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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Outra etapa que se encerra...

Inevitavelmente estou a escrever. Desta vez, no entanto, sem a obrigação de discorrer sobre algum tema da área de conhecimento científico que escolhi como profissão. Aliás, a ideia inicial deste blog era essa. Adesão, inicialmente interpretada como forçada e, paulatinamente, identificada como voluntária, ao exílio. Exilar-se foi a maneira encontrada para falar sobre o que me viesse à cabeça; sem regras, prazos e assuntos previamente estabelecidos. O objetivo, se é que precisaria haver algum, era, única e exclusivamente, acalentar a minha dupla compulsividade: pela escrita e pela crítica.

Aliado a isso, é claro, estabelecer nexos entre o mundo material e o conhecimento teórico, originados pela militância política e pelos estudos de comunicação. Nunca tive a pretensão de fazer deste espaço um canal destinado à leituras massivas, por isso a escolha pelo nome "Exílio Midiático". No entanto, a falta de tempo para me dedicar a proposta inicial fez com que muitos dos textos, escritos no âmbito acadêmico, fossem reproduzidos neste blog. Deste modo, ao menos não o deixei atirado às moscas.

Hoje, todavia, resolvi colocar um ponto final em mais esta etapa que se encerra. Cheguei a pensar em fazer alguns desabafos, mas, para isso, existem ambientes mais propícios (e, certamente, mais lúdicos). Desde criança sinto uma imensa vontade de devorar tudo o que se coloca como inevitável em minha trajetória de vida. Tal qual dizia Neruda, "sou onívoro de sentimentos, de seres, de livros, de acontecimentos e de lutas".

Assim sendo, sempre que um ciclo é fechado - falo isso em referência ao término do curso de Mestrado em Ciências da Comunicação na Unisinos (em uma óbvia menção ao poema de Fernando Pessoa) - começam a surgir novas inquietações. É um desassossego que dificulta a sensação plena de dever cumprido e, por vezes, pode ser nocivo; fazendo-me pensar: quais seriam os motivos que me levam a ter essa dificuldade em relaxar mesmo após completar uma jornada?

Nesses momentos, uma fala muito particular, de um pensador que admiro muito, tem se interposto em meus pensamentos. Não costumava dar muita atenção a ela, mas, pouco a pouco, está conseguindo direcionar o caminho por onde começo a seguir:

"Entregue-se, sem vergonha e sem sentimentos de culpa, às delícias do ócio. Aprenda a andar sem ter de chegar a lugar algum, simplesmente gozando o mundo que nos cerca! Faça o fantástico turismo gratuito dos livros. Você irá a tempos e lugares aonde avião algum pode chegar. Há também o mundo maravilhoso da música. Lembro-me do senhor Américo, que, nos seus 85 anos, descobriu a beleza da música clássica e a ela se entregou até a morte, como se ela fosse uma amante" (Rubem Alves).

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Dois pesos e apenas uma medida

O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em 10 de dezembro de 1948 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, estabelece que “todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”. Atualmente, este direito, reconhecido por meio do exercício à livre manifestação de pensamento, não pode ser exercido sem o acesso à mídia, já que as ideias, reivindicações, identidades e posicionamentos de qualquer grupamento social só podem efetivamente produzir efeito público sendo midiatizadas.

Este direito, que é do cidadão e da sociedade, foi ressignificado pelos grandes grupos de comunicação – os mesmos que apoiaram abertamente a implantação do regime militar no Brasil e agora se revelam defensores da liberdade de expressão, logicamente desde que isso implique a proteção às suas próprias empresas. Tal posição fica explícita em toda manifestação das indústrias culturais, especialmente quando da elaboração da primeira versão do 3º Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH 3) e da realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, boicotada por grande parte dos radiodifusores, defensores da ideia de que o livre mercado é a única forma de regulamentação possível.

O próprio governo também tem procurado evocar o direito à liberdade de opinião e expressão. Infelizmente, este pseudo-reconhecimento não tem implicado a mudança da estrutura hierárquica e vertical que configura o cenário de oligopólio midiático nacional, em vigor desde a década de 1960. O que há é um temor do governo Dilma Rousseff em dar providências às propostas aprovadas na Confecom – tal qual encaminhadas ao então ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom/PR), Franklin Martins –, materializadas em políticas de comunicação tímidas, em compasso com as alianças políticas realizadas pelo PT ainda durante o governo Luz Inácio Lula da Silva.

Cinco motivos com nome e sobrenome

A escolha de Paulo Bernardo para o Ministério das Comunicações – representando, finalmente, a ocupação desta importante pasta pelo próprio PT –, na prática, não significou uma postura mais incisiva em priorizar as demandas da pluralidade de segmentos sociais que compõem a sociedade civil. Basta analisar a forma como tem sido encaminhado o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), com a mudança do foco de universalização para massificação do serviço. Assim, está se beneficiando gigantes das telecomunicações e inviabilizando que novos atores sociais tornem-se mais do que eventuais consumidores, visto que a velocidade proposta, de 1 megabyte, muito prejudica a possibilidade de prover conteúdo à rede e, desta forma, diversificar a produção de conteúdos, em direção ao alternativo.

Ao que tudo indica, Bernardo teve pelo menos cinco motivos para não levar adiante as mais de 600 propostas aprovadas pela Confecom. Tal ensejo tem nome e sobrenome: Rede Globo – família Marinho; Grupo Abril – família Civita; Grupo Folha – família Frias; Grupo Estado – família Mesquita; e Rede Brasil Sul (RBS) – família Sirotsky. Certamente a reação possível desses grupos, caso se sintam ameaçados por algum tipo de controle social de seus conteúdos, impactou decisivamente na forma como está sendo encaminhada a proposta para a criação de um novo marco regulatório da mídia eletrônica. Como resultado, o governo está focado precipuamente no desenvolvimento da iniciativa privada e no alargamento do mercado de consumo, como atestam a recente Lei Federal 12.485/2011 e o PNBL.

Questão midiática desperta interesse

Incansáveis em sua peregrinação pela democratização da mídia, representantes de movimentos sociais estiveram reunidos com Bernardo no dia 18 de outubro. Na oportunidade, foram apresentados 20 pontos de reivindicação, não obstante a pauta levantada pela Confecom seja superior e deva ser a baliza maior. Entre eles constam a criação de um Conselho Nacional de Comunicação; a participação social na mídia, com direito a responsabilizar as empresas pela veiculação de conteúdos contrários aos direitos humanos; e, ainda, a regulamentação dos sistemas privado, estatal e público. No entanto, levando em consideração a forma como o governo tem encaminhado este processo, pode-se afirmar que a jornada árdua enfrentada pelos midialivristas ainda terá muitos embates pela frente.

Será preciso muito mais do que promover consultas públicas via internet para modificar o cenário descrito. Diga-se de passagem, nem mesmo a metade da população prevista para ser contemplada pelo PNBL até o final deste ano poderá participar do debate, já que os 1.163 municípios previstos para receber o programa diminuíram para 800 ainda em maio de 2011. Como disse o sociólogo e ativista político Herbert de Souza, o Betinho, “o termômetro que mede a democracia numa sociedade é o mesmo que mede a participação dos cidadãos na comunicação”. Fenômeno que ainda não se concretizou. O dado positivo é que a questão midiática, hoje, começa a despertar o interesse dos mais distintos grupos sociais, tradicionalmente afastados desse debate.

Originalmente publicado em: Observatório da Imprensa

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Aos que virão depois de nós (Bertolt Brecht)

Sem tempo para postar, nesta reta final do mestrado, reproduzo aqui no exílio um texto do grande pensador alemão Bertolt Brecht. Suas palavras possuem o dom de me provocar já faz algum tempo. Em 2008 escrevi um post em sua homenagem, época em que passei a ter contato com alguns de seus escritos. Abaixo um recado aos que não conseguem deixar de se indignar diante das injustiças sociais.

Aos que virão depois de nós

Por Bertolt Brecht

Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.

Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência. (Tradução de Manuel Bandeira)

Ilustração: Os Retirantes - Cândido Portinari.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Uma televisão de classe

Ainda é muito recente, mas não deixa de representar um importante avanço no árduo caminho pela democratização da comunicação no Brasil. Há pouco mais de um ano, no dia 23 de agosto de 2010, entrou no ar a TV dos Trabalhadores (TVT), antiga produtora de vídeos do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Criada para registrar a trajetória de luta dos operários do ABC, sobretudo durante o período de redemocratização do país, a TVT precisou esperar mais de duas décadas para obter a autorização do governo e passar a operar um veículo de mídia. Situação bem diferente das milhares de concessões destinadas a políticos conservadores e igrejas neo-pentecostais, durante este mesmo período.

