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terça-feira, 20 de setembro de 2011

Os interesses sociais continuam fora do ar

Enfim foi instituída a Lei Federal 12.485. A antiga PL-29, que ao passar pelo Senado transformou-se em PLC-116, enfrentou um árduo caminho até ser sancionada pela presidenta Dilma Rousseff. Contudo, ao contrário do que pretende fazer crer a chamada “grande mídia”, esta legislação faz mais do que apenas determinar novas regras para o sistema de TV por assinatura. Na prática, amplia o mercado das comunicações ao capital internacional, promovendo a polarização da disputa política por espaços de atuação junto à sociedade.

Sem mais delongas, permita o leitor que se comece pelo que há de bom nessa história. Em sintonia com as reivindicações apresentadas durante a 1º Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), a nova lei estipula cotas de três horas e meia para a produção de conteúdo nacional, inclusive em canais estrangeiros. Deste modo, ao mesmo tempo em que abre o mercado de TV paga às operadoras de telefonia fixa, impõe regras que visam fomentar o audiovisual independente.

Além disso, foram asseguradas conquistas obtidas na década de 1990, durante a criação da Lei do Cabo. De acordo com o artigo 32 da referida Lei, as prestadoras de serviço devem disponibilizar, em todos os pacotes ofertados, canais de interesse público. Neste bojo, encontram-se as emissoras dos poderes legislativo, executivo e judiciário – que possuem programação de excelente qualidade – e, ainda, os canais comunitários e educativos. No caso destes últimos, embora nem sempre apresentem conteúdos coerentes com as suas atribuições específicas, continuam sendo locais de constante disputa na concretização da diversidade cultural e pluralidade informativa.

Os grandes beneficiados pelas alterações legislativas são agentes econômicos com forte poder de lobby junto ao Congresso, Senado e Governo Federal. Em relação aos aspectos tributários, por exemplo, ao entrarem no mercado de TV por assinatura as teles passam a se beneficiar com a redução de pagamento ao Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), mas, em contrapartida, são oneradas com a Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), como ocorre com toda distribuidora de conteúdo. É desta última, inclusive, que provém o fomento para a produção nacional.

Cabe ressaltar que as adequações burocráticas não visam atender apenas aos interesses dos grupos de mídia estrangeiros. Não é de hoje que o governo de turno procura fazer oposição aos principais conglomerados de mídia que atuam no país. A entrada de parceiros estratégicos no mercado audiovisual pode ajudar nesse sentido e, de certa forma, tal processo é legítimo. Principalmente se considerarmos a existência de um monopólio discursivo, originado pelo formato oligopólico do setor, sem regulamentação adequada por parte do Estado. No entanto, a proximidade do governo com a Portugal Telecom, processo que teve início ainda no ano passado com a aquisição de aproximadamente 20% da Oi, começa a polarizar a disputa político-midiática sem promover o efetivo protagonismo de segmentos sociais excluídos pelos meios de comunicação dominantes.

Nessa direção, atenta-se para a ligação do ex-ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, com grupos de mídia portugueses. A aprovação da Lei 12.485 incentiva a concorrência, bem ao gosto do neoliberalismo. Sendo assim, esta articulação não é apenas comercial, mas, sobretudo, política. A esposa de Dirceu, Evanise Santos, é Diretora do Departamento de Marketing do jornal Brasil Econômico, publicação que pertence à Empresa Jornalística Econômico S.A (Ejesa), a qual, além do periódico em questão, mantém os jornais O Dia, Meia Hora e Marca Campeão. A acionista majoritária da Ejesa, dona de 70% de participação, é a brasileira Maria Alexandra Mascarenhas Vasconcellos. O restante das ações pertence à Ongoing, grupo português cujo presidente é o seu marido, Nuno Vasconcellos. Por incrível que pareça, a extensão do casamento para o campo dos negócios não ultrapassa os marcos legais. Em casos como esse a legislação brasileira permite 30% de participação estrangeira, mas nada fala sobre as brechas deixadas para tais “aquisições conjugais”.

Considerando o cenário atual, é estarrecedor perceber que, em última análise, o governo esta reduzindo a luta pela democratização da comunicação a um embate político-partidário. A disposição é, tão somente, obter maior influência nos grupos de mídia nacionais para combater as empresas de comunicação anti-petistas, sejam elas declaradas ou não. Os principais conglomerados brasileiros, muitos deles responsáveis por apoiar o golpe militar de 1964, seguem emplacando matérias anti-democráticas e torcendo o nariz para qualquer possibilidade de criação de um novo marco regulatório. Enquanto isso, equivocadamente, o governo tenta erigir um flanco de batalha que opera sob a lógica liberal, historicamente incorporada pelos meios de comunicação dominantes. Para que a regulamentação também não siga por este caminho - e, infelizmente, tudo indica que já caminha nessa direção - será preciso maior disposição em trazer para o debate setores da sociedade constantemente criminalizados pela “grande mídia”. Caso contrário, estará se condenando o cidadão a mero consumidor. Suas principais decisões ficarão restritas a escolha pela operadora que oferece a “convergência de serviços mais em conta”, ou ainda, como declarou a presidenta Dilma recentemente, a “seletividade de conteúdos permitida pelo uso do controle remoto”.

