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sábado, 27 de novembro de 2010

5º Seminário de Pesquisa CEPOS

Programação:08:30 – Abertura
Autoridades acadêmicas (internas e externas)

09:00 – Mesa 1: Digitalização e desenvolvimento
Expositor: Prof. Dr. Valério Cruz Brittos (UNISINOS)
Expositor: Prof. Dr. César Bolaño (UFS)
Expositor: Prof. Dr. Martín Becerra (UNQ) – Argentina
Mediador: Prof. Dr. Inácio Neutzling (UNISINOS)

10:45 – Exposição de livros do grupo (intervalo)

11:00 – Mesa 2: Inovação e movimentos
Expositor: Prof. Dr. Sérgio Augusto Soares Mattos (UFRB)
Expositor: Prof. Dra. Maria Trinidad Garcia Leiva (UC3M – Espanha)
Expositor: Prof. Ms. Luciano Correia dos Santos (UFS)
Mediador: Prof. Dr. César Steffen (FTEC)

12:30 – Almoço

14:00 – Mesa 3: Estratégias e conteúdos
Expositora: Profa. Dra. Sandra Reimão (USP)
Expositor: Ms. Andres Kalikoske (UNISINOS)
Expositor: Msto. Denis Gerson Simões (UNISINOS)
Expositora: Msta. Rafaela Barbosa (UNISINOS)
Mediador: Prof. Dr. Sérgio Endler (UNISINOS)

15:45 – Mesa 4. Audiovisual e cidadania

Expositor: Prof. Dr. Roberto Ramos (PUCRS)
Expositora: Profa. Dra. Jacqueline Dourado (UFPI)
Expositora: Ms. Carine Felkl Prevedello (UFSM)
Expositoras: Ms. Ana Maria de Oliveira (UNISINOS); Ms. Maíra Bittencourt (UNISINOS)
Mediadora: Profa. Suzana Kilpp (UNISINOS)

17:30 – Exposição de teses, dissertações e monografias do grupo (intervalo)

17:45 – Mesa 5. Sociedade e alternativas
Expositor: Prof. Dr. João Miguel (UEM – Moçambique)
Expositores: Prof. Dr. Bruno Lima Rocha Beaklini (UNISINOS); Ms. Rodrigo Jacobus (UFRGS); Rafael Cavalcanti Barreto (FITS)
Expositoras: Profa. Dra. Nadia Helena Schneider (Sec. Municipal de Educação Dois Irmãos); Profa. Ms. Paola Madeira Nazário (UNISINOS)
Expositor: Msto. Eduardo Menezes (UNISINOS)
Mediadora: Profa. Dra. Paula Puhl (FEEVALE)

19:15 – Encerramento (avaliação e planejamento)
Prof. Dr. Valério Cruz Brittos (UNISINOS)
Prof. Dr. Martín Becerra (UNQ)
Todos os participantes.

Mais informações: Clique AQUI

Escândalos políticos e barrigadas no processo eleitoral

No último dia 31 de outubro, teve fim mais um processo eleitoral no Brasil. A candidata petista, Dilma Rousseff, saiu vitoriosa não apenas nas urnas, mas também na sua relação com os meios de comunicação. Desde a redemocratização do país, em 1985, quando José Sarney assumiu a presidência da República e acabou o regime militar, percebe-se, mesmo com toda dificuldade imposta pela mídia, um amadurecimento da sociedade em períodos decisivos para os rumos nacionais. Ao mesmo tempo, momentos fundamentais para a vida política brasileira – como os anteriores às eleições, incluindo as definições internas de cada partido – são conformados longe dos olhos da maior parte dos eleitores e, para piorar, encobertos pelas lentes distorcidas dos grupos de comunicação hegemônicos.

Basta observar quais pautas estiveram em destaque nos canais de TV durante os dois meses e meio de campanha, como tais temáticas foram abordadas e, além disso, quem foram os protagonistas destes fatos, para perceber que, a disputa de 2010, se deu bem ao gosto dos canais comerciais, com factoides para todos os lados. As reportagens cômicas do Jornal Nacional (JN), ao fim favoráveis ao candidato tucano, José Serra, e as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Portal Terra, em repúdio a alguns órgãos de imprensa, contrastando com sua postura nos oito anos de governo, estão, ao menos, obrigando os meios de comunicação a assumir que têm lado.

Quebra de sigilo e tráfico de influência

A investida do PSDB para desqualificar sua principal adversária contou com a acusação à petistas pela quebra do sigilo fiscal da filha do candidato peessedebista, Verônica Serra. Uma manobra arriscada que rendeu acusações de ambos os lados, repercutiu no segundo turno e esquentou mais os ânimos entre os partidos. Na busca por alcançar a candidatura do PT, os tucanos miraram com força em Erenice Guerra, então ministra-chefe da Casa Civil. Antes de assumir esse cargo, ela atuava como secretária-executiva de Dilma, porém, após a acusação de tráfico de influência na Casa Civil, teve de ser afastada e execrada pelo governo. Os veículos de comunicação aliados à candidatura de Serra não fizeram nenhum esforço para demonstrar a propalada imparcialidade durante a cobertura dos fatos e, tão logo os ânimos se acirraram, o jornal Estado de S. Paulo, por exemplo, assumiu em editorial apoio inequívoco ao candidato do PSDB.

As agressões pessoais e as denúncias de irregularidades, envolvendo nomes próximos aos dois candidatos que despontaram para o segundo turno, passaram a ocupar o espaço das discussões, sobrepondo-se ao debate dos projetos políticos para o país. Ao invés de propostas, petistas e tucanos apresentaram suas imagens, tentando descolá-las de qualquer indício de participação nos casos investigados pela Justiça. O rebaixamento do discurso foi ruim para os dois lados, mas revelou-se ainda pior para a credibilidade da política nacional, pois o processo democrático acabou arranhado, mais uma vez, em função do debate egocêntrico dos candidatos e da cobertura cenográfica da mídia. É a política sem política, numa reconstrução pós-moderna dos processos de fixação dos rumos públicos.

Inversões e lavagem de dinheiro

O que os tucanos não queriam aconteceu. Após as denúncias da quebra de sigilo de Verônica Serra, as investigações da Polícia Federal (PF) intensificaram-se e descobriu-se que a ação poderia fazer parte de uma guerra interna do PSDB. O jornalista Amaury Ribeiro Júnior ganhou destaque na mídia e garantiu à PF que agia em nome do jornal Estado de Minas, o qual, supostamente, estaria defendendo o nome de Aécio Neves nas prévias tucanas, como candidato à presidência. Conforme o próprio jornalista, sua atuação opunha-se ao deputado Marcelo Itagiba (PSDB-RJ), o qual, a mando de Serra, faria o mesmo contra Aécio para assegurar a vitória de seu aliado numa possível disputa interna.

