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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Jogue uma bolinha de papel na televisão e lacre a saída de áudio com fita crepe!

O Jornal do Serra, digo, o Jornal Nacional (JN), veiculou uma reportagem ridícula nesta quinta-feira (21), digna de fazer crer que, além de um "papelão", o candidato tucano também estaria fazendo "fita". Alguém já ouviu falar de outra pessoa que precisou realizar uma tomografia por causa de um rolo de fita crepe lançado em sua cabeça?

Certamente a dor do tucano é outra. Ele não consegue crescer nas pesquisas, sua popularidade é infinitamente menor que a do atual presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, e, para piorar, sua mudança paradigmática de Zé caô para Zé do bem, só fez ele despencar na preferência do eleitorado, chegando cada vez mais perto de se tornar o Zé ninguém.

Sejamos francos, o JN já foi melhor em suas investidas sensacionalistas. Em defesa de seu candidato esquálido, o casal modelo, da mídia escrota, está ajudando a transformar qualquer resquício de democracia neste país em piada. Essas bizarrices, não vejo expressão melhor para definir tamanha falta de credibilidade com que estão pautando a política nacional, só faz a dita "grande mídia" conseguir mais adeptos para a campanha do "quanto pior melhor".

Tudo vira drama nas lentes das câmeras globais sedentas por um caso maniqueísta. É a trama perfeita para um dramalhão, e disso, não tem como discordar, a Globo entende bem. Acontece que ninguém mais acha Fantástico o Jornal Nacional promover o maior ti-ti-ti para defender uma caricatura da velha política nacional. Que tanto medo a Rede pró-Golpe de 1964 tem de mais um governo petista? Se não sofreram nenhum arranhão em sua hegemonia nestes oito anos, por que sofreriam agora? Isso tudo é ódio de classe?

Estão com medo das proposições aprovadas na Confecom? Da regulamentação dos meios de comunicação? A idéia de um controle social da mídia os assusta? Não basta os ministros das Comunicações que passaram pelo Governo Lula serem, todos eles, de uma forma ou de outra, identificados com a Globo e com as forças políticas responsáveis pelo golpe militar no Brasil? O plim plim está ficando cada vez mais receoso de piscar para o público. Este, agora começa a agir como se despertasse de uma hipnose, na qual, esteve imerso 45 anos. Que curioso, o mesmo número do candidato da emissora.

Já não dá mais para dizer que "a gente" se vê por aqui, pois, lá e cá, ou, em qualquer lugar, o que se vê é o império da família Marinho começar a ruir. Não estou sendo otimista demais não. Quando se deixa de eleger o seu candidato, mesmo não existindo uma oposição verdadeiramente determinada em acabar com a sua "festinha", leia-se retirar a concessão pública do canal por estar sendo mal utilizada, percebe-se uma pequena rachadura na base de sustentação dessa hegemonia.

Tempo e dinheiro para manusear as forças responsáveis pelo conserto desta estrutura os globais têm, no entanto, parece estar começando a lhes faltar o que Roberto Marinho tinha de sobra, ou seja, influência e adaptação à política de turno. As relações de poder, nestes tempos em que um ex-líder sindical é o homem mais importante do país, confrontam-se diretamente com os símbolos do passado. Nesse contexto, os ex-exilados intelectuais e hipocondríacos, metidos a querer gerenciar os programas assistencialistas, não passam de genéricos prolixos com crise de identidade e em fase de extinção.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A liberdade do capital e a escravidão simbólica

Entre o final de semana passado e o início desta semana passou a circular na internet um vídeo divulgando a criação da "nova abertura" da série Os Simpsons, de autoria do grafiteiro Banksy. Na última segunda-feira, 11 de outubro, a emissora pública do Estado britânico, British Broadcasting Corporation (BBC), publicou uma matéria falando sobre o assunto e salientou: "a ideia teria sido inspirada em supostas notícias de que os produtores da série terceirizariam a maior parte do trabalho para uma empresa na Coreia do Sul".

