLAT - SAMBA JACARE
AGUA DE MELISSA - SOL DE NASCER
PRETA G - NEGRA GUERREIRA

Resenha do livro: Parte 3

*Esta é a penúltima parte da resenha que destaca o livro:"Do reformismo à luta armada: A trajetória política de Mário Alves (1923-1970)" . O livro é de autoria de Gustavo Fálcon, já a resenha, que está sendo apresentada no blog ,dividida em quatro partes, foi escrita pelo jornalista José Falcón Lopes.

EMBATES INTERNOS

Em 1956, durante o XX Congresso do PCUS, o camarada Kruchev escancarou para todo o mundo os crimes cometidos por Stálin e o PCB se viu obrigado a abandonar o isolamento. Mesmo ilegais, suas atividades contavam com as vistas grossas do presidente Juscelino Kubitschek.

Para o autor, apesar da debandada de inteligências brilhantes da geração de Mário Alves – entre os quais João Batista de Lima e Silva, Osvaldo Peralva e Antonio Paim – e da expulsão de quadros históricos como Agildo Barata, a desestalinização abriu campo não só para uma nova geração de dirigentes, mas para uma ruptura com as interpretações mecanicistas da realidade brasileira.

A nova linha seguida pela Comissão Executiva, exposta na “Declaração sobre a política do PCB”, publicada em março de 1958, teve Mário Alves como principal redator. O documento, aprovado pelo V Congresso do PCB (1960), entendia que as conquistas essenciais do proletariado russo precisavam ser preservadas e a luta de classes, no plano internacional, exigia a defesa da URSS e da revolução bolchevique.

No plano nacional, em lugar do enfrentamento com o regime, o documento defendia a acumulação de forças para a luta democrática. Os comunistas passam a reconhecer o papel democrático de alguns setores das elites e de segmentos sociais e defendem a aliança com alguns partidos e forças progressistas. Em síntese, chegavam à década de 1960 pleiteando legalidade constitucional para atuar legítima e autonomamente nos embates eleitorais e no seio do movimento operário.

Nos embates internos, quadros experientes e históricos como João Amazonas, Maurício Grabois, Diógenes Arruda e Sérgio Holmos foram destituídos da comissão executiva e do secretariado do Comitê Central. Dessa dissidência é que surgirá, em 1962, o PCdoB.

Nesse período, com pouco mais de 30 anos, Mário Alves atingiu o auge de sua condição de militante comunista e o coração político do partido. Tornou-se membro do Comitê Central (30 dirigentes) e da Comissão Executiva (nove dirigentes), além de diretor do principal jornal do PCB, o semanário comunista Novos Rumos.

Mário integrava ainda a Secretaria Nacional de Educação Política, o Conselho da Editorial Vitória e representava oficialmente o PCB em solenidades nacionais e internacionais, passando a ser o terceiro homem na hierarquia do partido, atrás apenas de Giocondo Dias e Luís Carlos Prestes.

Porta-voz da nova orientação do partido, seus textos - que ainda merecem tratamento e organização adequados -, faziam sucesso dentro e fora da militância tanto pela consistência dos argumentos, como pelo estilo sarcástico, demolidor, impiedoso com o adversário ou personagem eleito para o comentário.

POPULISMOS E DITADURA

Além da desestalinização dos PCs por todo o mundo, o final dos anos 1950 trouxe como novidade no cenário internacional o sucesso da Revolução Cubana. Internamente, era o governo desenvolvimentista de JK que fazia o milagre dos “50 anos em cinco”.

Nas eleições presidenciais de 1960, os comunistas apóiam o general Lott, candidato de JK, derrotado pelo populista Jânio Quadros. Conforme permitia a legislação eleitoral da época, o populista de esquerda João Goulart (Jango), parceiro de chapa de Lott, foi reeleito vice-presidente (já o havia sido no Governo JK).