A luta é antiga
Em 1987, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - então deputado federal e principal liderança sindical do ABC - chefiou uma comitiva designada para dialogar com Antônio Carlos Magalhães (ACM), ministro das Comunicações do Governo Sarney. Este último, diga-se de passagem, um dos principais recordistas em distribuir outorgas para aliados políticos, talvez comparado apenas a Fernando Henrique Cardoso, que repetiu a dose anos mais tarde visando sua reeleição. Como se pode imaginar, os metalúrgicos tiveram seu pedido negado pela dupla ACM e Sarney. Mesmo assim, continuaram sonhando com a consolidação de um projeto robusto na área da comunicação, o qual, desde o início, incluía uma emissora de televisão voltada aos interesses da classe trabalhadora.

Tal projeto só tornou-se possível graças aos recursos oriundos do Fundo de Greve. A experiência de reorganização do movimento sindical - a partir das mobilizações ocorridas no triênio 78/79/80 - contribuiu não apenas para a sustentação da famosa greve dos 41 dias, como deu frutos na área da comunicação alternativa. Em 1991, criou-se a Fundação Sociedade Comunicação, Cultura e Trabalho, que tem como órgão instituidor e mantenedor o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Esta entidade emplacou um aporte de R$ 15 milhões de reais como prova de que poderia manter o projeto e, ainda, capacitou a TVT aos critérios técnicos e jurídicos exigidos pelo Ministério das Comunicações, no sentido de legalizar a emissora. Hoje, a TVT está operando em sinal aberto apenas na frequência do canal 46 - UHF, em Mogi das Cruzes, mas a parceria estabelecida com a Associação dos Canais Comunitários do Estado de São Paulo (Acesp) e a compra de espaço para retransmissão de conteúdo na Nova Geradora de Televisão (Rede NGT) possibilitam que a programação chegue a onze estados brasileiros.

Programação
A grade de programação da TVT conta com uma hora e meia de produção própria por dia, sendo o restante complementado pela TV Brasil. O carro-chefe é o Seu Jornal, programa que vai ao ar de segunda a sexta, das 19h às 19h30, e, no qual, entre os colaboradores, estão figuras como o ex-ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, atual comentarista político, e o correspondente internacional Flávio Aguiar, antigo editor-chefe da Agência Carta Maior. Outros cinco programas complementam a grade de programação dos metalúrgicos. São eles: Memória e Contexto, Melhor e Mais Justo, Clique e Ligue, ABCD em Revista e Bom para Todos. Cada um possui suas especificidades, mas, de forma geral, apresentam documentários, debates, reportagens, entrevistas e, recentemente, foi preparado, também, um programa de humor. Todos os programas são abertos à participação do público, por intermédio do site www.tvt.org.br. No portal também é possível acompanhar a programação em tempo real, ou acessar vídeos específicos, já que os programas ficam disponíveis para futuras visualizações.

Neste mesmo espaço virtual, o internauta tem acesso às produções colaborativas. São audiovisuais enviados por operários de chão de fábrica, lideranças comunitárias e movimentos sociais, sendo veiculados durante o telejornal da emissora. Cabe destacar que, em 2010, foram distribuídas câmeras digitais e celulares com tecnologia de captação de imagens para a base da categoria e, também, para diversos segmentos sociais excluídos do foco seletivo da chamada "grande mídia". Esta medida incentiva os trabalhadores a produzirem conteúdo, resultando muitas vezes em produções contra-hegemônicas; com destaque para a visão diferenciada de quem, antes, estava acostumado a ver suas demandas criminalizadas pela mídia da classe patronal e, hoje, torna-se protagonista da sua própria história.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Estereótipo e debilidade do humor televisivo

O estereótipo permanece a matéria-prima do humor na televisão brasileira, mesmo que algumas experimentações tentem construir situações mais inteligentes e respeitosas à diversidade. Há mudanças de roupagem e reelaborações, mas o resultado final continua o mesmo: ofender para entreter. A abundância de humorísticos na TV de hoje não representa necessariamente variedade de formatos e conteúdo. Piadas homofóbicas e misóginas continuam prevalecendo e, ao serem requentadas na caçarola pós-moderna do jornalismo cômico, atingem níveis de crueldade infelizmente compatíveis com os de audiência, revelando a debilidade dos produtores da mídia privada em inovar correndo algum tipo de risco.

O caso que mais tem chamado a atenção ultimamente é o do humorístico Custe O Que Custar (CQC), veiculado toda segunda-feira pela Band, a partir de formato original da produtora argentina Eyeworks – Cuatro Cabezas, realizado em diferentes países do mundo desde a década de 90. Um dos apresentadores do programa, Rafinha Bastos, já foi, inclusive, acionado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP), onde está sendo investigado por incitação ao crime de estupro. A ação foi motivada por uma declaração do humorista em seu show de comédia stand-up, onde ele teria dito que “toda mulher que” reclama por ter sido “estuprada é feia”; merecendo “um abraço”, e não cadeia, o homem que cometeu tal ato.

Rafinha é formado em jornalismo no Rio Grande do Sul e, antes de ingressar na Band, como um dos integrantes do CQC, trabalhou em outras emissoras televisivas, inclusive com passagem pela TVE gaúcha. No entanto, sua formação acadêmica e profissional não foram suficientes para impedi-lo de utilizar a mesma postura dos shows de stand-up em um canal de televisão cuja concessão é pública. Em maio deste ano, após se envolver em uma polêmica com a blogueira Lola Aronovich, o líder do CQC Marcelo Tas o defendeu publicamente, ameaçando processá-la por dirigir críticas generalizadas em repúdio à bancada do programa.

Concessão pública não é palco de circo

Neste caso, as declarações de Rafinha ocorreram durante o CQC 3.0, uma espécie de extensão do programa televisivo, transmitido via internet após o término do humorístico da Band. O apresentador debochou da prática de aleitamento materno em locais públicos, direcionando este ato para o apelo sexual em torno da imagem feminina. Na última semana de setembro, ao comentar a gravidez da cantora Wanessa Camargo, Rafinha teria declarado que “comeria até o bebê”, gerando repúdio generalizado. Cabe lembrar que apologia à pedofilia, violência contra a mulher e tantas outras incitações criminosas são passíveis de punição penal.

Contudo, a última “pérola” do jornalista metido a engraçadinho não passou impune pela cúpula da emissora da família Saad. A direção da Band decidiu tirá-lo do CQC, em meio ao debate de sempre, em que qualquer reação a iniciativas preconceituosas são tachadas de censura, como se a sociedade não tivesse o direito de reagir ao ultraje, intencionalmente confundindo ações com interesse público e outras com objetivos privados, contribuindo para a falta de esclarecimento da população. O episódio como um todo deve levar a pensar o uso que as emissoras de TV fazem da concessão pública que recebem.

Anteriormente, em agosto do mesmo ano, durante o quadro “Top Five”, que elege as cinco principais gafes da TV brasileira, Bastos havia chamado Daniele Albuquerque, esposa do dono da RedeTV!, Almicare Dallevo, de cadela, enquanto a achincalhava por não conseguir pronunciar corretamente a palavra “octógono”, durante entrevista realizada com o lutador Vitor Belfort. Rafinha chegou ao ponto de dizer que, se fosse ele, “teria dado uma cotovelada na apresentadora”. Na semana seguinte, desculpou-se em rede nacional, tendo suas escusas aceitas por Albuquerque, antes de reincidir no preconceito e no desrespeito.

Alternativa e produção popular

Não obstante, o sexismo e o preconceito são uma constante no humor da TV brasileira, como atestam Zorra Total, da Rede Globo, e A Praça é Nossa, do SBT. No caso do Zorra Total, também contribui fortemente para a naturalização de crimes como abuso sexual e homofobia. Têm destaque no programa quadros em que homossexuais são ridicularizados e mulheres sofrem abuso em vagões de um trem. A rotina do trabalhador brasileiro exige muito sacrifício e para as mulheres é ainda pior. Muitas vezes, além da dupla jornada de trabalho, elas são submetidas ao assédio sexual no caminho de ida e de volta do serviço.

Essa realidade certamente poderia ser retratada por outro viés. Não apenas separando o que é cômico do que é matéria jornalística, mas, sobretudo, denunciando a violação dos direitos humanos e procurando salientar o verdadeiro humor proveniente do mundo do trabalho. Se toda piada inevitavelmente ofendesse alguém e qualquer medida visando ao seu controle fosse uma forma de censura, conforme argumentou Rafinha em defesa própria, seria interessante satirizar também os proprietários dos meios de produção; ou ainda os jornalistas soberbos, que acreditam ser independentes e não passam de marionetes do poder econômico, considerando a quantidade de merchandising presente em programas como o CQC.