A exatos 11 dias antes da votação decisiva para o pleito presidencial, um despachante chamado Dirceu Garcia concedeu entrevista exclusiva ao repórter César Tralli, da TV Globo, confirmando que havia recebido dinheiro para intermediar todo o esquema. A reportagem tentou levantar suspeitas de que a quebra de sigilo estaria ligada à candidatura petista e não falou sobre o relatório Caribe, anexado ao inquérito da PF. A apuração feita por Ribeiro Júnior sobre a Operação Caribe deve render um livro chamado Os porões da privataria, no qual ele denuncia supostos crimes de lavagem de dinheiro e esquemas ilegais de financiamento durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC).

Em meio aos escândalos, o trivial

As reportagens descontextualizadas acabam sendo de difícil compreensão e, até mesmo, pouco atraentes, para a média da população. Sendo assim, o JN investiu em outra matéria, também no dia 20 de outubro, fazendo referência a uma suposta agressão de militantes petistas ao candidato tucano. O episódio teve grande repercussão, contudo, não foi a esperada pela produção do telejornal. A entrevista com o médico Jacob Kligerman, falando sobre a necessidade de realizar uma tomografia em Serra, após ele ser atingido por um objeto, o qual, no dia seguinte, seria identificado pelo perito Ricardo Molina como um rolo de fita crepe, deu tons de comédia ao caso.

Assim os canais de televisão enfeitaram os últimos dias da campanha. O escárnio feito com a inteligência do público pode ter contribuído para afetar a relação entre maioria dos telespectadores, mídia hegemônica e resultado eleitoral. Os programas de transferência direta de renda do governo Lula e as ações que provocaram o atual surto de desenvolvimento do país (com uma enorme expansão da classe média) são motivadores mais fortes no processo eleitoral do que um conjunto de acusações mal explicadas. Na verdade, os avanços na área social asseguraram uma melhora de vida considerável na maior parte da população brasileira, apesar das críticas passíveis de serem feitas, e isso não pode ser negociado no nível das agressões editadas ou, ainda, das liberdades midiáticas pouco discutidas.

Originalmente publicado em: Observatório da Imprensa

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Cepos Debates chega a Pelotas

Atividade reuniu militantes de movimentos sociais e contou com o apoio da Rádiocom 104.5 FM e do Sindicato dos Bancários de Pelotas e Região

O Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos) marcou presença em Pelotas no último sábado do mês de outubro, dia 30, véspera do segundo turno das eleições. O encontro ocorreu no Sindicato dos Bancários de Pelotas, tendo um bom quórum de participantes. A data não poderia ser mais propícia para o debate, pois a idéia do seminário era discutir a relação que se estabelece entre os donos da mídia e as forças políticas que atuam na sociedade nos dias de hoje. A proximidade com o pleito presidencial acabou rendendo boas análises de como estava ocorrendo a midiatização do processo eleitoral. Em clima de camaradagem e conversa franca, como é de praxe nos encontros promovidos pelo Cepos, todos puderam participar do debate, havendo espaço garantido para o contraditório, como pressupõe um bom embate de idéias.

Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação (PPGCOM) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), o grupo Cepos conta hoje com um total de 18 membros fixos, tendo como coordenador o professor Valério Cruz Brittos. Os encontros chamados de “Cepos Debates” ocorrem de forma descentralizada nas mais diversas regiões do Brasil, sobretudo nos lugares por onde transitam seus componentes. Alinhado a perspectiva da Escola de Frankfurt e tomando como um dos principais referenciais teóricos a Teoria Crítica, realizam-se discussões dentro e fora do ambiente acadêmico para ajudar a refletir, de forma sistemática, sobre o atual cenário das indústrias culturais e das políticas de comunicação no Brasil e no mundo.

Em Pelotas, os professores da Unisinos Valério Brittos e Bruno Lima Rocha, e o jornalista, Rodrigo Jacobus, utilizaram os estudos da Economia Política da Comunicação (EPC) como método de abordagem para pensar o direito à comunicação no Brasil. Brittos fez questão de enfatizar a importância de colocar teoria e prática para andarem lado a lado, “é preciso ultrapassar os limites institucionais e dialogar abertamente com os movimentos populares, pois o compromisso das pesquisas científicas é, sobretudo, um compromisso com a comunidade”, disse. Não só ele, como todos os pesquisadores presentes, ressaltaram a importância de deixar de lado as formalidades científicas e as titulações acadêmicas para, assim, permitir uma troca de conhecimento honesta. Segundo Rocha, “trata-se de um processo de construção mútua, cuja finalidade, principal, consiste na autonomia dos movimentos sociais ao desfraldarem, pela via direta, suas bandeiras de luta".

*Na foto acima estão sentados da esquerda para a direita: Bruno Lima Rocha (Unisinos), Valério Brittos (Unisinos), Rodrigo Jacobus (UFRGS) e José Luiz Moraes (RádioCom).

Fotos com os companheiros que ficaram até o final do evento













Créditos:
Banner do evento: criação de Andres Kalikoske
Fotos no corpo do texto: Carlos Alberto Brito Alves
Fotos de todo o grupo: Daniel Hammes (foto alinhada à esquerda), Eduardo Menezes ( foto alinhada à direita).

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Jogue uma bolinha de papel na televisão e lacre a saída de áudio com fita crepe!

O Jornal do Serra, digo, o Jornal Nacional (JN), veiculou uma reportagem ridícula nesta quinta-feira (21), digna de fazer crer que, além de um "papelão", o candidato tucano também estaria fazendo "fita". Alguém já ouviu falar de outra pessoa que precisou realizar uma tomografia por causa de um rolo de fita crepe lançado em sua cabeça?

Certamente a dor do tucano é outra. Ele não consegue crescer nas pesquisas, sua popularidade é infinitamente menor que a do atual presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, e, para piorar, sua mudança paradigmática de Zé caô para Zé do bem, só fez ele despencar na preferência do eleitorado, chegando cada vez mais perto de se tornar o Zé ninguém.

Sejamos francos, o JN já foi melhor em suas investidas sensacionalistas. Em defesa de seu candidato esquálido, o casal modelo, da mídia escrota, está ajudando a transformar qualquer resquício de democracia neste país em piada. Essas bizarrices, não vejo expressão melhor para definir tamanha falta de credibilidade com que estão pautando a política nacional, só faz a dita "grande mídia" conseguir mais adeptos para a campanha do "quanto pior melhor".

Tudo vira drama nas lentes das câmeras globais sedentas por um caso maniqueísta. É a trama perfeita para um dramalhão, e disso, não tem como discordar, a Globo entende bem. Acontece que ninguém mais acha Fantástico o Jornal Nacional promover o maior ti-ti-ti para defender uma caricatura da velha política nacional. Que tanto medo a Rede pró-Golpe de 1964 tem de mais um governo petista? Se não sofreram nenhum arranhão em sua hegemonia nestes oito anos, por que sofreriam agora? Isso tudo é ódio de classe?