Embora o caso seja revoltante, a julgar apenas por essas informações, tal situação não deixa de ser apenas curiosa, pois, não espanta muito o fato da FOX, emissora de televisão norte-americana ligada à News Corporation, de Rupert Murdoch, estar explorando mão de obra barata para vender suas produções midiáticas e fortalecer um dos maiores conglomerados de mídia da Europa. Talvez só obrigando-me a fazer referência a outro célebre ditador midiático, dono do Mediaset, o qual também atua nesse continente, o magnata e neo-fascista italiano, Silvio Berlusconi.


Vídeo de Banksy com a "nova abertura" de
Os Simpsons

A série estadunidense, Os Simpsons, foi criada pelo cartunista Matt Groening e desenvolvida especialmente para a FOX, tendo como principal intúito satirizar o american way of life e entreter um público abrangente, já que recebe dublagens para o espanhol e português e circula, através dos seviços de TV por assinatura, para os mais variados lugares do globo terrestre. A crítica dos Simpsons à classe média norte-americana é válida, mas, ainda mais importante, é questionar como são elaboradas e executadas estas produções hollywoodianas e quais os intresses econômicos e políticos que estão por trás dos bens simbólicos oriundos da indústria cultural.

A forma como Murdoch e Berlusconi conseguem coagir qualquer suspiro de orientação regulatória em seus países é um alerta para a importância de se pensar em modelos de regulação pública, os quais, necessariamente, não podem estar vinculados ao controle excessivo do Estado, mas devem ser suficientemente capazes de interferir na livre atuação desses agentes, evitando que ocorram os mais absurdos e incontestáveis abusos de poder por meio do uso dos media.

Murdoch e Berlusconi

Um fato que ilustra bem essa preocupação é a ingerência que Murdoch estabeleceu ao longo dos anos, na Inglaterra, sobre os partidos conservador e trabalhista. Sabendo da força e da influência do jornal The Sun, nenhum grupo partidário ousou medir forças com o todo poderoso proprietário desta publicação. Foi, inclusive, nesta mesma direção, que o Governo Thatcher resolveu não se meter na aquisição da British Satellite Broadcasting pela Sky, empresa que já pertencia ao grupo Murdoch, originando, a partir desta fusão, a British Sky Broadcasting (BSkyB).

É nesse mesmo espaço de atuação, livre das amarras governamentais, que o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, valendo-se das brechas existentes no sistema regulatório italiano, impede a criação de emissoras de televisão comerciais de cunho nacional e, ao mesmo tempo, mantém o controle de três redes privadas de televisão. Além disso, sabe-se que o déspota possui influência também sobre o canal público de televisão RAI, pois tratou de nomear pessoas próximas a ele para atuar em cargos diretivos dentro da emissora.

Os heróis e semi-deuses

É sobre essa lógica perversa que se constroem os personagens animados. Depois, estas figuras passam a ocupar as prateleiras das lojas e supermercados tornando-se heróis, ou, em alguns casos, semi-deuses. A indústria da mídia não deixa os "consumidores" saberem de onde vem o produto, qual o contexto em que foram produzidos e com que intenções foram esteriotipados. Essa reflexão é pessoal e deve ser feita por cada um da maneira que melhor lhe convir.

No mundo das fantasias e do humor contra-revolucionário, Bart Simpson, é um herói. Jovens de todo o mundo admiram sua intransigência e veneram sua ousadia. É o mais próximo de contestar o poder que alguns se permitem chegar. É isso: sentar no sofá e apertar os botões enquanto riem das peripécias do levado personagem amarelo e sorridente. Infelizmente os verdadeiros heróis estão esquecidos, quando não viraram também mercadorias ou piadas (redundância necessária). Hoje é comum ver uma manada de estudantes desfilando com camisas estampando a imagem de Che Guevara, só para ficar em um exemplo atual.

Nessa lógica de consumos simbólicos desprovidos de intencionalidade ideológica e política, a imagem do comandante cubano vestindo a camisa de Bart, soa como algo pertinente. Afinal, os rebeldes de hoje, compram camisas com imagens de guerrilheros numa multinacional qualquer e sentam-se no sofá para ver Os Simpsons, enquanto bebem coca-cola e arrotam ignorância sobre a sua própria história.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sobre a política de aparências e a aparência da política

Esquentam-se os ânimos, está em pleno vapor a “fase quente” da corrida presidencial no Brasil. Para começo de conversa, não se pode comparar o candidato caô caô com a neo-petista keinesyana, sobretudo, em relação às políticas sociais. No entanto, ambos têm se deixado enganar por atos falhos, no mínimo, curiosos.