Como uma luz no fim do túnel, opondo-se à lógica das “brincadeiras de mau gosto”, uma iniciativa criada através de parceria entre a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAV/Minc) e a TV dos Trabalhadores (TVT) apresenta-se como alternativa. O projeto Qual é a Graça?, em desenvolvimento desde agosto de 2011, para veiculação até o final do ano, objetiva criar uma atração com oito episódios focando o humor presente no dia-a-dia do povo brasileiro. Para chegar à formulação do programa, um conjunto de ações está sendo desenvolvida, chamado Na batalha, reunindo diretores de teatro, cineastas, palhaços e atores independentes. São, em suma, seminários e oficinas de roteiro e atuação, os quais ocorrem também em ambiente online, através do site www.nabatalha.com.br.

Uma nova proposta de humor

Em agosto de 2010, a TVT, parceira na concepção desta experimentação audiovisual, passou a operar o canal educativo 46-UHF, na cidade paulista de Mogi das Cruzes. Atualmente, através de parcerias com canais comunitários e, sobretudo, por intermédio do endereço eletrônico www.tvt.org.br, é possível acompanhá-la em qualquer parte do país e do mundo. Das suas seis produções próprias (o restante do horário opera em rede com a TV Brasil), o noticiário Seu Jornal destaca-se pelo viés crítico e participativo. Por meio do jornalismo colaborativo, lideranças comunitárias, operários de chão de fábrica e militantes de movimentos sociais veiculam suas realizações, apresentando suas bandeiras de luta.

A emissora, intitulada “dos trabalhadores”, pertence ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. A trajetória dos operários do ABC e o protagonismo na apropriação das tecnologias de áudio e vídeo são emblemáticos na história do movimento social brasileiro e remontam aos anos 80, época em que a experiência de vídeo popular fez erigir o conceito de contra-informação. Se esta proposta for levada também ao campo do humor, poderá se inverter mais do que apenas o foco da piada, pois, ao denunciar a realidade do trabalhador brasileiro sem perder a graça, pode-se fazer erigir uma nova proposta cômica, onde o humor deixa de ser agressivo e torna-se construtivo, ou ainda, propositivo.

Originalmente publicado em: Observatório da Imprensa

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Record abre mais um atrito no mercado oligopólico de comunicação

Reproduzo texto do companheiro Anderson Santos, no qual dou uma pequena contribuição.

Por Anderson Santos & Eduardo Menezes

Todos sabem que por conta da concorrência no mercado televisivo a Rede Record tem sérias e públicas desavenças com a Rede Globo de Televisão; que, por conta da parceria das Organizações Globo com o Grupo Folha da Manhã na gerência do Valor Econômico, a emissora também não deixa sem resposta críticas da Folha de S. Paulo. No último dia 11 foi a vez da Revista Veja entrar na lista.

Por duas semanas, a Coluna Radar.com trouxe informações sobre problemas internos na Rede Record, inclusive, com suposta ameaça de greve dos funcionários por falta de pagamento. Algo inimaginável por se tratar de um grupo de comunicação que, desde que foi resgatado de uma crise nos anos 90 ao ser adquirido pelo mesmo grupo da IURD, conta com recursos extra-midiáticos para se manter, pouco importando na prática que a Globo ainda continue com mais da metade do bolo publicitário.

O proprietário da histórica emissora utilizou o “Domingo Espetacular” do dia 11 deste mês para responder às acusações da revista. Como já fizeram com outros desafetos – casos da própria Rede Globo e, de forma mais recente e mais frequente, com o presidente da CBF, Ricardo Teixeira –, o tom foi pesado, com direito a denúncias jamais contadas em TV aberta. A matéria começou denunciando as relações do Grupo Abril com o grupo de mídia sul-africano Naspers, que teria apoiado o apartheid na África do Sul. Este tem 30% das ações da empresa brasileira, que teriam sido adquiridos num momento de crise do grupo brasileiro.

Após chamar cada empregado da equipe de reportagem e perguntar quando receberam o salário atrasado, repetindo uma fórmula parecida dos cultos televisivos, o bispo da IURD sugeriu que a revista poderia mentir mais vezes: “Eu fico pensando quantas outras mentiras eles devem veicular nessa revista”. Segundo Macedo, as denúncias, de uma revista que ele quase não lembrou o nome, viriam num momento “importante” para a TV brasileira, em que outra emissora transmitirá os Jogos Pan-Americanos. Além disso, a saída de alguns atores para a Globo seria algo “natural” num mercado em concorrência: “Se nós estivéssemos em crise, você acha que responderíamos desta forma [publicamente] a essa revista?”

Sobre a disputa em si, lembramos que enquanto a Record se posiciona favorável aos governos petistas, seja do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou da atual presidenta Dilma Rousseff, a Revista Veja se coloca como o meio de comunicação mais crítico a ele. Uma clara divergência de posicionamento político, mesmo que provisório e não de classe.

No caso da Record, a aproximação com o governo de turno não passa de estratégia comercial. A presença de repórteres ex-globais na emissora emergente contribui para travestir as disputas no mercado. O embate editorial não representa nenhuma ruptura com a essência conservadora e a adesão aos princípios liberais. Nesta empreitada em busca de atingir o topo, figuras conhecidas do “jornalismo global” como como Paulo Henrique Amorim, Luiz Carlos Azenha e Rodrigo Vianna são fundamentais para marcar o contraponto – que é também virtual – aos articulistas da Rede Globo e da Revista Veja.

O consenso ideológico da chamada “grande mídia brasileira”, muitas vezes recorrendo a mentiras para atacar adversários políticos, tem colocado em xeque a credibilidade do principal telejornal e da revista de maior tiragem no país. A Record sabe disso e, empenhada em credenciar-se perante a audiência, busca por parceiros que, na atual conjuntura política, possam ajudá-la a atingir seu objetivo.

Se a líder é anti-petista, mesmo incorrendo em um erro estratégico devido à enorme aceitabilidade do último governo, nada mais coerente do que explorar esta brecha. Diferente do que faz a Rede Globo, a emissora da IURD não impede seus jornalistas de manterem blogs próprios sem hospedarem-se sob o domínio da própria empresa. Assim, os ex-globais ficam livres para tecerem críticas aos ex-chefes.

Obviamente as contestações à família Marinho são muito bem-vindas pelo atual empregador. A revista dos Civita entra na disputa Globo X Record por estar afinada com os interesses político-comerciais da líder, sendo os principais articulistas desta publicação muito próximos das forças políticas responsáveis pelo acordo com a Time-Life.

Mas o pior é que a disputa em questão tende a ficar ainda mais acirrada após a aprovação da Lei Federal 12.485 – antigo PLC 116. A nova legislação do serviço de TV por assinatura abre o mercado para as empresas de telecomunicações e, segundo reportagem publicada no jornal Folha de S. Paulo, a Record supostamente pretenderia fechar um acordo com a Oi na busca por disputar mercado com o portal G1 através do IG, em que cederia vídeos.

Cabe lembrar também a proximidade do governo petista com a Portugal Telecom, que rendeu a aquisição de aproximadamente 25% de participação na antiga operadora brasileira, a qual deveria ser um “gigante nacional” após a fusão Brasil Telecom/Oi. Isso está se intensificando e atinge também o mercado editorial. Principalmente através das articulações do ex-ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, cuja esposa é Diretora de Marketing do jornal Brasil Econômico, periódico pertencente à Ejesa, na qual a portuguesa Ongoing – que tem 10% da Portugal Telecom – tem 30% de participação.

Como é difícil definir quem fala mais a verdade, Record ou Veja – afinal, jornalismo-verdade, ilusoriamente objetivo, só ocorre em lema de emissora de TV –, o importante em mais um racha na classe dominante dos meios de comunicação do Brasil é que só nesses momentos algumas denúncias sobre os proprietários destes meios são difundidos de forma massiva.

Pensar as relações de negócios em âmbito político-econômico é uma premissa necessária para entender a falsa polarização encabeçada pelos principais grupos de comunicação brasileiros. Se, por um lado, os empresários se mexem, de outro, o governo procura aproveitar a nova configuração de disputa no mercado midiático para obter maior inserção discursiva junto à sociedade. Com isso, segue faltando o de sempre: espaços expressivos para o protagonismo dos movimentos sociais, com o investimento pesado em canais essencialmente públicos.

Originalmente publicado em: Estratégia & Análise

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Os interesses sociais continuam fora do ar

Enfim foi instituída a Lei Federal 12.485. A antiga PL-29, que ao passar pelo Senado transformou-se em PLC-116, enfrentou um árduo caminho até ser sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Contudo, ao contrário do que pretende fazer crer a chamada “grande mídia”, esta legislação faz mais do que apenas determinar novas regras para o sistema de TV por assinatura. Na prática, amplia o mercado das comunicações ao capital internacional, promovendo a polarização da disputa política por espaços de atuação junto à sociedade.

Sem mais delongas, permita o leitor que se comece pelo que há de bom nessa história. Em sintonia com as reivindicações apresentadas durante a 1º Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a nova lei estipula cotas de três horas e meia para a produção de conteúdo nacional, inclusive em canais estrangeiros. Deste modo, ao mesmo tempo em que abre o mercado de TV paga às operadoras de telefonia fixa, impõe regras que visam fomentar o audiovisual independente.