Estão com medo das proposições aprovadas na Confecom? Da regulamentação dos meios de comunicação? A idéia de um controle social da mídia os assusta? Não basta os ministros das Comunicações que passaram pelo Governo Lula serem, todos eles, de uma forma ou de outra, identificados com a Globo e com as forças políticas responsáveis pelo golpe militar no Brasil? O plim plim está ficando cada vez mais receoso de piscar para o público. Este, agora começa a agir como se despertasse de uma hipnose, na qual, esteve imerso 45 anos. Que curioso, o mesmo número do candidato da emissora.

Já não dá mais para dizer que "a gente" se vê por aqui, pois, lá e cá, ou, em qualquer lugar, o que se vê é o império da família Marinho começar a ruir. Não estou sendo otimista demais não. Quando se deixa de eleger o seu candidato, mesmo não existindo uma oposição verdadeiramente determinada em acabar com a sua "festinha", leia-se retirar a concessão pública do canal por estar sendo mal utilizada, percebe-se uma pequena rachadura na base de sustentação dessa hegemonia.

Tempo e dinheiro para manusear as forças responsáveis pelo conserto desta estrutura os globais têm, no entanto, parece estar começando a lhes faltar o que Roberto Marinho tinha de sobra, ou seja, influência e adaptação à política de turno. As relações de poder, nestes tempos em que um ex-líder sindical é o homem mais importante do país, confrontam-se diretamente com os símbolos do passado. Nesse contexto, os ex-exilados intelectuais e hipocondríacos, metidos a querer gerenciar os programas assistencialistas, não passam de genéricos prolixos com crise de identidade e em fase de extinção.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A liberdade do capital e a escravidão simbólica

Entre o final de semana passado e o início desta semana passou a circular na internet um vídeo divulgando a criação da "nova abertura" da série Os Simpsons, de autoria do grafiteiro Banksy. Na última segunda-feira, 11 de outubro, a emissora pública do Estado britânico, British Broadcasting Corporation (BBC), publicou uma matéria falando sobre o assunto e salientou: "a ideia teria sido inspirada em supostas notícias de que os produtores da série terceirizariam a maior parte do trabalho para uma empresa na Coreia do Sul".

Embora o caso seja revoltante, a julgar apenas por essas informações, tal situação não deixa de ser apenas curiosa, pois, não espanta muito o fato da FOX, emissora de televisão norte-americana ligada à News Corporation, de Rupert Murdoch, estar explorando mão de obra barata para vender suas produções midiáticas e fortalecer um dos maiores conglomerados de mídia da Europa. Talvez só obrigando-me a fazer referência a outro célebre ditador midiático, dono do Mediaset, o qual também atua nesse continente, o magnata e neo-fascista italiano, Silvio Berlusconi.


Vídeo de Banksy com a "nova abertura" de
Os Simpsons

A série estadunidense, Os Simpsons, foi criada pelo cartunista Matt Groening e desenvolvida especialmente para a FOX, tendo como principal intúito satirizar o american way of life e entreter um público abrangente, já que recebe dublagens para o espanhol e português e circula, através dos seviços de TV por assinatura, para os mais variados lugares do globo terrestre. A crítica dos Simpsons à classe média norte-americana é válida, mas, ainda mais importante, é questionar como são elaboradas e executadas estas produções hollywoodianas e quais os intresses econômicos e políticos que estão por trás dos bens simbólicos oriundos da indústria cultural.

A forma como Murdoch e Berlusconi conseguem coagir qualquer suspiro de orientação regulatória em seus países é um alerta para a importância de se pensar em modelos de regulação pública, os quais, necessariamente, não podem estar vinculados ao controle excessivo do Estado, mas devem ser suficientemente capazes de interferir na livre atuação desses agentes, evitando que ocorram os mais absurdos e incontestáveis abusos de poder por meio do uso dos media.

Murdoch e Berlusconi

Um fato que ilustra bem essa preocupação é a ingerência que Murdoch estabeleceu ao longo dos anos, na Inglaterra, sobre os partidos conservador e trabalhista. Sabendo da força e da influência do jornal The Sun, nenhum grupo partidário ousou medir forças com o todo poderoso proprietário desta publicação. Foi, inclusive, nesta mesma direção, que o Governo Thatcher resolveu não se meter na aquisição da British Satellite Broadcasting pela Sky, empresa que já pertencia ao grupo Murdoch, originando, a partir desta fusão, a British Sky Broadcasting (BSkyB).

É nesse mesmo espaço de atuação, livre das amarras governamentais, que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, valendo-se das brechas existentes no sistema regulatório italiano, impede a criação de emissoras de televisão comerciais de cunho nacional e, ao mesmo tempo, mantém o controle de três redes privadas de televisão. Além disso, sabe-se que o déspota possui influência também sobre o canal público de televisão RAI, pois tratou de nomear pessoas próximas a ele para atuar em cargos diretivos dentro da emissora.

Os heróis e semi-deuses

É sobre essa lógica perversa que se constroem os personagens animados. Depois, estas figuras passam a ocupar as prateleiras das lojas e supermercados tornando-se heróis, ou, em alguns casos, semi-deuses. A indústria da mídia não deixa os "consumidores" saberem de onde vem o produto, qual o contexto em que foram produzidos e com que intenções foram esteriotipados. Essa reflexão é pessoal e deve ser feita por cada um da maneira que melhor lhe convir.

No mundo das fantasias e do humor contra-revolucionário, Bart Simpson, é um herói. Jovens de todo o mundo admiram sua intransigência e veneram sua ousadia. É o mais próximo de contestar o poder que alguns se permitem chegar. É isso: sentar no sofá e apertar os botões enquanto riem das peripécias do levado personagem amarelo e sorridente. Infelizmente os verdadeiros heróis estão esquecidos, quando não viraram também mercadorias ou piadas (redundância necessária). Hoje é comum ver uma manada de estudantes desfilando com camisas estampando a imagem de Che Guevara, só para ficar em um exemplo atual.

Nessa lógica de consumos simbólicos desprovidos de intencionalidade ideológica e política, a imagem do comandante cubano vestindo a camisa de Bart, soa como algo pertinente. Afinal, os rebeldes de hoje, compram camisas com imagens de guerrilheros numa multinacional qualquer e sentam-se no sofá para ver Os Simpsons, enquanto bebem coca-cola e arrotam ignorância sobre a sua própria história.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sobre a política de aparências e a aparência da política

Esquentam-se os ânimos, está em pleno vapor a “fase quente” da corrida presidencial no Brasil. Para começo de conversa, não se pode comparar o candidato caô caô com a neo-petista keinesyana, sobretudo, em relação às políticas sociais. No entanto, ambos têm se deixado enganar por atos falhos, no mínimo, curiosos.

Durante o primeiro turno, Serra fez tudo que podia se esperar do perfeito candidato caô caô, brilhantemente narrado por Bezerra da Silva em sua antologia da campanha eleitoral. Já Dilma, tentando se desligar da imagem militante, seguiu a mesma direção dos demais candidatos, ou seja, preocupou-se mais com a aparência do que com a coerência e acabou deixando a desejar na eloqüência.