Durante o primeiro turno, Serra fez tudo que podia se esperar do perfeito candidato caô caô, brilhantemente narrado por Bezerra da Silva em sua antologia da campanha eleitoral. Já Dilma, tentando se desligar da imagem militante, seguiu a mesma direção dos demais candidatos, ou seja, preocupou-se mais com a aparência do que com a coerência e acabou deixando a desejar na eloqüência.

A candidata do PT foi bombardeada pela mídia liberal por ter deixado escapulir aquilo que todos sabem e fazem, mas não podem dizer. As doações oficias de qualquer partido estão registradas, porém, as “não oficiais”, o famoso caixa 2, continuam escamoteadas, servindo à máquina de produzir mercadorias políticas e não projetos para o país. Mas, a questão de fundo, que parece não estar sendo pautada nem mesmo nos debates, é outra. Afinal, quando será realizada uma reforma política no Brasil, com ampla participação da sociedade civil e tencionando verdadeiramente coibir esta e outras ardilosas maracutaias eleitoreiras?

Causa certo constrangimento, ou, pelo menos deveria, a forma ridícula com que estes temas são tratados nos veículos de comunicação brasileiros. O Estadão teve hombridade, declarou que é tucanão, ótimo. Assim, acaba-se aquele discurso patético de neutralidade. Mas o principal grupo de comunicação do país, a Rede Globo, insiste em agir sorrateiramente. Deve ser a influência histórica do golpismo e a falta de ética induzindo a conduta de suas produções midiáticas. Acontece que hoje o Jornal Nacional deixou de ser unanimidade, pois, a internet, replicando as produções das mídias comerciais concorrentes e, por determinação conjuntural, governistas, consegue fazer oposição às manipulações da líder de audiências.

O Zé do povo se atrapalhou feio e o Jornal Nacional “não viu. Sua fala foi vexatória, “eu nunca disse que sou contra o aborto, até porque sou a favor, ou melhor, eu nunca disse que sou a favor, até porque sou contra o aborto, alguns até me chamam de atrasado”, declarou o tucano. Quando Ministro da Saúde, durante a era das privatarias no Governo FHC, o Zé caô foi duramente criticado por setores conservadores da igreja católica, após assinar uma lei permitindo a prática do aborto. Agora ele se coloca frontalmente em outra posição, tudo para fazer o que chama de uma “aliança ampla e democrática” com todos os setores importantes da sociedade. Leia-se todos os setores mais conservadores da sociedade.

Não vou entrar no mérito desta discussão, por que a minha posição é bem clara. Embora a prática do aborto constitua em si mesma um crime, da forma como está sendo tratado este assunto no Brasil, encobre-se uma triste realidade. Milhares de mulheres morrem vítimas de abortos clandestinos e falta uma política de saúde pública capaz de não só evitar esses absurdos, como também conscientizar a população das medidas preventivas capazes de evitar estes atos desesperados e inconseqüentes.

Se de um lado o candidato caô ameaça minar o pouco que esse país avançou no sentido de diminuir as desigualdades sociais e corrigir os crimes cometidos à custa de muito trabalho escravo e sangue indígena, do outro, vejo com ceticismo uma perspectiva de mudança política radical no Brasil. Falo de atitudes capazes de romper de vez com a prática neoliberal e, da mesma forma, se opor aos interesses dos latifundiários, banqueiros e empresários corruptos, todos aliados às multinacionais e ao capital financeiro que circula livremente em nosso país, espalhando miséria e degradação humana. O pior é que muitas destas corporações continuam contribuindo fidedignamente com as “doações não oficiais”, esse é o aspecto “pueril” e maquiado da política nacional.

*Volto a escrever no blog por estar engasgado com essa situação e motivado pelos ventos que sopram desde La Higuera, atravessando o coração de todos que se comprometeram em manter viva a primavera. Hasta Siempre Comandante!

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