Além disso, foram asseguradas conquistas obtidas na década de 1990, durante a criação da Lei do Cabo. De acordo com o artigo 32 da referida Lei, as prestadoras de serviço devem disponibilizar, em todos os pacotes ofertados, canais de interesse público. Neste bojo, encontram-se as emissoras dos poderes legislativo, executivo e judiciário – que possuem programação de excelente qualidade – e, ainda, os canais comunitários e educativos. No caso destes últimos, embora nem sempre apresentem conteúdos coerentes com as suas atribuições específicas, continuam sendo locais de constante disputa na concretização da diversidade cultural e pluralidade informativa.

Os grandes beneficiados pelas alterações legislativas são agentes econômicos com forte poder de lobby junto ao Congresso, Senado e Governo Federal. Em relação aos aspectos tributários, por exemplo, ao entrarem no mercado de TV por assinatura as teles passam a se beneficiar com a redução de pagamento ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), mas, em contrapartida, são oneradas com a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), como ocorre com toda distribuidora de conteúdo. É desta última, inclusive, que provém o fomento para a produção nacional.

Cabe ressaltar que as adequações burocráticas não visam atender apenas aos interesses dos grupos de mídia estrangeiros. Não é de hoje que o governo de turno procura fazer oposição aos principais conglomerados de mídia que atuam no país. A entrada de parceiros estratégicos no mercado audiovisual pode ajudar nesse sentido e, de certa forma, tal processo é legítimo. Principalmente se considerarmos a existência de um monopólio discursivo, originado pelo formato oligopólico do setor, sem regulamentação adequada por parte do Estado. No entanto, a proximidade do governo com a Portugal Telecom, processo que teve início ainda no ano passado com a aquisição de aproximadamente 20% da Oi, começa a polarizar a disputa político-midiática sem promover o efetivo protagonismo de segmentos sociais excluídos pelos meios de comunicação dominantes.

Nessa direção, atenta-se para a ligação do ex-ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, com grupos de mídia portugueses. A aprovação da Lei 12.485 incentiva a concorrência, bem ao gosto do neoliberalismo. Sendo assim, esta articulação não é apenas comercial, mas, sobretudo, política. A esposa de Dirceu, Evanise Santos, é Diretora do Departamento de Marketing do jornal Brasil Econômico, publicação que pertence à Empresa Jornalística Econômico S.A (Ejesa), a qual, além do periódico em questão, mantém os jornais O Dia, Meia Hora e Marca Campeão. A acionista majoritária da Ejesa, dona de 70% de participação, é a brasileira Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos. O restante das ações pertence à Ongoing, grupo português cujo presidente é o seu marido, Nuno Vasconcellos. Por incrível que pareça, a extensão do casamento para o campo dos negócios não ultrapassa os marcos legais. Em casos como esse a legislação brasileira permite 30% de participação estrangeira, mas nada fala sobre as brechas deixadas para tais “aquisições conjugais”.

Considerando o cenário atual, é estarrecedor perceber que, em última análise, o governo esta reduzindo a luta pela democratização da comunicação a um embate político-partidário. A disposição é, tão somente, obter maior influência nos grupos de mídia nacionais para combater as empresas de comunicação anti-petistas, sejam elas declaradas ou não. Os principais conglomerados brasileiros, muitos deles responsáveis por apoiar o golpe militar de 1964, seguem emplacando matérias anti-democráticas e torcendo o nariz para qualquer possibilidade de criação de um novo marco regulatório. Enquanto isso, equivocadamente, o governo tenta erigir um flanco de batalha que opera sob a lógica liberal, historicamente incorporada pelos meios de comunicação dominantes. Para que a regulamentação também não siga por este caminho - e, infelizmente, tudo indica que já caminha nessa direção - será preciso maior disposição em trazer para o debate setores da sociedade constantemente criminalizados pela “grande mídia”. Caso contrário, estará se condenando o cidadão a mero consumidor. Suas principais decisões ficarão restritas a escolha pela operadora que oferece a “convergência de serviços mais em conta”, ou ainda, como declarou a presidenta Dilma recentemente, a “seletividade de conteúdos permitida pelo uso do controle remoto”.

Originalmente publicado em: IMA - Estudos Políticos

sábado, 10 de setembro de 2011

Periscópio da Mídia do dia 8 de setembro de 2011: mídia, futebol e política

O cerco se fecha. Após conceder uma entrevista polêmica à jornalista Daniela Pinheiro da revista piauí, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi alvo de uma série de protestos na rodada de clássicos do Campeonato Brasileiro. Sua atual, e inegável, impopularidade acabou sendo ironizada pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter, em recente matéria publicada no Estadão. A 17º edição do Grito dos excluídos, dentre outras coisas, marchou em defesa de comunidades carentes submetidas à política de “higienização” que está em curso no Brasil, visando “adequar” o país para receber o maior evento de futebol do planeta.

No programa Periscópio da Mídia, da última quinta-feira, dia 8 de setembro, o estudante de jornalismo Dijair Brilhantes e o jornalista Eduardo Menezes retomaram discussões que cercam os bastidores do futebol, alertando para a íntima relação entre eventos de grande apelo popular e o acobertamento das injustiças sociais.

Escândalos de corrupção, favorecimento na promoção do sorteio preliminar das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014 à empresa de marketing ligada às Organizações Globo e a possibilidade de veto da meia-entrada para os jogos são apenas alguns dos pontos abordados. Na contramão desse processo, em Fortaleza, comunidades que estão sendo despejadas em função das obras da Copa participam de um projeto de produção audiovisual que visa denunciar tais abusos. Caso por caso os acontecimentos são discutidos durante a primeira parte do programa.

No último bloco do Periscópio, os componentes do Cepos destacaram pontos importantes do manifesto organizado pela Sociedade Latino-Americana de Economia Política e Pensamento Crítico (SEPLA). Na carta publicada no site do Grito dos Excluídos denuncia-se a política hegemônica neodesenvolvimentista e suas conseqüências. Nessa direção os apresentadores procuraram retomar o pensamento crítico latino-americano, base epistemológica da Economia Política da Comunicação, para problematizar a realidade brasileira, sobretudo em se tratando da crise capitalista e seu reflexo, inclusive, no futebol. Ouça e divulgue o Periscópio da Mídia. Fica o convite, também, para que você ajude-nos a construir a pauta dos próximos programas. Basta enviar um e-mail para: periscopiodamidia@gmail.com ou entrar em contato pelo twitter: @periscopioradio.

Sobre o Programa

O Periscópio da Mídia é produzido e apresentado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos), cujo coordenador é o professor Valério Cruz Brittos. O Grupo Cepos está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos-RS e conta com o apoio das seguintes entidades: Capes, CNPq, Fundação Ford e FAPERGS. Cabe ressaltar, ainda, que estes apoios são obtidos através de editais públicos e não há nenhuma interferência institucional ou do coordenador do grupo na linha adotada pelo programa. A transmissão é feita pela Rádio Unisinos 103.3 FM, todas as quintas-feiras, às 20h, com reprise aos domingos, às 21h. A rádio pode ser ouvida também via internet. O endereço eletrônico é www.unisinos.br/radio. Este programa vai ao ar por rádios livres e comunitárias de todo o Brasil.

Baixe, ouça e distribua livremente o Periscópio da Mídia acessando o link:

sábado, 3 de setembro de 2011

Periscópio da Mídia: a indústria da comunicação social de cabeça para baixo

Confesso que ainda enfrento algumas dificuldades em utilizar certas ferramentas de compartilhamento de arquivos na internet. Este blog, por exemplo, já passou por algumas revisões de conteúdo, atingindo, creio eu, grau satisfatório nas correções propostas. No entanto, quando o assunto é reformular aspectos técnicos, mais especificamente o layout da página, as dificuldades encontradas são tremendas e, por falta de tempo, acabo por deixar como está. Desde o ano passado, quando ingressei no mestrado em Ciências da Comunicação na Unisinos-RS, aceitei o convite de ajudar na condução de um programa radiofônico, cujo principal objetivo é desvendar a caixa preta da indústria da comunicação social.

O Periscópio da Mídia vai ao ar todas quintas-feiras, às 20h, pela Rádio Unisinos 103.3 FM. Além de ser veiculado pela emissora da universidade, o programa circula por rádios livres e comunitárias de todo o Brasil. Até a semana passada eu vinha distribuindo o áudio do programa pela minha conta pessoal no facebook, mas o site de compartilhamento de arquivos 4shared.com não está mais conectado a essa rede social. Vou procurar, na medida do possível, disponibilizar o link para escutar o programa aqui no Exílio Midiático. Lembro, ainda, que o portal Estratégia e Análise, do companheiro Bruno Lima Rocha, também responsável pela produção e apresentação do programa, já faz isso toda semana. Anderson Santos, outro companheiro de estúdio, também costuma fazer a divulgação dos assuntos tratados em cada nova edição enviando, através de listas de e-mail, o resumo com o link do programa à entidades e militantes que lutam pela democratização da comunicação no país.