Meses depois, o povo brasileiro assistia embasbacado à renúncia de Jânio Quadros e ao conflito institucional provocado pela posse de Jango que, na opinião do autor, oscilou pendularmente entre seus aliados até que se viu refém dos golpistas. Fez um atribulado percurso até realizar o que Jânio não conseguiu.

Gustavo ancora sua interpretação do Golpe Militar em Severo Salles, para quem o populismo havia chegado a uma disjuntiva extrema: ou substituíam por outro regime, provavelmente autoritário e situado na via de modernização conservadora, ou rompiam as modalidades de conciliação e de representação inorgânica que praticava, buscando alterar aspectos importantes da estrutura da sociedade brasileira, estendendo a democracia a limites mais amplos, inclusive a suas projeções econômicas e sociais.

*Mais informações sobre o livro:

Livro de Gustavo Fálcon mantém viva a luta e a trajetória política de Mário Alves

Leia a "orelha" do livro de Gustavo Falcón

Resenha do livro: Parte 1

Resenha do livro: Parte 2

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Resenha do livro: Parte 2

*Segue abaixo a continuação da Resenha do livro: "Do reformismo à luta armada: A trajetória política de Mário Alves (1923-1970)" escrita pelo jornalista José Falcón Lopes:

COMUNISMO

Na Salvador dos anos 1930-1940, dá-se o encontro do jovem Mário com o comunismo. Em 1939, aos 16 anos, ele entra para o PCB e logo se destaca como liderança estudantil na luta anti-fascista. Chega, inclusive, a ser presidente da Associação Brasileira de Estudantes Secundaristas (ABES), tendo com vice o jovem Milton Santos. Logo viriam também os reconhecimentos pela capacidade de formulação política, sagacidade intelectual e atividade jornalística em O Momento, órgão da imprensa popular do PCB na Bahia.

INTELECTUAIS ORGÂNICOS

Mário Alves, Antonio Paim, Moisés Vinhas, Almir Matos, Aydano do Couto Ferraz, Ariston Andrade, Rui Facó, Oswaldo Peralva, Jacob Gorender e João Batista Lima e Silva, dentre outros nomes, formaram uma importante geração de comunistas baianos dedicados ao jornalismo partidário.

Utilizando uma expressão cara ao comunista italiano Antonio Gramsci, uma geração de “intelectuais orgânicos” comprometidos com a emergência de uma classe social capaz de construir uma nova ordem econômica, política e social, a classe operária.

Nessa linha, o autor cita o importante levantamento feito por Sônia Serra para sua dissertação de mestrado em Ciências Sociais - “O Momento: história de um jornal militante”, UFBA, 1987 -, segundo o qual, durante o lampejo de vida institucional que viveu de 1945 a 1947, o PCB organizou o jornal A Classe Operária (órgão central do partido), uma dezena de revistas teóricas, oito jornais diários, dezenas de editoras, tipografias e livrarias. Um aparato de comunicação de fazer inveja aos partidos políticos da esquerda brasileira contemporânea.

Mais do que isso. O PCB contava com quadros experimentados nas lutas sociais e embates políticos. Gozava de credibilidade junto aos movimentos de trabalhadores e grupos de intelectuais. Transformava-se assim num verdadeiro partido de massas e, com mais de 200 mil militantes, o maior de todos os PCs da América Latina.

FAMÍLIA E CLANDESTINIDADE

Em 1946, então com 23 anos, Mário Alves casou-se com Dilma Teixeira Borges, militante comunista do Rio de Janeiro que conheceu durante um curso de formação promovido pelo partido.

Um ano depois, acabava a ilusão democrática: o PCB era novamente posto na ilegalidade acusado de atuar como seção do Partido Comunista da União Soviética (PCUS).

Perseguido pelo aparelho repressivo do Estado, o PCB assumiu uma postura esquerdista, conspiratória e sectária sintetizada no Manifesto de Agosto de 1950, assinado por seu secretário-geral, Luís Carlos Prestes.