A candidata do PT foi bombardeada pela mídia liberal por ter deixado escapulir aquilo que todos sabem e fazem, mas não podem dizer. As doações oficias de qualquer partido estão registradas, porém, as “não oficiais”, o famoso caixa 2, continuam escamoteadas, servindo à máquina de produzir mercadorias políticas e não projetos para o país. Mas, a questão de fundo, que parece não estar sendo pautada nem mesmo nos debates, é outra. Afinal, quando será realizada uma reforma política no Brasil, com ampla participação da sociedade civil e tencionando verdadeiramente coibir esta e outras ardilosas maracutaias eleitoreiras?

Causa certo constrangimento, ou, pelo menos deveria, a forma ridícula com que estes temas são tratados nos veículos de comunicação brasileiros. O Estadão teve hombridade, declarou que é tucanão, ótimo. Assim, acaba-se aquele discurso patético de neutralidade. Mas o principal grupo de comunicação do país, a Rede Globo, insiste em agir sorrateiramente. Deve ser a influência histórica do golpismo e a falta de ética induzindo a conduta de suas produções midiáticas. Acontece que hoje o Jornal Nacional deixou de ser unanimidade, pois, a internet, replicando as produções das mídias comerciais concorrentes e, por determinação conjuntural, governistas, consegue fazer oposição às manipulações da líder de audiências.

O Zé do povo se atrapalhou feio e o Jornal Nacional “não viu. Sua fala foi vexatória, “eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque sou a favor, ou melhor, eu nunca disse que sou a favor, até porque sou contra o aborto, alguns até me chamam de atrasado”, declarou o tucano. Quando Ministro da Saúde, durante a era das privatarias no Governo FHC, o Zé caô foi duramente criticado por setores conservadores da igreja católica, após assinar uma lei permitindo a prática do aborto. Agora ele se coloca frontalmente em outra posição, tudo para fazer o que chama de uma “aliança ampla e democrática” com todos os setores importantes da sociedade. Leia-se todos os setores mais conservadores da sociedade.

Não vou entrar no mérito desta discussão, por que a minha posição é bem clara. Embora a prática do aborto constitua em si mesma um crime, da forma como está sendo tratado este assunto no Brasil, encobre-se uma triste realidade. Milhares de mulheres morrem vítimas de abortos clandestinos e falta uma política de saúde pública capaz de não só evitar esses absurdos, como também conscientizar a população das medidas preventivas capazes de evitar estes atos desesperados e inconseqüentes.

Se de um lado o candidato caô ameaça minar o pouco que esse país avançou no sentido de diminuir as desigualdades sociais e corrigir os crimes cometidos à custa de muito trabalho escravo e sangue indígena, do outro, vejo com ceticismo uma perspectiva de mudança política radical no Brasil. Falo de atitudes capazes de romper de vez com a prática neoliberal e, da mesma forma, se opor aos interesses dos latifundiários, banqueiros e empresários corruptos, todos aliados às multinacionais e ao capital financeiro que circula livremente em nosso país, espalhando miséria e degradação humana. O pior é que muitas destas corporações continuam contribuindo fidedignamente com as “doações não oficiais”, esse é o aspecto “pueril” e maquiado da política nacional.

*Volto a escrever no blog por estar engasgado com essa situação e motivado pelos ventos que sopram desde La Higuera, atravessando o coração de todos que se comprometeram em manter viva a primavera. Hasta Siempre Comandante!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

TV dos Trabalhadores: entre conquistas e desafios

O dia 23 de agosto de 2010 ficará na memória dos trabalhadores da região de São Bernardo e Diadema. Mais do que conquistar a concessão de um canal educativo no município de Mogi das Cruzes, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC tem a oportunidade de pôr em prática uma nova forma de se comunicar com a sociedade. Na década de 1980, a TV dos Trabalhadores (TVT) atuava como produtora de vídeos e registrava os acontecimentos mais importantes da luta sindical pela redemocratização do país. De lá para cá muita coisa mudou. Um dos principais líderes da entidade, Luís Inácio Lula da Silva, chegou à Presidência da República e, de certa forma, essa mudança no cenário político acabou propiciando a obtenção da outorga junto ao Governo Federal.

A antiga política de concessões

A conquista do canal deve ser saudada, afinal, foram mais de duas décadas de pressão junto aos governos de turno e muitas negativas. No entanto, essa discussão passa, necessariamente, pelo atual formato de distribuição de outorgas, tanto de canais de televisão, quanto de emissoras de rádio, o qual está completamente defasado. A legislação que rege a radiodifusão no Brasil ainda remete ao Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT), de 1962. Cinco anos mais tarde, durante a ditadura militar, o Decreto de Lei nº 236 passava a definir em seu art. 13 que a televisão educativa deveria se destinar apenas à divulgação de programas educacionais, ou seja, transmissão de aulas, conferências, palestras e debates, bem diferente do que se verifica hoje e dos propósitos de comunicação pública contemporânea.

Bem ao gosto dos déspotas de plantão, as limitações desse formato imposto aos canais educativos viabilizariam o controle do conteúdo veiculado e afastariam o fantasma da disputa de publicidade entre as emissoras público-estatais e as concessionárias públicas, atuantes sob o paradigma comercial. Contudo, não demorou para o governo perceber o ótimo negócio que estaria fazendo ao permitir, direta ou indiretamente, o patrocínio de programas transmitidos em canais ditos educativos. Foi assim que, em 1986, através da Lei Sarney, autorizou-se o incentivo fiscal para produções audiovisuais oriundas de canais educativos. Posteriormente essa determinação legal foi revogada, mas, em 1991, a Lei Rouanet terminou por restabelecê-la e aprimorá-la, pois a nova política de incentivos fiscais abriu definitivamente o espaço para as empresas privadas nos canais educativos. Assim, pessoas jurídicas receberam o amparo legal para aplicar uma parte do seu Imposto de Renda (IR) em ações culturais.

Diante disso, cabe refletir sobre o que diferencia, na prática, as emissoras educativas das comerciais. Talvez a proposta de produção de conteúdos e a política de comunicação da TVT possam ajudar a responder essa questão. A idéia da emissora é instigante e provocadora. Pela primeira vez na história da comunicação sindical brasileira, evidencia-se que uma experiência midiática pode concretizar-se em um espaço de luta atualizado ao contexto comunicacional e político vivido. Entende-se que um projeto de comunicação sindical deve estar comprometido com objetivos públicos, o que passa por controle e gestão democrática, com repercussão sobre a programação e o abrigo da diversidade, ainda que a tendência tradicional seja de um modelo unidirecional e fechado, reproduzindo o sistema hegemônico.