Abaixo apresento uma síntese que fiz sobre o conteúdo da última edição

Periscópio da Mídia do dia 1º de setembro de 2011: da PLC 116 ao autoritarismo das forças repressoras em defesa de interesses pessoais e de mercado

Pode até mudar de nome, se arrastar na Câmara dos Deputados até chegar ao Senado e, sobretudo, manter os interesses do capital privado inabalados durante todo esse percurso, deixando apenas migalhas de conteúdo nacional como contrapartida às entidades que lutam contra a desnacionalização do setor brasileiro de comunicações, o fato é que, o PLC 116, antigo PL 29, está sendo acompanhado de perto pelo Periscópio da Mídia. Cada novo passo deste projeto de lei é discutido sob o viés crítico da Economia Política da Comunicação, procurando alertar os ouvintes sobre os possíveis desdobramentos da sanção presidencial, que está por vir.

No programa "Periscópio da Mídia - a indústria da comunicação social de cabeça para baixo" desta quinta-feira, dia 1º de setembro, esteve em discussão, mais uma vez, os pontos polêmicos que cercam a sanção do PL 116. A aprovação do projeto está por vias de se concretizar, no entanto, alguns pontos são tidos como inconstitucionais pela oposição e cabe a presidenta Dilma Roussef vetá-los ou não.

Além de dar atenção especial às atribuições do Poder executivo, no que tange a aprovação da PL 116, os jornalistas Bruno Lima Rocha e Eduardo Menezes, acompanhados do estudante de jornalismo Dijair Brilhantes, trataram de abordar outro tema recorrente nos debates promovidos pelos militantes da comunicação alternativa. Trata-se da liberdade de expressão, enfatizando suas novas tonificações a partir dos protestos massivos que irrompem o pacato ciclo de relacionamentos das redes sociais para denunciar abusos de poder e promover levantes populares, a exemplo do que aconteceu durante a Primavera Árabe e, também, em parte da Europa.

Como de costume, a segunda pauta do programa se estendeu para o bloco final. Assim, foi colocado em debate o assassinato de um sem-teto em São Francisco, Estados Unidos, que levou as autoridades locais a inabilitarem o serviço de telefonia celular dentro da estação Centro Cívico, espaço onde ocorreu o incidente e, dias depois, aconteceram protestos massivos. Os apresentadores do Periscópio deixaram a discussão correr livremente, sem prender-se ao roteiro, e acabaram fazendo relações que perpassam tanto o mundo digital, quanto a vida real. No caso específico do sem-teto de São Francisco, o abuso de autoridade mereceu um hashtag no Twitter, em alusão a uma atitude semelhante adotada pelo ex-ditador egípcio, Hosni Mubarak. Mas como fica o direito à livre manifestação quando os fantoches do braço armado de todo poder político enfrentam uma grave crise de bipolaridade? Precisam se posicionar enquanto classe trabalhadora, mas possuem, no âmago de sua atividade profissional, a intransigência, a falta de diálogo e subserviência ao governo de turno, seja ele qual for. Ouça a última edição do Periscópio da Mídia e reflita sobre isso. Fica o convite, também, para que ajude-nos a construir a pauta dos próximos programas enviando um e-mail para periscopiodamidia@gmail.com, ou entrando em contato pelo twitter: @periscopioradio.

Institucional

O Periscópio da Mídia é produzido e apresentado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos), cujo coordenador é o professor Valério Cruz Brittos. O Grupo Cepos está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos-RS e conta com o apoio das seguintes entidades, mediante a aprovação de editais públicos: Capes, CNPq, Fundação Ford e FAPERGS. Cabe ressaltar, ainda, que não há nenhuma interferência da instituição ou do coordenador do grupo na linha editorial do programa, sendo este de inteira responsabilidade dos seus idealizadores.

Baixe, ouça e distribua livremente o Periscópio da Mídia acessando o link: http://www.4shared.com/audio/iBpbXOhb/24_-_Periscpio_da_Mdia_0109201.html

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Anistia para os comunicadores populares

Na última quarta-feira, 24 de agosto, a Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária do Rio Grande do Sul (Abraço-RS) realizou um protesto em frente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O objetivo da manifestação foi marcar os 15 anos de luta do movimento de rádio comunitária e pedir o fim da perseguição aos comunicadores populares de todo o estado. Na parte da tarde, o Plenarinho da Assembléia Legislativa do RS recebeu a presença de parlamentares e lideranças da Abraço para discutir, junto aos comunicadores, a pauta de reivindicações que foi encaminhada, horas mais tarde, ao governador Tarso Genro e à secretária de Comunicação e Inclusão Digital, Vera Spolidoro.

A resolução das questões apresentadas é de ordem prática. Os discursos entusiasmados, proferidos por políticos da base governista, ratificando o óbvio, não são mais suficientemente capazes de acalentar os anseios da militância. Entre as reivindicações, ressalta-se a necessidade de financiamento público, sem considerar os 20% de repasse das publicidades do governo, que também deveriam ser direcionados às emissoras comunitárias. Além disso, é preciso rever a potência dos transmissores, hoje muito baixa. Apenas 25 watts, com alcance de 1 km. Outro ponto a ser destacado é a liberdade de escolha da frequência em que as rádios operam ou devem operar. A Lei 9.612/98, sancionada durante o famigerado governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC), estabelece apenas um canal de transmissão para todas as rádios comunitárias do Brasil. Essa medida tem contribuído para gerar o caos entre os comunicadores, distribuindo multas a torto e a direito.

Esses são apenas alguns dos pontos a serem resolvidos e já dão uma ideia do atoleiro político-burocrático em que a comunicação comunitária está metida. No seminário realizado na tarde da última quarta-feira, o deputado federal Dionilso Marcon (PT), acompanhado dos deputados estaduais Jefferson Fernandes (PT) e Edegar Pretto (PT), enfatizou a importância do fortalecimento da mídia alternativa. Ao citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marcon reconheceu que, “se os comunicadores não ficarem no pé dos parlamentares, estes correm o risco de achar que está tudo numa boa”.

Segundo ele, a dificuldade em viabilizar recursos às rádios comunitárias, no formato de apoio cultural, se estabeleceu a partir da negociação entre a Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão (Agert) e o Ministério das Comunicações. Para Marcon, cabe ao movimento de radiodifusão comunitária aumentar a pressão junto aos políticos que são partidários de suas bandeiras de luta, evitando, assim, essa tomada de decisão por parte do governo.

De fato, se for feito um balanço do governo Lula será um tanto quanto desalentador para o movimento de radiodifusão comunitária. Entre 1995 e 2007 mais de três mil emissoras de rádio e canais de televisão comerciais tiveram suas multas perdoadas. Por outro lado, cerca de R$ 100 milhões de reais em equipamentos utilizados por rádios comunitárias, de todo o país, foram confiscados. Hoje, em torno de 20 mil comunicadores populares estão respondendo a inquéritos ou processos na Justiça Federal. Entre eles está o coordenador executivo da Abraço-RS, Clementino Lopes, condenado a dois anos e seis meses de prisão. Neste momento, aguardando recurso.

De acordo com Lopes, "se faz necessário não apenas anistiar os comunicadores que estão sendo criminalizados, como, também, deve ocorrer o mesmo em relação às multas aplicadas pela fiscalização da Anatel e pelo Ministério das Comunicações, em função do uso de apoios culturais". Durante a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom ), ocorrida em dezembro de 2009, foi aprovada uma resolução anistiando os radiodifusores, porém, até agora, nenhuma lei foi sancionada pelo governo.

Erros que precisam ser corrigidos, pois, em busca da liberdade de expressão, muitas emissoras populares ficam reféns dos governos de turno, ou, ainda, de párias da oposição. Com isso, as emissoras acabam servindo de curral eleitoral, quando, na verdade, deveriam prestar serviços à comunidade, sem adotar conotação político-partidária em suas transmissões. É fundamental que a comunicação alternativa reafirme sua posição ideológica, historicamente em defesa daqueles que não têm vez, nem voz, nos canais de comunicação da grande mídia. Para isso, é preciso ter autonomia tanto na gestão, quanto na produção de conteúdos.