Originalmente publicado em: IMA - Estudos Políticos

sábado, 10 de setembro de 2011

Periscópio da Mídia do dia 8 de setembro de 2011: mídia, futebol e política

O cerco se fecha. Após conceder uma entrevista polêmica à jornalista Daniela Pinheiro da revista piauí, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, foi alvo de uma série de protestos na rodada de clássicos do Campeonato Brasileiro. Sua atual, e inegável, impopularidade acabou sendo ironizada pelo presidente da FIFA, Joseph Blatter, em recente matéria publicada no Estadão. A 17º edição do Grito dos excluídos, dentre outras coisas, marchou em defesa de comunidades carentes submetidas à política de “higienização” que está em curso no Brasil, visando “adequar” o país para receber o maior evento de futebol do planeta.

No programa Periscópio da Mídia, da última quinta-feira, dia 8 de setembro, o estudante de jornalismo Dijair Brilhantes e o jornalista Eduardo Menezes retomaram discussões que cercam os bastidores do futebol, alertando para a íntima relação entre eventos de grande apelo popular e o acobertamento das injustiças sociais.

Escândalos de corrupção, favorecimento na promoção do sorteio preliminar das eliminatórias da Copa do Mundo de 2014 à empresa de marketing ligada às Organizações Globo e a possibilidade de veto da meia-entrada para os jogos são apenas alguns dos pontos abordados. Na contramão desse processo, em Fortaleza, comunidades que estão sendo despejadas em função das obras da Copa participam de um projeto de produção audiovisual que visa denunciar tais abusos. Caso por caso os acontecimentos são discutidos durante a primeira parte do programa.

No último bloco do Periscópio, os componentes do Cepos destacaram pontos importantes do manifesto organizado pela Sociedade Latino-Americana de Economia Política e Pensamento Crítico (SEPLA). Na carta publicada no site do Grito dos Excluídos denuncia-se a política hegemônica neodesenvolvimentista e suas conseqüências. Nessa direção os apresentadores procuraram retomar o pensamento crítico latino-americano, base epistemológica da Economia Política da Comunicação, para problematizar a realidade brasileira, sobretudo em se tratando da crise capitalista e seu reflexo, inclusive, no futebol. Ouça e divulgue o Periscópio da Mídia. Fica o convite, também, para que você ajude-nos a construir a pauta dos próximos programas. Basta enviar um e-mail para: periscopiodamidia@gmail.com ou entrar em contato pelo twitter: @periscopioradio.

Sobre o Programa

O Periscópio da Mídia é produzido e apresentado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos), cujo coordenador é o professor Valério Cruz Brittos. O Grupo Cepos está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos-RS e conta com o apoio das seguintes entidades: Capes, CNPq, Fundação Ford e FAPERGS. Cabe ressaltar, ainda, que estes apoios são obtidos através de editais públicos e não há nenhuma interferência institucional ou do coordenador do grupo na linha adotada pelo programa. A transmissão é feita pela Rádio Unisinos 103.3 FM, todas as quintas-feiras, às 20h, com reprise aos domingos, às 21h. A rádio pode ser ouvida também via internet. O endereço eletrônico é www.unisinos.br/radio. Este programa vai ao ar por rádios livres e comunitárias de todo o Brasil.

Baixe, ouça e distribua livremente o Periscópio da Mídia acessando o link:

sábado, 3 de setembro de 2011

Periscópio da Mídia: a indústria da comunicação social de cabeça para baixo

Confesso que ainda enfrento algumas dificuldades em utilizar certas ferramentas de compartilhamento de arquivos na internet. Este blog, por exemplo, já passou por algumas revisões de conteúdo, atingindo, creio eu, grau satisfatório nas correções propostas. No entanto, quando o assunto é reformular aspectos técnicos, mais especificamente o layout da página, as dificuldades encontradas são tremendas e, por falta de tempo, acabo por deixar como está. Desde o ano passado, quando ingressei no mestrado em Ciências da Comunicação na Unisinos-RS, aceitei o convite de ajudar na condução de um programa radiofônico, cujo principal objetivo é desvendar a caixa preta da indústria da comunicação social.