Programação e interatividade

Além de contar com produção própria de aproximadamente uma hora e meia de programação diária, a TVT está atenta às demandas da convergência digital e retransmite seus conteúdos, em tempo real, via internet. Programas voltados ao direito do consumidor, previdência social, tributação de impostos, saúde do trabalhador, meio ambiente, inclusão digital, redes sociais, enfim, todos os temas da agenda atual de discussões a nível local e global, estão sendo incorporados neste primeiro momento. Pensando em incentivar a participação da comunidade, a TVT pretende, ainda, disponibilizar câmeras de vídeo aos movimentos sociais, distribuindo os aparelhos na base dos metalúrgicos do ABC, para que, assim, os trabalhadores possam ajudar na construção das reportagens. Seguindo nessa direção, as redes sociais também estão sendo pensadas como espaços de interação com os telespectadores; por isso, foram criados perfis no Orkut, Faceboock e Twitter.

De início, são sete programas, priorizando o conteúdo jornalístico e o acervo da emissora. Seu Jornal, Memória e Contexto, Bom para Todos, Clique Ligue, Melhor e Mais Justo, ABCD Maior em Revista e Boa Gente compõem a programação própria da TVT. Para completar a grade foi estabelecida uma parceria com a TV Brasil, canal público-estatal ligado à Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A internet aparece neste cenário como principal aliada na divulgação dos conteúdos produzidos pela TV dos Trabalhadores, sobretudo na obtenção de um público telespectador mais crítico. Sabe-se que apostar nas novas mídias como um espaço de diálogo com a comunidade não é nenhum diferencial em relação à mídia hegemônica, contudo, a participação do público e sua potencial capacidade de tornar-se co-arquiteto das produções audiovisuais configuram-se como alternativa ao modelo de comunicação atual, incluindo-se nesse bojo as próprias emissoras educativas.

Portanto, é indiscutível o protagonismo da TVT enquanto canal de televisão alternativo e, quiçá, contra-hegêmonico. Disputa que não pode se reduzir na forma de conceber o conteúdo audiovisual, ou seja, na administração das técnicas de produção e, até mesmo, distribuição dos programas. O potencial transformador dessa nova manifestação midiática pode, e deve, manifestar-se na perspectiva da organização sindical de abrir espaço para a participação da comunidade. A parceria com canais públicos, o olhar para as novas tecnologias e a aproximação com a base da categoria dão pistas de que, enfim, o movimento sindical também está assumindo a responsabilidade pela democratização da comunicação no Brasil, em seu plano prático. Um exemplo a ser seguido e acompanhado com solidariedade e disposição para seu avanço, por parte da Academia e de toda a sociedade brasileira.

Texto originalmente publicado no site Observatório da Imprensa

sábado, 21 de agosto de 2010

O contexto histórico da atuação sindical e a convergência midiática

A máxima proclamada por Karl Marx e Friedrich Engels no Manifesto do Partido Comunista, em 1948, na qual convocavam os trabalhadores de todo o mundo para que aproximassem suas lutas e enfrentassem os donos do capital, acabou sendo ironicamente apropriada pelos barões da mídia. Ao invés do proletariado de todo mundo unir-se, quem se fortaleceu e, de certa forma, unificou-se incentivando o avanço das novas tecnologias, foram as grandes empresas ligadas ao ramo das comunicações.

Neste cenário, cada vez mais absorto em fetichismos tecnológicos e disputas de audiência, volta-se o olhar para a atuação sindical e o papel estratégico que estas organizações têm ao desafiar o poder estabelecido, agindo, principalmente, no âmbito comunicacional. Tarefa nada fácil, ainda mais se levando em conta que a existência do sindicalismo no Brasil é fortemente marcada pelo controle estatal.

Em 1930, o então presidente Getúlio Vargas toma uma série de medidas para atrelar as organizações sindicais ao Estado. Paralelo a criação do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio passa a vigorar o Decreto-Lei n° 19.770, com o objetivo de regular a sindicalização das classes patronais e operárias, controlando a criação e a atuação destas entidades. Ainda neste Governo cria-se a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) a qual, ao aglutinar toda legislação trabalhista, passa a regulamentar as relações que se estabelecem entre patrões e empregados, restringindo a livre associação sindical. Este entulho autoritário do Estado Novo só é rechaçado com a Constituição Federal de 1988, que determina em seu artigo 37, inciso VI ser “garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical”.

Antes disso, durante a ditadura de 1964, as organizações sindicais protagonizaram um importante movimento de contestação ao Governo Militar. As entidades classistas foram responsáveis por unir as principais lideranças políticas do país que eram contrárias ao regime e passaram a exigir a retomada da democracia e a participação popular nas decisões governamentais. Não obstante, esta postura combativa foi perdendo força ao longo dos anos, atingido seu ápice com a chegada de Luís Inácio Lula da Silva ao poder. A perplexidade e insatisfação de parte da sociedade brasileira frente à política neoliberal adotada pelo atual Governo não foi suficiente para motivar a principal central sindical do país a pressionar o ex-líder sindical por uma mudança de atitude. Situação que acaba se refletindo na falta de identificação de grande parte da classe trabalhadora com o movimento sindical nos dias de hoje.

Diferente das diversas publicações classistas que circularam no Brasil e foram responsáveis pela propaganda operária até o golpe militar, as atuais experiências de mídia, oriundas das organizações sindicais, mesmo estando inseridas dentro do espectro da convergência midiática, continuam deixando a desejar tanto no formato quanto no conteúdo de suas produções. A imprensa sindical que chegou a ter oito jornais diários circulando no Brasil, na década de 1940, conquistou o respeito da classe trabalhadora por que buscava aproximar-se da sua realidade. No entanto, ao seguir cegamente a linha ditada pelo Estado Soviético, a imprensa daquela época sucumbiu, pois, com o passar do tempo, nada mais dizia sobre a realidade local.

Muito mais atentos aos avanços das tecnologias de comunicação, os principais grupos econômicos multinacionais, atuando por meio dos grandes conglomerados de mídia, se beneficiaram da falta de interferência do Estado na regulação da atividade econômica e da pouca pressão exercida pelas organizações sindicais visando o controle dos grupos privados. Assim, as empresas voltadas ao setor de comunicação acabaram diversificando a oferta de produtos sem maiores restrições. A convergência permite, por exemplo, que em um mesmo pacote possam ser incluídos serviços de telefonia fixa, móvel, internet e TV a cabo. Ao ter acesso às novas tecnologias e utilizar os serviços disponíveis o trabalhador sente-se contemplado e inserido neste novo bios midiático, embora não diversifique o consumo de conteúdos.

É neste espaço que devem atuar as organizações sindicais, pois, com a convergência midiática, a classe trabalhadora passa a configurar-se também como produtora de conteúdo, deixando de ser mera consumidora de informação. Os grandes conglomerados de comunicação cada vez mais oferecem recursos midiáticos criando a ilusão de que os trabalhadores estão inseridos no universo produtivo, porque permitem que eles disponibilizem conteúdos na internet, mesmo que sejam todos muito semelhantes e, em geral, acríticos. Às organizações sindicais cabe o papel de aproximar-se dos trabalhadores, fornecendo em seus canais de comunicação espaços de verdadeira atuação política, os quais devem permitir a crítica ao Governo e, assim, renovar também o próprio movimento sindical.