Originalmente publicado em: Blog da RádioCom 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pedro e os Lobos - divulgação

É com muito prazer que divulgo, aqui no Exílio Midiático, a obra "Pedro e os Lobos: os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano", de autoria do jornalista João Roberto Laque. Recebi um e-mail do autor falando sobre a dificuldade na divulgação de materiais como esse. Confesso que ainda não realizei a leitura, mas já está feita a encomenda. Inclusive, para adquirir este verdadeiro documento histórico é muito simples: basta acessar o o blog http://www.pedroeoslobos.blogspot.com/. Também é possível efetivar a compra via Estante Virtual. Clicando aqui você será redirecionado para a página onde consta a lista dos sebos com estoque do livro. Em breve postarei minhas impressões sobre o conteúdo. Logo abaixo, reproduzo material onde é feita a apresentação da obra.


OS 80 ANOS DUM HERÓI DE CARNE E OSSO

Por João Roberto Laque

Pedro Lobo de Oliveira acaba de fazer 80 anos e ainda permanece ignorado pela historiografia oficial. Diferente de muitos dos nossos heróis de feriado ou estátuas esquecidas em praças públicas, Pedro tem um histórico de luta pela causa do povo onde não faltam coragem, abnegação e cheiro de pólvora. Odiado pelos milicos por sua bravura e obstinação, Pedro foi um dos mais aguerridos combatentes na luta contra os militares que se aboletaram no poder no último dia de março de 1964. Entre suas ações estão expropriações de bancos, ataque a quartéis e a execução, a tiros, do capitão norte-americano Charles Rodney Chandler.

Preso no início de 1969 quando camuflava um caminhão com as cores do Exército para um ousado plano de ataque ao 4º Regimento de Infantaria, na cidade paulista de Osasco, o companheiro de Carlos Lamarca na Vanguarda Popular Revolucionária, e de Dilma Rousseff na VAR-P, será barbaramente torturado até ser banido do país na troca por um embaixador alemão. Depois de passar pela Argélia, fazer treinamento militar em Cuba e escapar da morte no golpe que derrubou Salvador Allende do governo chileno, Pedro acabará se fixando na antiga Alemanha Oriental, atrás do que o Ocidente costumava chamar de Cortina de Ferro. Com a anistia, o ex-sargento volta ao Brasil e é reintegrado a Polícia Militar como se sua vida encerrasse um caprichoso ciclo. Sobrevivente duma guerra sem regras, esse herói de carne e osso acaba de ganhar uma biografia – o livro Pedro e os Lobos – Os Anos de Chumbo na trajetória de um guerrilheiro urbano e começa a ter sua vida retratada em filme.

Legenda foto 1: Capa do livro
Legenda foto 2: Pedro Lobo autografa sua biografia no antigo prédio do DOPS paulista onde hoje funciona o Memorial da Resistência

Conheça um pouco mais da fascinante história dum brasileiro de vida ímpar:
Acesse www.pedroeoslobos.blogspot.com
Clique www.laque.blospot.com
Fale com o autor: joao@pedroeoslobos.com

sábado, 20 de agosto de 2011

Perder para se achar

Levantou um pouco mais tarde do que de costume. Acordou com a sensação de que havia perdido alguma coisa. Na noite anterior, mesmo sem lembrar detalhes, foi acometido por algo muito grave. Mas já estava atrasado e não havia tempo para procurar pelo objeto de sua aflição. Na certa, ao fazer o caminho de sempre rumo ao trabalho, lembraria o que estava procurando.

Dirigindo-se até o carro sentiu uma vontade súbita de ir para o serviço utilizando outra condução. Não chegaria mais no horário mesmo e, aquela altura, o trânsito já deveria estar um caos. Fazia sempre o mesmo trajeto. Quando saltou do ônibus, se encontrava próximo à estação de trem. De repente, avistou um grupo de índios sentados na calçada. Eles estavam do outro lado da rua. Tocavam flautas e vendiam artesanato. Sentiu uma imensa vontade de aproximar-se. Foi o que fez. Caminhou até lá e, ao dar as costas à estação, ouviu o barulho dos vagões passando sobre os trilhos.

Estava realmente encrencado. Já passavam duas horas do horário previsto para chegar ao trabalho. Mesmo assim só conseguia pensar na beleza do som que lhe invadia o ser. Chegou perto de um dos nativos e perguntou há quanto tempo estavam ali. A resposta lhe surpreendeu:

- Estivemos sempre aqui. Mesmo antes desta selva de pedras se erguer ao nosso redor.

Achou tudo muito estranho. Nunca havia reparado no ambiente que o cercava ao passar por aquele local. Menos ainda na música, nos sorrisos e nos olhares solidários perdidos em meio à correria do dia a dia. Percebeu que se aproximava da meia hora da tarde e resolveu seguir viagem. Prometeu aos índios voltar para ouvi-los novamente. Entrou no túnel rumo à estação de trem e se deparou com um velho senhor sentado próximo as escadas. O pedinte esticava o braço em busca de esmolas, mas as pessoas pareciam não vê-lo. Sentiu-se indignado ao deduzir que elas estariam acostumadas com a presença do pobre ancião e, portanto, não se sentiam instigadas a prestar solidariedade. Sentou-se ao lado daquele homem castigado pelo tempo e ouviu a frase dita exaustivamente:

- O senhor pode me ajudar? Qualquer coisa serve.

Enfiou as mãos no bolso e percebeu que estava com pouco dinheiro. Na verdade, tinha apenas R$ 3,00 reais, sendo R$ 1,00 real em moedas. Entregou a cédula de R$ 2,00 reais ao velho pedinte, recebendo como retribuição um sorriso sincero. Ficaram conversando por um bom tempo. Descobriu que aquele homem nem sempre esteve em condição tão ingrata. Havia constituido família, trabalhado e chegou a ser dono de um pequeno estabelecimento comercial no centro da cidade. A morte das filhas e da esposa, em um acidente de trânsito, acabou o empurrando ladeira abaixo. Vieram as bebedeiras e, quando menos esperava, já havia perdido tudo.

Estava envolvido na conversa quando ouviu alguém dizer que já passava da uma hora da tarde. Apalpou os bolsos da calça e percebeu ter esquecido o celular. Ficou inquieto. Sabia que, desde ontem à noite, havia perdido alguma coisa, mas não conseguia lembrar o que era. Agradeceu ao novo amigo pela conversa e seguiu em direção ao trabalho. Estranhou sua própria tranqüilidade, pois, ao contrário das outras vezes - quando se atrasava menos de quinze minutos - não se sentia desconfortável. Ao embarcar no trem recostou-se ao assento e observou à sua volta. Nunca havia feito isso. Viu pessoas como ele. Elas, ao contrário, pareciam ver nele uma pessoa diferente.

Por isso, apenas sorriu e acenou com a cabeça, de forma cordial. Alguns riram, outros não ousaram encará-lo, muitos dormiam e nem perceberam sua presença, e, a maioria, parecia acostumada com pessoas de todo tipo. Ao parar na segunda estação, um menino, de no máximo 12 anos, entrou no trem e começou a discursar:

- Olá senhoras e senhores, me chamo Júlio, estou aqui pedindo a colaboração de vocês porque estou desempregado e minha família está passando fome. Qualquer ajuda é bem-vinda.

A maioria nem percebeu a presença do garoto. Muitos pareciam acostumados com este tipo de situação e deram de ombros. Vasculhou nos bolsos. Ainda tinha R$ 1,00 (em moedas). Resolveu entregar ao menino. Não ficou refletindo sobre o uso do dinheiro. Apenas reconheceu que, em sua posse, tampouco seria mais útil. Novamente a retribuição foi um sorriso, dessa vez, no entanto, acompanhado de um “muito obrigado”.

Desceu na estação mais próxima ao serviço, já passava das duas da tarde. Lembrou que seus colegas de trabalho deveriam estar voltando do almoço. Não sentiu fome. Percebeu a presença de uma moça na estação onde descera. Ela usava roupas curtas e insinuava-se para todos os homens que passavam. Quando cruzou com ela, apenas sorriu. Foi convidado para ir até a praça do outro lado da rua e dar uma “rapidinha”.

Continuou sorrindo, mas, em uma fração de segundos, passou a encará-la com olhar fraternal. Recebeu uma cara de espanto como resposta. Ela virou-lhe as costas, mas ele insistiu que gostaria de conversar. A moça cedeu aos seus apelos. Durante o bate papo descobriu que ela tinha dois filhos e morava embaixo da marquise de um prédio não muito longe. A prostituição, para ela, ao contrário de muitas de suas amigas, não era bem uma opção. Sentiu-se constrangido por estar em uma situação muito mais confortável. Tinha casa, saúde, emprego, enquanto sua interlocutora, de no máximo 15 anos, já era mãe de dois filhos e esperava um terceiro.

Ficou sabendo que ela não tinha o que comer desde ontem à noite. Nesse momento, recordou, “havia perdido algo” no dia anterior. Num lapso de instante a menina levantou-se e disse que precisava ir andando. Ela chorou bastante enquanto conversavam, mas já se aproximava das cinco horas da tarde e precisava dar de mamar ao filho menor. Só então ele recordou que estava indo em direção ao trabalho. O local onde desempenhava sua rotina laboral era próximo da estação. Rumou até lá e, no caminho, viu crianças brincando, acariciou um cachorro que passava, parou por uns instantes na frente de uma bela estátua, não sabia bem qual era o nome do santo, mas, pouco importava, admirou a beleza da encantadora escultura. Dizem que chegou até a falar com ela.