Militante profissional, Mário foi transferido pelo partido para São Paulo e passou a secretariar um alto dirigente. Durante a clandestinidade, nasceu a única filha do casal, Lúcia Borges Vieira que, em depoimento ao autor, disse recordar de ter morado em mais de 40 casas diferentes nesse período.

A segurança de seus líderes e a formação de “escolas” em sistemas de internato passou a consumir grande parte da energia do PCB, que ainda organizava embaixadas especiais à URSS, enviando seus mais destacados militantes para se aperfeiçoarem na doutrina marxista-leninista.

Em 1953, numa dessas viagens à União Soviética, embarcou Mário Alves, que só retornou ao Brasil em 1955. Durante sua ausência, as dificuldades em garantir segurança à vida de Lúcia fizeram com que Dilma a enviasse para a casa dos avós paternos na Bahia.

José Falcón Lopes

*continua...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Resenha do livro: Parte 1

Destaco neste post, conforme havia prometido, a resenha da interessante obra literária de Gustavo Fálcon. A resenha será dividida em quatro partes para facilitar a leitura

Abaixo a primeira parte, escrita pelo jornalista José Falcón Lopes:

*A vez e a voz de Mário Alves

Comunista baiano, líder da Corrente Revolucionária do PCB e fundador do PCBR, recebe biografia 39 anos depois de sua morte nos porões do regime militar.

Por José Falcón Lopes

Mário Alves de Souza Vieira. Comunista baiano assassinado pela Ditadura Militar entre os dias 16 e 17 de janeiro de 1970 nas dependências do I Batalhão da Polícia do Exército, no Rio de Janeiro. Morreu sob tortura e não entregou aos seus assassinos o motivo pelo qual foi condenado: suas convicções.

Vitimado pelo sistema que combateu, manteve-se coerente aos ideais em que acreditava. Por isso, 39 anos depois de sua morte e do desaparecimento de grande parte dos regimes comunistas, Mário Alves continua existindo.

Relatos de companheiros e parentes, entrevistas, citações em livros, artigos de jornais, fotografias e documentos, enfim, peças do enorme quebra-cabeça que ajudam a contar sua história foram reunidas no livro “Do reformismo à luta armada: a trajetória política de Mário Alves (1923-1970)”, do jornalista e sociólogo Gustavo Falcón.

A obra é resultado da tese de Gustavo para o doutorado em História na UFBA e, antes mesmo de virar livro, mereceu um artigo do eminente jornalista Emiliano José – autor, dentre outros títulos, de “Lamarca: o capitão da guerrilha”, “Marighella: o inimigo número um da ditadura” e “Victor Meyer, um revolucionário” - publicado na revista Carta Capital de 26 de março do ano passado.

No texto intitulado “A dor de Dilma”, Emiliano, que integrou a banca examinadora da tese, relata o sofrimento vivido pela esposa de Mário Alves, que lutou para que a União reconhecesse o assassinato de seu marido e entregasse seu corpo à família. Dilma Borges Vieira morreu em 1985. O reconhecimento do Estado brasileiro pela morte de Mário Alves só veio em 1º de dezembro de 1987. Seu corpo até hoje não foi encontrado.

CONTEXTOS

Dividido em seis capítulos, o livro começa pelo que o senso comum entenderia como o fim: a onda de prisões e eliminações de militantes do PCBR entre 1969 e 1970. No entanto, o historiador faz desse o mote para a reconstrução dos contextos históricos, políticos e sociais que passam a dividir com Mário Alves o papel de estrela do livro. Afinal, os 47 incompletos e intensos anos vividos pelo comunista são fortemente marcados e influenciados por acontecimentos que valeram ao século passado a alcunha de “era dos extremos”, conferida pelo historiador marxista Eric Hobsbawn.

O autor levanta as origens sertanejas do comunista e descobre não só uma linhagem política poderosa, mas traços marcantes de sua personalidade em comum com um tio considerado herói da Marinha brasileira de quem, coincidentemente, herdou o nome.

*continua...

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