Texto originalmente publicado na Revista do Instituto Humanitas da Unisinos 338, ano X, de 9 de agosto de 2010.
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domingo, 15 de agosto de 2010

Da estética do medo ao medo da estética

É cada vez mais comum a espetacularização do processo eleitoral por parte das grandes emissoras de TV no Brasil. Sob os holofotes da mídia, a arte de fazer política manifesta-se ideologicamente e perdura, de modo a adaptar-se historicamente ao contexto sócio-cultural de cada região.

Aliados a esse movimento, os responsáveis por planejar e operacionalizar as ações de marketing político elaboram estratégias que diferenciem seu candidato dos demais, dando-lhes, muitas vezes, uma credibilidade de ordem meramente performática. O estrategista de marketing substitui as instâncias partidárias.

Diante disso, a imagem do político contemporâneo tende a sobressair menos pelas propostas e pelo programa de governo e mais por sua relação com elementos midiáticos e demandas detectadas por pesquisas de mercado. Sua capacidade de apresentar uma proposta alinhada com o ideal de sociedade de uma determinada fração social é preterida, gerando a pasteurização de candidatos e partidos políticos. O público, por sua vez, não é visto como mero espectador, mas sim, como um eleitor participante, ou seja, alguém acostumado ao fascínio das produções audiovisuais, porém incapaz de assimilar seus códigos de maneira crítica, convertendo em voto a baixa interação com o candidato midiatizado.

A tática do PSDB

Ao fazer um breve exercício de reflexão das práticas eleitorais, especialmente nas últimas três décadas, percebe-se a presença da arte cênica em maior ou menor escala. Esta atuação artística não se resume à interpretação do próprio candidato, mas, sobretudo, à possibilidade de poder contracenar com atores de renome ou personalidades em evidência nos principais canais de televisão. Na medida em que artistas conhecidos se filiam a determinados projetos políticos, em geral com a mesma motivação com que fecham contrato para anunciar outros produtos, conforma-se uma manobra eleitoral, nociva à democracia.

Um caso que acabou tornando-se emblemático nesse tipo de relação ocorreu nas eleições presidenciais de 2002. Na época, a atriz Regina Duarte declarou que sentia medo do que poderia acontecer caso o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva saísse vitorioso no pleito presidencial. A fala da atriz foi transmitida durante o horário eleitoral gratuito, em defesa da candidatura do ex-governador de São Paulo José Serra, derrotado naquela ocasião e, hoje, novamente candidato à Presidência da República, sempre pelo PSDB.

É importante dizer que, mesmo com a derrota tucana nas urnas, o medo de Regina Duarte não chegou a se confirmar. O governo do presidente Lula manteve a política econômica de seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), promovendo reformas de inspiração neoliberal e nomeando economistas filiados a esta corrente de pensamento para assumirem cargos estratégicos em sua gestão. De qualquer forma, a tática utilizada pelo PSDB, vinculando a imagem de Serra a uma atriz global, historicamente conhecida como namoradinha do Brasil, não foi totalmente fracassada.

Oposição artístico-política

O medo expressado pela atriz representava a desconfiança do mercado financeiro com o ex-líder sindical. Isso repercutiu dentro da própria candidatura Lula, pois o candidato petista apressou-se em deixar claro que priorizaria o crescimento econômico, mantendo a inflação baixa, os juros altos, a oscilação cambial brusca e o aumento da dívida pública. Foi sob estes termos que Luiz Inácio Lula da Silva assinou a Carta Aberta ao Povo Brasileiro, em 2002. O alerta deu certo e guinadas fora da cartilha econômica neoliberal foram descartadas.

O fato é que, enfaticamente no Brasil, a teledramaturgia, o cinema e a música são capazes de fabricar legítimos representantes dos anseios populares, os quais são aceitos pelo público com muito mais naturalidade do que os construtos políticos poderiam fazer. Essa dinâmica é responsável por um novo fenômeno, no qual músicos, apresentadores e artistas têm ascendido a cargos públicos eleitorais com enorme facilidade, rebaixando o discurso político e desqualificando o processo democrático.

Para piorar esse quadro, percebe-se que a militância social, quando transformada em produto midiático, costuma traduzir-se em oportunismo. No ano de 2007, por exemplo, surgiu no Brasil o Movimento Cívico pelo Direito dos Brasileiros. Conhecido popularmente como Cansei,foi organizado porartistas e empresários, visando à desestabilização do governo federal. Usando como pretexto um acidente aéreo, que vitimou dezenas de pessoas, forjou-se uma espécie de oposição artístico-política, amparada na imagem de seus protagonistas. Novamente a namoradinha entrou em cena, para, lado a lado com a cantora Ivete Sangalo e a apresentadora de TV Hebe Camargo, transformar-se em ícone de tal malogro.

Atrair, e não assustar

Existe, portanto, uma clara intenção de caráter político-partidário em produzir efeitos de reconhecimento e pertença no público por parte dos agentes que estabelecem campanhas, direta ou indiretamente eleitorais, em que a presença das celebridades televisivas é o principal foco daquilo que constitui a disputa política, embora não necessariamente se apresente como tal. A empatia dos eleitores com seus ídolos permite a identificação – ideológica, mesmo que mascarada – com uma corrente de pensamento, tencionando e influenciando as decisões do eleitorado.

Não obstante, este ano, as estratégias de marquetização do PSDB apontam para uma mudança de paradigma. Ao exibir como mestre de cerimônias da pré-candidatura de José Serra a modelo e apresentadora televisiva Ana Hickman, o partido parece ter aprendido que assustar pode ser menos vantajoso do que atrair o eleitor. Sendo assim, tudo indica que o discurso receoso de Regina Duarte, característico nas campanhas anteriores, tornou-se obliterado. Do mesmo modo, apostar na simpatia do ex-governador de São Paulo seria, tampouco, prudente, já que neste quesito o presidente Lula é imbatível e sua popularidade está canalizada para a campanha de Dilma Rousseff, ainda que ela e Serra compartilhem a dificuldade de se aproximarem das formas de ser e estar do brasileiro médio.

Texto originalmente publicado no site Observatório da Imprensa, em 18/5/2010.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Então quer dizer que grilagem pode, mas ocupação não?

É impressionante a forma maniqueísta com a qual a grande mídia trata a questão fundiária no Brasil. De um lado, estão os "fazendeiros bonzinhos" e os seus milhares de hectares improdutíveis e incultiváveis. Do outro, os "camponeses malvados", que são responsáveis pela produção de mais de 70% dos alimentos consumidos internamente no país e cerca de 75% da mão de obra no campo.