Quando chegou ao prédio da empresa cumprimentou o porteiro. Este último correu em sua direção. Meio sem fôlego e com um aspecto sério lhe disse:

- O que aconteceu? Desde ontem ninguém consegue falar com você. Seu chefe está uma fera. Por que não voltas para casa? Amanhã diga que estava doente e apresente um atestado. Caso contrário, na certa, serás demitido.

Agradeceu, é claro, a preocupação do amigo, mas resolveu subir até a sala apertada que dividia com mais três colegas. Enquanto subia a escada passou por cada um deles e todos tentaram impedir o encontro com o chefe. Agradeceu, novamente, mas seguiu seu rumo. Quando ficou frente a frente com o homem furioso que estava a sua espera, percebeu semelhanças entre os dois. O homem esbravejando em seus ouvidos era igual a ele, igual a todos os outros encontrados pelo caminho, embora, no serviço, fosse reconhecido como uma entidade “superior”. Não ouviu uma só palavra das ofensas proferidas em tom de indignação, apenas sorriu e disse:

- Lembrei!

- Lembrou? Como assim? Lembrou o quê? Você está demitido – retrucou o chefe zangado.

- Tentei ligar para você o dia todo. Não deu justificativa nenhuma de sua ausência e não atendeu as chamadas no celular – continuou a esbravejar o patrão em sua cólera diante do funcionário.

-Não tem problema. Eu lembrei - disse ele ao abraçar seu carrasco.

-Me solte e saia já daqui! Você está demitido! Entendeu? Demitido! Parece ter perdido a sanidade. Que horror – vociferou novamente o seu “superior”.

-Sim. Foi isso mesmo. Ontem à noite eu perdi a sanidade e hoje a única coisa que ainda me atormentava era não saber o que tinha perdido. Agora já sei e posso seguir meu caminho.

- É. Siga sim. O seu caminho é o caminho da rua - retrucou o outro cheio de ódio.

-Claro, por isso estou tão feliz. Eu já não suportava mais ficar aqui dentro. Nem lembrava como é a vida fora desta sala. Precisava sair. Vou embora com a consciência tranqüila, pois estava prestes a enlouquecer!

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*Alguns dos poemas, contos e crônicas que escrevi no passado e outros mais recentes, como este, podem ser encontrados no site Recanto das Letras. Caso tenha interesse em continuar a leitura, clique neste link.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dia do$ Pai$

O último domingo marcou mais uma data vergonhosa, imposta aos trabalhadores brasileiros pelo calendário consumista da ideologia norte-americana. Segundo a Serasa Experian, houve um acréscimo de 8,8% nas vendas - em relação ao mesmo período do ano passado - durante a semana que antecedeu o dia 14 de agosto, data correspondente à comemoração do Dia do$ Pai$, agendada anualmente para o segundo domingo deste mês. Mas o que mais impressiona é a falta de bom senso da maior parte das pessoas, já em idade adulta, quando se aproximam tais “datas comemorativas”. Infelizmente, mercantilizar o amor, o afeto e o carinho já são práticas naturalizadas, seja em relação a pais, mães, filhos ou cônjuges.

Desde quando é possível valorar sentimentos por meio da troca simbólica de produtos, na maioria dos casos, dispensáveis? A questão é pertinente e precisa ser discutida. Não raras às vezes, famílias com renda insuficiente para suprir necessidades básicas de subsistência se veem submersas na lógica consumista que baliza as relações afetivas. O convencimento se dá de várias maneiras, mas, sem sombra de dúvidas, o jogo sujo das campanhas publicitárias aliado às “reportagens festivas” das megacorporações midiáticas, contribui significativamente para fortalecer as regras nefastas do sistema capitalista.

Chega a ser infame. Você ama? Dê um presente. Não tem dinheiro? Dá um jeito. Faz um empréstimo. Compra nem que seja uma “lembrancinha”, mas não deixa de gastar “algum”. O importante é consumir. Não dá para comprar “aquele presente”? Então, que seja uma meia, uma gravata, um lenço, uma carteira. Qualquer coisa. O mercado precisa lucrar. Empresários, dos mais variados ramos, estão afoitos para faturar e, ao trabalhador, cabe o papel de protagonista deste processo degradante.

Origem ideológica

Levando em conta a suposta “origem” do chamado Dia do$ Pai$ é claramente perceptível o tamanho da babaquice. No âmbito escolar chega a ser traumatizante. Quem nunca foi obrigado a participar de uma homenagem do Dia do$ Pai$ quando era criança? Lembro de colegas que não conheciam seus genitores, muitos nunca haviam sequer trocado uma só palavra com eles. Outros mal sabiam se estavam vivos, mas, mesmo assim, eram constrangidos pelos professores sendo obrigados a participar das “comemorações”. A solução encontrada para suprir essa ausência era fazer uma “dedicatória” ao padastro, avô, tio ou outro parente próximo qualquer. A lenga lenga contada nas salas de aula é referendada em portais da internet dedicados ao fornecimento de cartões virtuais. É só procurar. Não faltam explicações sobre o porquê de se induzir as pessoas a gastarem dinheiro em datas como essa.

O discurso dominante, reproduzido em escolas e meios de comunicação, vai contar a história de um tal de Elmesu, que viveu há mais de 4 mil anos na Babilônia e esculpiu uma estátua dedicada ao seu progenitor. Recordo-me dessa história sendo exaustivamente narrada nos tempos de colégio. A maior parte dos estudantes ficava pensando o que isso tinha a ver com a sua realidade. Diga-se de passagem, eram crianças afoitas em agradar seus pais. Queriam fazê-los orgulhosos. Contudo, como já disse, além dessas, havia as que não os conheciam ou, simplesmente, os odiavam. Não cabe aqui destacar o porquê da repulsa de cada um dos meninos e meninas. Os motivos eram muitos e, garanto, justificáveis. Ficavam se perguntando por que deveriam “esculpir” um desenho em homenagem a um ser que consideravam desprezível.

Imposição cultural

A tolice que representa a comemoração do Dia do$ Pai$, e qualquer outra similar, só toma ares de seriedade quando se explicita a imposição dos valores dominantes através da expropriação do dinheiro suado da classe trabalhadora. Motivo pelo qual esta “data festiva” foi sumariamente importada dos Estados Unidos para ser incorporada ao calendário tupiniquim. Reza a lenda que, no início do século XX, a filha de um ex-soldado norte-americano, que lutou na Guerra da Secessão - conhecida também por Guerra Civil (entre 1861 e 1865), quis homenageá-lo, pois teria, este homem, criado a ela e seus cinco irmãos sozinho, após ficar viúvo. Façanha realizada por milhares de pais, mães, irmãos e tantos outros que nem laços familiares possuem para com crianças de todo o mundo.

No entanto, o “homenageado” não era apenas "um bom pai". Era um veterano de guerra. William Jackson Smart, pai de Sonora Smart Dodd e outras cinco crianças, lutou ao lado das forças do Norte durante a Guerra Civil. Após o combate, alistou-se ao Grande Exército da República, organização destinada a acolher soldados dispensados da chamada União. As tropas deste grupo, formadas por 23 estados, eram defensoras do rápido desenvolvimento industrial, cuja mão de obra e as condições para o crescimento econômico, alicerçadas no mercado, dependiam exclusivamente do trabalho assalariado. Rechaçavam, portanto, os, não menos oportunistas, latifundiários do Sul, raivosos defensores do escravagismo. Ao contrapor a aristocracia agrária evidenciavam a necessidade do estabelecimento de barreiras protecionistas e incentivos fiscais, visando impulsionar o mercado interno. Em síntese, queriam acabar com a escravidão direta e, indiretamente, começavam a “esculpir” outro tipo de escravidão não muito longe dali, a simbólica.

Na década de 1950, como bons servos da cultura ianque, o publicitário Sylvio Bhering e o empresário Roberto Marinho, então presidente das Organizações Globo, resolveram aquecer as vendas do comércio incentivando a incorporação do Dia do$ Pai$ ao calendário de “festividades nacionais”. Na época, o jornal O Globo propunha que a adoção desta data permitiria reunir a família em torno do “chefe da casa”, ou ainda, do "líder da prole".

Hoje, enquanto muitos se acotovelam nas lojas, esbarram uns nos outros pelas ruas e trocam olhares inverossímeis ao “presentearem” seus pais, recordo-me com saudades e muito carinho do meu velho. Das muitas coisas que aprendi com ele, uma é de conhecimento de todos, mas nem sempre costuma ser lembrada. Por mais que se tente, jamais será possível mensurar ou valorar o amor.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Quem decide as políticas de comunicação no Brasil?