O Periscópio da Mídia vai ao ar todas quintas-feiras, às 20h, pela Rádio Unisinos 103.3 FM. Além de ser veiculado pela emissora da universidade, o programa circula por rádios livres e comunitárias de todo o Brasil. Até a semana passada eu vinha distribuindo o áudio do programa pela minha conta pessoal no facebook, mas o site de compartilhamento de arquivos 4shared.com não está mais conectado a essa rede social. Vou procurar, na medida do possível, disponibilizar o link para escutar o programa aqui no Exílio Midiático. Lembro, ainda, que o portal Estratégia e Análise, do companheiro Bruno Lima Rocha, também responsável pela produção e apresentação do programa, já faz isso toda semana. Anderson Santos, outro companheiro de estúdio, também costuma fazer a divulgação dos assuntos tratados em cada nova edição enviando, através de listas de e-mail, o resumo com o link do programa à entidades e militantes que lutam pela democratização da comunicação no país.

Abaixo apresento uma síntese que fiz sobre o conteúdo da última edição

Periscópio da Mídia do dia 1º de setembro de 2011: da PLC 116 ao autoritarismo das forças repressoras em defesa de interesses pessoais e de mercado

Pode até mudar de nome, se arrastar na Câmara dos Deputados até chegar ao Senado e, sobretudo, manter os interesses do capital privado inabalados durante todo esse percurso, deixando apenas migalhas de conteúdo nacional como contrapartida às entidades que lutam contra a desnacionalização do setor brasileiro de comunicações, o fato é que, o PLC 116, antigo PL 29, está sendo acompanhado de perto pelo Periscópio da Mídia. Cada novo passo deste projeto de lei é discutido sob o viés crítico da Economia Política da Comunicação, procurando alertar os ouvintes sobre os possíveis desdobramentos da sanção presidencial, que está por vir.

No programa "Periscópio da Mídia - a indústria da comunicação social de cabeça para baixo" desta quinta-feira, dia 1º de setembro, esteve em discussão, mais uma vez, os pontos polêmicos que cercam a sanção do PL 116. A aprovação do projeto está por vias de se concretizar, no entanto, alguns pontos são tidos como inconstitucionais pela oposição e cabe a presidenta Dilma Roussef vetá-los ou não.

Além de dar atenção especial às atribuições do Poder executivo, no que tange a aprovação da PL 116, os jornalistas Bruno Lima Rocha e Eduardo Menezes, acompanhados do estudante de jornalismo Dijair Brilhantes, trataram de abordar outro tema recorrente nos debates promovidos pelos militantes da comunicação alternativa. Trata-se da liberdade de expressão, enfatizando suas novas tonificações a partir dos protestos massivos que irrompem o pacato ciclo de relacionamentos das redes sociais para denunciar abusos de poder e promover levantes populares, a exemplo do que aconteceu durante a Primavera Árabe e, também, em parte da Europa.

Como de costume, a segunda pauta do programa se estendeu para o bloco final. Assim, foi colocado em debate o assassinato de um sem-teto em São Francisco, Estados Unidos, que levou as autoridades locais a inabilitarem o serviço de telefonia celular dentro da estação Centro Cívico, espaço onde ocorreu o incidente e, dias depois, aconteceram protestos massivos. Os apresentadores do Periscópio deixaram a discussão correr livremente, sem prender-se ao roteiro, e acabaram fazendo relações que perpassam tanto o mundo digital, quanto a vida real. No caso específico do sem-teto de São Francisco, o abuso de autoridade mereceu um hashtag no Twitter, em alusão a uma atitude semelhante adotada pelo ex-ditador egípcio, Hosni Mubarak. Mas como fica o direito à livre manifestação quando os fantoches do braço armado de todo poder político enfrentam uma grave crise de bipolaridade? Precisam se posicionar enquanto classe trabalhadora, mas possuem, no âmago de sua atividade profissional, a intransigência, a falta de diálogo e subserviência ao governo de turno, seja ele qual for. Ouça a última edição do Periscópio da Mídia e reflita sobre isso. Fica o convite, também, para que ajude-nos a construir a pauta dos próximos programas enviando um e-mail para periscopiodamidia@gmail.com, ou entrando em contato pelo twitter: @periscopioradio.

Institucional

O Periscópio da Mídia é produzido e apresentado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Economia Política e Sociedade (Cepos), cujo coordenador é o professor Valério Cruz Brittos. O Grupo Cepos está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Unisinos-RS e conta com o apoio das seguintes entidades, mediante a aprovação de editais públicos: Capes, CNPq, Fundação Ford e FAPERGS. Cabe ressaltar, ainda, que não há nenhuma interferência da instituição ou do coordenador do grupo na linha editorial do programa, sendo este de inteira responsabilidade dos seus idealizadores.

Baixe, ouça e distribua livremente o Periscópio da Mídia acessando o link: http://www.4shared.com/audio/iBpbXOhb/24_-_Periscpio_da_Mdia_0109201.html

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