Os primeiros podem invadir terras públicas e tomá-las de assalto para produzir qualquer tipo de monocultura, pois nunca haverá uma manchete nos grandes jornais, ou, uma chamada na TV, dizendo: "Terras da União são utilizadas ilegalmente pela Sucocítrico Cutrale". No entanto, é comum acompanharmos notícias depreciando os movimentos sociais toda vez que ocupam áreas como essas. A criminalização desses movimentos é antiga, mas as estratégias utilizadas pela mídia em sua intensa campanha para desmoralizar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganha, a cada dia, contornos semelhantes aos do regime militar.


Dois pesos, duas medidas

A disputa do "bem" contra o "mal" é resultado de uma profunda crise social e política. O agronegócio, tido pelos comentaristas "engraçadinhos", da mídia latifundiária, como o salvador da economia brasileira, emprega e produz menos do que a agricultura familiar. Ano passado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário divulgou que, a segurança alimentar no Brasil, é garantida pelas mãos calejadas dos trabalhadores rurais e não por um modelo que atenta contra a vida, através do uso indiscriminado de agrotóxicos.

Ainda em 2009, o site do MST cobrava esclarecimento por parte das empresas de comunicação sobre os três deputados do PSDB e um do PTB, que tiveram suas campanhas eleitorais patrocinadas pela Cutrale e foram favoráveis a instauração de uma CPI para investigar os repasses da União ao movimento. No total, 55 candidatos receberam dinheiro da multinacional para suas respectivas campanhas, deixando orgulhosa a bancada ruralista. A Cutrale tomou para si uma área estatal que corresponde a 2,7 mil hectares e, segundo o portal Fazendo Media, a empresa é investigada pelo Ministério Público de São Paulo por formação de cartel. Como se não bastasse, em várias oportunidades ela também foi autuada por causar danos ao meio ambiente, uma vez que despeja esgoto sem tratamento nos rios.

Infelizmente a discussão sobre a Reforma Agrária não passa pelos índices de produtividade dos assentamentos, nem faz referência ao modelo agrícola que melhor contribuí para o desenvolvimento e a sustentabilidade do país. Sendo assim, falar em justiça social hoje é muito pouco, tamanha a urgência desse debate. Exemplos de impunidade também não faltaram em 2009. O ano ficou marcado pelo covarde assassinato do agricultor sem-terra, Elton Brum, vitimado com um tiro nas costas durante a reintegração de posse da Fazenda Southall em São Gabriel, um dos maiores latifúndios do Rio Grande do Sul.

PNDH e os ruralistas

Ao que tudo indica o novo Plano Nacional de Desenvolvimento Humano pretende mexer nesse quadro de violência. Consta no texto que, "as liminares de reintegração de posse só tenham poder após a realização de audiência pública para analisar o caso e a função social da propriedade reivindicada". Essa atitude irrita os ruralistas já que retira o poder do judiciário para promover a imediata e, muitas vezes, violenta, reintegração de posse no local. Pelo novo plano, será preciso comprovar a função social da propriedade ocupada para que o juiz conceda a liminar de reintegração. Grifo essa expressão por dois motivos:

1) Acredito que esse também deva ser o critério para se rever as concessões das empresas de comunicação no Brasil. Atualmente elas são responsáveis pela formação de oligopólios tanto a nível regional quanto nacional, situação que acaba prejudicando o avanço da democracia em nosso país.

2) Por entender que só é possível combater as falhas do sistema judiciário se forem democratizados os espaços de discussão. As audiências públicas podem cumprir essa importante tarefa de devolver a voz a quem é constantemente calado por não ter espaço nos meios de comunicação convencionais.

Disputa política e oportunismo midiático

Com o aumento da repressão, tendo em vista a prisão de nove integrantes do MST após a ocupação da Cutrale, percebe-se que o movimento está servindo como alvo para uma disputa política e ideológica. O PT, de Lula, de Dilma e do PAC, não está afim de se indispor com as oligarquias rurais. Assim, ávido por acontecimentos políticos que desmintam as prioridades nacionais, o oligopólio da mídia defende o direito à propriedade. A Constituição de 1988 é enfática em afirmar a importância de se cumprir a função social da terra, devendo, esta, ser desapropriada caso isso não ocorra.

Embora não surpreenda a forma irresponsável com que os meios de comunicação tratam esse assunto, é de se notar uma investida maior na tentativa de criminalizar os movimentos sociais. Nos jornais de diversas regiões do país os líderes do MST são tratados como bandidos e existe uma clara tentativa em desqualificar líderes comunitários e sindicalistas. Segundo Bruno Oliveira, advogado que representa os sem-terra presos na última terça-feira (26), dois agricultores foram soltos e os outros devem ser libertados até sábado (30) . Na última quarta-feira(27) foi entregue uma carta ao presidente Lula e ao ministro Tarso Genro, na qual os militantes pedem a intervenção imediata do governo para que sejam soltos seus companheiros. Lembrando que eles foram presos de forma arbitrária, em Iaras e Borebi, interior do estado de São Paulo.

A carta diz ainda: "Caros companheiros Presidente Lula e Ministro da Justiça Tarso Genro, não podemos silenciar diante dessa afronta à luta pela reforma agrária. É hora de barrar a criminalização dos movimentos dos trabalhadores. Nossa luta pelas reivindicações e pelo socialismo é uma luta política e não aceitamos que seja tratada como caso de polícia".

Para ler a carta na íntegra é só clicar AQUI

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Somos todos humanos e venceremos o medo

Mal começou o ano de 2010 e as atenções da mídia voltaram-se, quase que exclusivamente, para dois assuntos: o terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento Humano (PNDH) e o terremoto no Haiti. Duas pautas que interessam, e muito, a grande mídia. A primeira, pelo "medo" que gera nos grandes grupos de comunicação, com a possibilidade de, enfim, haver uma maior fiscalização das empresas, partindo da sociedade civil organizada. Já a segunda, pelo uso do "medo" com a intenção de impactar a sociedade e render mais pontos no ibope aqueles que souberem explorar "melhor" o "show da vida e da morte".

Não conheço uma só pessoa que possa afirmar nunca ter sentido medo da morte, ou, que nunca sentirá. Sabe-se que este sentimento pode ser convertido em coragem ou torpor, mas, o "medo", que me refiro no primeiro caso, é diferente do segundo; embora ambos sejam usados para o mesmo fim e estejam movidos por uma inescrupulosa guerra de audiências. A Band, por exemplo, chegou ao cúmulo de utilizar o seu jornal para distorcer fatos e inventar o que chamou de "torturadores de esquerda", ou, coisa que o valha. Tudo para encobrir a verdade, se insurgindo contra a abertura dos arquivos da ditadura e defendendo a Lei da Anistia para os torturadores.

Essa mídia conservadora, que não se envergonha de ter apoiado a ditadura militar no Brasil - mesmo considerando a crise de consciência de algumas empresas de comunicação na época da censura e das torturas - está com medo que o Governo Federal faça o que já devia ter feito há muito tempo: cassar as concessões das emissoras de rádio e TV que não estejam cumprindo com o seu papel social, ou, pior ainda, estejam agindo de má fé, mentido descaradamente em defesa dos algozes do socialismo no país.