Durante os oito anos do governo Lula as políticas de comunicação foram, em grande parte, negligenciadas. Seja pela falta de coragem política - ao entregar a pasta das Comunicações para aliados do maior conglomerado de mídia do país, a Rede Globo - ou, ainda, por deixar para depois a discussão sobre o marco regulatório, sabendo que a lei em vigor tem origem no período prévio à instauração da ditadura militar. O fato é que, desde o princípio, o governo selou um pacto nefasto para não se interpor no caminho da iniciativa privada.

Miro Teixeira (PDT), Eunício Oliveira (PMDB), Hélio Costa (PMDB) e Arthur Filardi Leite estão, todos, de uma forma ou de outra, vinculados à emissora da família Marinho e às forças políticas responsáveis pelo golpe de 1964. São agentes que atuam nos âmbitos político e econômico, promovendo, de um lado, a marketização de projetos pessoais, e, de outro, a manutenção do status quo. Nos anos 60, Teixeira trabalhou como repórter do jornal O Dia, cujo proprietário, o udenista Chagas Freitas, era muito próximo de Roberto Marinho. Já Oliveira é um dos “notáveis” membros da bancada ruralista e, curiosamente, a política de comercialização da Rede Globo destina uma considerável parcela do seu bolo publicitário ao agronegócio.

Como se não bastasse, os dois últimos ministros de Lula sentiam-se acima da lei. Ambos se revezaram na direção da rádio Sucesso FM, em Barbacena, Minas Gerais, prática proibida pela legislação em vigor. É bom lembrar, também, que Costa foi correspondente do Voice of America, em 1968, período de forte censura e repressão no Brasil. Além disso, o ex-ministro atuou como repórter da Globo, sendo, inclusive, chefe de reportagem em Nova York e correspondente em Washington, Londres e Paris. A chegada de Paulo Bernardo ao Ministério das Comunicações parecia sugerir mudanças significativas nesse cenário. Na prática, infelizmente, isso não ocorreu. Hoje, a principal discussão sobre as políticas de comunicação está focada no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Com o programa completamente desconfigurado de sua versão original, percebe-se, novamente, o incentivo do governo à iniciativa privada, desta vez representada na figura das empresas de telecomunicações.

A adesão ao PNBL por parte das operadoras Oi - na qual a Portugal Telecom possui 22,4% de participação - e Telefônica, que lidera o ranking de reclamações do Procon, sobretudo em relação à banda larga, evidencia o modus operandi do governo de turno. Procura-se beneficiar os agentes financeiros mesmo em detrimento da qualidade do serviço prestado. Para se ter uma idéia, em 2009, o chamado “speedy” sofreu tantos protestos que, a empresa espanhola, foi obrigada a deixar de prover o acesso à internet, após advertência da Anatel. O valor estipulado para a mensalidade do PNBL, fixado em R$ 35,00 por uma velocidade de 1 Mbps, faz do “cidadão” mero consumidor. Nesse sentido, a “inclusão” - tão propalada pelo governo - até pode entrar em curso, mas, a emancipação digital, está cada vez mais longe de se concretizar.

Originalmente publicado no jornal ATENTO (agosto de 2011) da RádioCom 104.5 FM de Pelotas.

Sobre revoluções e democracias

Não faz tanto tempo assim. Certamente o leitor lembrará que, em 1968, milhares de estudantes e trabalhadores tomaram as ruas da França protagonizando um dos movimentos políticos de maior repercussão na história recente. Estava em evidência a luta pelos direitos civis. A famosa greve geral, do dia 13 de maio daquele ano, levou mais de um milhão de pessoas a organizarem-se, na base dos sindicatos e nos centros acadêmicos das universidades, para exigir mudanças radicais nas políticas conservadoras adotadas, à época, pelo general Charles de Gaulle. Hoje, as revoltas no mundo árabe e a crise econômica na Europa apontam na direção de uma mudança significativa, pelo menos a nível operacional, na forma de organizar a luta política.

Esse processo é acompanhado de perto pelos meios de comunicação, que têm papel fundamental na formatação da imagem dos personagens envolvidos no conflito e no próprio entendimento destes acontecimentos históricos por parte do público. A cobertura da chamada “grande mídia” não apenas molda o caráter das agitações populares (proliferando os chamados “eventos midiáticos”), como, também, dá-lhes novo relevo. Na década de 1960, a contracultura, representada no âmbito midiático pelo lema “sexo, drogas e rock’n roll”, repercutiu fortemente no Brasil e inspirou, por exemplo, a chamada Tropicália. O grupo de artistas que compunha esse movimento rapidamente foi absorvido pela indústria cultural e suas reivindicações – sintetizadas no princípio da igualdade entre os sexos – ficaram restritas à confrontação artístico-cultural.

Relativização do acontecimento

Embora a origem das exigências populares, na França, tenha sido determinada por questões de interesse coletivo – inclusive, motivando discussões sobre discriminação racial nos Estados Unidos e, paralelo a isso, o surgimento do movimento hippie – é importante destacar que os meios de comunicação, naquele dado momento, procuraram evidenciar certos aspectos em detrimento de outros, seguindo sua regra de ocultação e acentuação. É evidente a relevância das manifestações artísticas e a reflexão que, por vezes, permitem evocar. São experiências fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. No entanto, a ação política não pode ser suplantada e, tal feito ocorre, repetidamente, na história da publicização dos fatos. Com a atual cobertura dos conflitos internacionais é possível evidenciar, mais uma vez, esse processo. Desloca-se o núcleo de interesse das matérias para o âmbito tecnológico, deixando em segundo plano a importância da ação direta, ou seja, o embate político.

Os neo-revolucionários, formatados pela mídia hegemônica, são descritos como jovens de classe média, bem-educados e com amplo domínio de sites de relacionamento e disseminação de conteúdos, como Twitter e Facebook. Aliás, foi através destes mecanismos que, recentemente, púberes espanhóis, organizados por meio do movimento “Democracia Real Já”, conclamaram seus pares a amplificarem a luta contra as medidas tomadas pelo governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero. Embora, na Espanha (para não dizer globalmente), o neoliberalismo dê mostras de sua falência, com os cortes realizados na área social atingindo desde os trabalhadores mais jovens até os aposentados, os meios de comunicação preferem relativizar o acontecimento.

Defesa do livre mercado

Constantemente, os principais noticiários da mídia eletrônica – também brasileira – destacam o papel quase imprescindível desempenhado pelas redes sociais na organização da luta promovida pelos insurretos. Nada se fala da efetiva motivação de tais movimentos, o progressivo abandono da política do welfare State e a consequente adesão catastrófica ao modelo do Estado mínimo, própria do neoliberalismo. Para tentar contornar o déficit orçamentário, privilegiam-se banqueiros e cortam-se os benefícios da maior parte da população, mas o foco central da midiatização dos fatos recai sobre o perfil dos ativistas cibernéticos e suas ferramentas de luta.

No Egito, por ocasião dos protestos contra o governo de Muhammad Hosni Said Mubarak, o acesso móvel ao Twitter foi bloqueado. A medida foi adotada logo após o governo tomar conhecimento de que os protestos estavam sendo transmitidos para todo o mundo via internet. Essa ação serve como um bom álibi para se defender a liberdade do uso tecnológico e, progressivamente, chegar à defesa do livre mercado, pois, para a mídia dominante, quem quiser se sublevar, no atual contexto das mídias digitais, precisa fazer uso de tais instrumentos. Contudo, a legítima condenação da censura não pode ser confundida com defesa de mercado desregulamentado, sem proteção social.

Barricadas virtuais

Não se trata de desconsiderar as potencialidades da internet, especialmente porque se reconhece sua importância, com destaque para quando o uso das redes é direcionado para contribuir na organização dos movimentos sociais. Acontece que este determinismo tecnológico, resultante do fetichismo digital contemporâneo, acaba colaborando para minar antigas formas de organização popular, responsáveis por importantes mudanças no comportamento da sociedade mundial, a exemplo do que ocorreu em 1968.

A glorificação do uso das redes corrobora para a construção de um novo perfil revolucionário, o qual, antes de tudo, precisa estar apto a consumir tecnologia. É como se não fosse mais possível conformar a luta política pelos meios convencionais. Assembleias, atividades de formação, panfletagens, colagens e seus congêneres são, pouco a pouco, convertidos em práticas antiquadas. Com isso, promove-se o enfraquecimento do esforço da militância, amputa-se o verdadeiro sentido das manifestações populares e incentiva-se a construção de meras barricadas virtuais. Para a identificação do que está por trás disso tudo, basta considerar-se a eficácia deste modelo para o custeio da democracia liberal e o apoio do governo norte-americano para a sua devida concretização.

Originalmente publicado em: Observatório da Imprensa 

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