Os reacionários da mídia liberal, patrocinados por uma nova forma de fazer oposição, a"demotucanocracia", pretendem convencer a sociedade de que estão preocupados com a "censura" aos meios de comunicação. Falam em nome da "liberdade de expressão", mas sabe-se do trabalho árduo que tiveram para construir um verdadeiro monopólio da expressão no país. Como se auto-intitulam liberais convictos e se julgam democratas autênticos, acreditam existir, nos veículos de mídia comerciais, a diversidade de opiniões e o espaço para o contraditório.

Utilizam-se da retórica neoliberal, para defender a plutocracia, e, assim, manifestam todo o seu ódio pelas camadas sociais menos favorecidas. Os militantes de esquerda, chamados maldosamente de "terroristas", deveriam ser lembrados como exemplos do que o "medo" pode fazer para o bem da sociedade. A parte digna e humana do medo; uma coragem que enfrentou a dor em defesa de ideais e, por isso, é odiada, já que não pode ser reificada.

Exclusão, violência e pobreza não estão presentes somente no Haiti, fazem parte do cotidiano da maioria dos trabalhadores brasileiros. Estes, não costumam enfrentar abalos sísmicos, mas também sofrem cotidianamente com abalos morais, físicos, sociais e econômicos. Diante disso, a suposta preocupação das grandes redes de comunicação, com a "tragédia" no Haiti, soa oportunista. Não fosse o número de mortes, esse país certamente não seria lembrado. Ainda tentando se recuperar da crise política de 2004 e marcado eternamente pelo racismo, decorrente da exploração européia e da invasão norte-americana no início do século XX, o Haiti, como a maior parte dos países pobres, acaba servindo para que os países ricos demonstrem um certo altruísmo perante a opinião pública mundial, dignificando seus chefes de Estado.

Será que o PNDH estaria incomodando tanto a mídia fossem outros os tempos e o governo Lula, mesmo com todas as suas contradições, não representasse uma mudança no paradigma da política nacional? Quanto ao Haiti, não poderiam os países ricos envolverem-se numa campanha mundial, para erradicar a miséria e a pobreza do mundo, criando a Frente Mundial pela Solidariedade? É, isso pode parecer utópico, mas faz parte da superação do modelo de sociedade em que estamos habituados a viver.

O Fórum Social Mundial é um caminho. O neoliberalismo dá provas de que os "perdedores" estão se organizando para exigir os seus direitos. Para os "vencedores", um alerta: todas as questões que envolvem de uma forma ou de outra o medo, dizem respeito aos Direitos Humanos. Não tem mais como se esconder atrás de um discurso democrático para promover a miséria, a impunidade e tentar justificar a tortura. Muitos morreram em nome de uma sociedade mais justa e fraterna e, estes, jamais serão esquecidos. Cabe somente, a nós, que suas lutas não sejam em vão.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Sobre a paixão no futebol e o sensacionalismo da RBS

Não planejava escrever nada sobre o acidente que ocorreu com a delegação do Brasil de Pelotas, há exatamente um ano atrás. Como Xavante de nascença e certo de que este sentimento me acompanhará até mesmo depois da morte, caso isso seja possível, estava receoso de cair no tradicional sensacionalismo. Presente em quase todos os textos, vídeos e áudios sobre temas como esse.

No entanto, certo de que preciso fazer um registro do que sinto, acabo por despreocupar-me com possíveis equívocos que possa vir a cometer. Conversando com alguns amigos e acompanhando de perto as reportagens que falam sobre a tragédia que vitimou os jogadores Cláudio Milar e Régis Gôuvea, além do preparador de goleiros Giovani Guimarães, percebo que existem sentimentos diferentes com relação a abordagem da mídia e, também, algo que acho fundamental: o impacto produzido nos torcedores.

No site oficial do Grêmio Esportivo Brasil a mensagem é positiva. A campanha lançada pelo clube é de superação - 15 de janeiro de 2009: o dia que SUPERAMOS - já em algumas abordagens midiáticas, sobretudo nas reportagens televisivas da RBS, o sentimento ainda é de sofrimento. Claro que ainda dói, alguém duvida disso? Pois é, se dói em nós torcedores, imagina a dor da perda para os parentes dessas pessoas. Antes de serem profissionais ou ídolos, as vítimas eram filhos, irmãos, pais e amigos.

Por isso, embora não surpreenda, causa um certo incômodo assistir à reportagens onde são entrevistados o pai de Cláudio Milar, a mãe do ex-zaguerio Régis e a irmã do preparador de goleiros Giovani Guimarães. A forma como é construída a matéria supera a idéia do "espetáculo midiático", beira a irresponsabilidade. Anunciada desde o início do Jornal do Almoço como destaque da edição de hoje, a reportagem da RBS chamava a atenção para o "pai de Cláudio Milar, que rompera o silêncio um ano após o acidente"; "a esposa de Milar, ainda sem conseguir falar sobre o assunto" e, a mãe de Régis, visivelmente emocionada, dizendo: "ainda está muito difícil superar a tragédia e a saudade aumenta a cada dia".

Nós, torcedores do Brasil, preferimos a mensagem passada pela direção Xavante. No entanto, infelizmente, a visão do clube ganhou pouco destaque na emissora da familia Sirotsky. "A torcida mais alegre do estado teve um dia de tristeza...", assim anunciou-se a reportagem. A estratégia utilizada pelo principal grupo de comunicação do Rio Grande do Sul contradiz a mensagem da direção do clube. Inclusive, ao falar com o repórter, um torcedor afirma: "É hora de seguir em frente. O Brasil não é um time que tem uma torcida, é uma torcida que tem um time", o tom é de entusiasmo, de superação.

A tragédia ficou no passado. Sentimos e, com certeza, sempre sentiremos muita saudade dos profissionais que se foram. Mas nada comparado ao sentimento das famílias destes homens. Elas merecem ser respeitadas. Não é justo que o sofrimento dos familiares seja manipulado em busca de audiência. O sentimento que nutrimos por esse clube é impossível de ser explicado em poucos minutos de exposição midiática. É uma vontade de vencer mais do que partidas, uma ânsia em superar as impossibilidades criadas pelo mercado do futebol, responsável direto por condenar os clubes do interior a meros coadjuvantes dos times da capital.

Seria bom se a grande mídia desse valor ao nosso maior título: a SUPERAÇÃO. Não me refiro só a tragédia, mas a todas as dificuldades enfrentadas, constantemente, pela nação rubro-negra e demais times do interior gaúcho. No campo, continuaremos lutando para chegar no lugar que é nosso por direito. Fora dele, exigimos respeito aos que se foram, as suas famílias e à nossa paixão, que não é mercadoria para ser vendida como mais um produto da RBS.

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